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Suspeito impedia que irmão abusasse das irmãs, diz mãe

Mirante que instigou as fotografias das meninas vítimas de estupro coletivo no Piauí - João Brito Jr/"O Olho"
Mirante que instigou as fotografias das meninas vítimas de estupro coletivo no Piauí Imagem: João Brito Jr/"O Olho"

Orlando Berti*

Em Castelo do Piauí

10/06/2015 15h29

Na esquina de uma das ruas sem pavimentação do bairro Reffsa, na extrema periferia de Castelo do Piauí, moram a dona de casa Joana (todos os nomes de parentes são fictícios), 35, e sua mãe, a aposentada Paula, 60, proprietária do casebre construído há mais de 30 anos. Elas são, respectivamente, mãe e avó do adolescente mais velho, acusado pelo crime que abalou o Piauí, G.V.S., 17.

A residência está, em linha reta, a menos de 500 metros do morro do Garrote (local em que ocorreu a barbárie). Da porta da casa observa-se o lugar exato em que as garotas foram violentadas.

Na rústica residência, que tem como principal eletrodoméstico uma televisão do século passado, poltronas com mais de 20 anos de uso e muita simplicidade, além da mãe, da avó e do adolescente, ainda moram mais cinco outras pessoas: duas filhas gêmeas de seis anos, um filho de nove anos, um de 12 anos e um de 19 anos, que sofre sérios problemas mentais.

Toda essa prole sobrevive do auxílio do Governo Federal, o Bolsa Família, e da aposentadoria de um salário mínimo do jovem deficiente. Vez por outra aparece na residência o marido de Joana, padrasto de G.V.S., que passa vários dias fora de casa. A dona de casa diz que o ele é alcóolatra e muito violento. Ela está grávida de três meses.

G.V.S. estudou apenas até a 6ª série, mas mal sabe ler. Sua escrita não deixa muita diferença a crianças com menos de sete anos de idade. Fazia anos que estava afastado da escola. Já tinha frequentado vários colégios da cidade. Tantas mudanças eram devido ao fato de ser considerado um aluno violento e colecionar um histórico de expulsões, tido por boa parte dos educadores de Castelo do Piauí como um “rapaz problema”.

Os parentes dizem que faz tanto tempo que ele deixou de estudar que nem se recordam mais quando foi que abandonou os estudos. Só se lembram da última expulsão, da escola Valdemar Sá, quando G.V.S. foi às vias de fato com um colega. Os dois rapazes, nas palavras da mãe, quase se mataram de tanta agressão física.

Questionada se acha que o filho tem algo a ver com o crime, Joana foi categórica em afirmar que tem dúvidas. A revelação dela, para tentar inocentar o filho, é porque o mesmo era contra o irmão, deficiente mental, tentar abusar sexualmente as irmãs mais novas. “O mais velho, que é fraco do juízo tentava sempre bolinar com as meninas e ele era muito contra isso. Como é que ia estuprar alguém se ele não permitia o irmão fazer isso com as irmãs e sempre brigava quando o irmão queria fazer alguma coisa”, questionou a mãe.

Passagens pela polícia

Joana diz que o filho tem várias passagens pela polícia, inclusive internação no CEM (Centro Educacional Masculino), em Teresina. “Ele começou com 13 anos. A ficha é grande. Perdi as contas do tanto de vez que ele foi preso. Em Teresina ele passou um mês e 45 dias preso. Ele roubou umas joias. Não andava armado”, falou. A mãe também conta que sabia que o filho era usuário de drogas. “Mas era maconha.”

Depois de novamente ser perguntada se acreditava que o filho realmente estaria ou não envolvido no caso, ela respondeu não e sim. Não (na opinião dela), devido ao fato do adolescente ser contra o irmão nas tentativas de violência sexual contra as irmãs, e sim porque no dia do crime ele estava "meio estranho" e teria voltado para casa "desconfiado".

Joana conta que em 27 de maio, como quase todos os dias, G.V.S. passou o dia sem fazer nada e “na rua”. Ela diz ter ido ao centro deixar as duas filhas menores na escola e depois aproveitou para fazer compras e esperar as meninas de volta. A mãe do menor diz ter visto o filho de novo por volta das 17h. Depois ele teria saído de casa e só retornado às 23h, drogado e desconfiado.

“Tinha muita movimentação de pessoas e de polícia na rua [nesse momento a cidade se desesperava para procurar as meninas, ainda desaparecidas]. Ele apontou para o morro e disse que talvez tivessem matado alguém lá”, afirmou a mãe. Esse é um detalhe que pode ajudar a incriminar o jovem e provar que a intenção dos cinco envolvidos era realmente matar as garotas após rapta-las, estupra-las e amarra-las.

Joana conta que chegou a ir ao hospital de Castelo do Piauí ver a movimentação do caso. Mal sabia que horas depois o filho seria preso por aquele crime. Policiais chegaram a passar pelo adolescente durante aquela noite, mas ele ainda não tinha sido apontado pelos demais suspeitos.

O adolescente foi o último, dos quatro, a ser detido. Ele foi encontrado dormindo em casa no meio da madrugada. No início tentou negar, mas, minutos depois, os policiais já voltaram com ele, algemado, dando detalhes do ocorrido.

“Eu ainda não fui ver ele em Teresina. E nem quero. Não aguento. Estou com problema de pressão e não posso tomar remédio porque estou grávida. Se ele fez tem de pagar. Se for culpado não quero mais ele como filho, porque a população não vai esquecer. Se soltar o povo o mata. Já falaram isso para mim”, revelou Joana, em tom de tristeza. Ela conta que a família tem recebido ameaças para deixar a cidade.

“O povo vira as costas para mim. Eu não sou culpada. Não botei estuprador no mundo. Não nasce escrito que ele seria assim”, finalizou.
Quando a reportagem estava saindo da residência, o padrasto de G.V.S. estava chegando à casa. Estava visivelmente alterado e iniciou uma discussão com a mãe do adolescente.

Confira as outras histórias dos acusados de envolvimento no caso:

*Reportagem publicada originalmente no site “O Olho”