Espero por fim da sensação de 'não dá nada', diz vítima de motorista bêbado
O Movimento Não Foi Acidente luta desde 2011 por mais rigor na punição de motoristas embriagados envolvidos em acidentes fatais. O grupo foi fundado por Rafael Baltresca, que viu a mãe Miriam Afife José Baltresca, 58, e a irmã Bruna Baltresca, 28, serem atropeladas por um motorista alcoolizado em frente ao shopping Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, em 2011.
Notícias como a da liberação do filho do cirurgião Ivo Pitanguy após atropelar e matar um operário neste ano reforçam o sentimento de injustiça e revolta nas pessoas amparadas pelo movimento.
"No caso do filho do Pitanguy, aconteceu como em todos os outros: pagou fiança. As pessoas costumam dizer que isso acontece por ser rico. Não é. Nos crimes de trânsito acontecem com praticamente todos", contou Rosmary Marinho, uma das líderes do grupo e que atua como psicoeducadora especializada em intervenção em luto.
Felipe Willian de Oliveira era policial militar de São Paulo e cursava administração na PUC (Pontifícia Universidade Católica). Em 2012, após ser atropelado por David Adjar Pepe, ficou quatro meses desacordado em recuperação. Ao acordar, fez cirurgias no crânio, perdeu a visão lateral e usa uma prótese no pé esquerdo que limita seus movimentos. Ele também recebe da PM um salário integral por ter se aposentado por invalidez.
O motorista ficou três dias preso, pagou R$ 9 mil e está solto. Houve julgamento no ano passado, ele levou testemunhas e o juiz o colocou para júri popular, mas o caso está parado. Ainda tenho um caso na Justiça civil de indenização, pois como eu estava de férias, não foi considerado acidente de trabalho
Felipe Willian de Oliveira, vítima de acidente de trânsito
A rotina de Felipe inclui exercícios de fisioterapia para progredir nos movimentos. Ele tem um cateter para evitar hidrocefalia (acúmulo de água no crânio), mas seu médico o liberou para exercícios que não envolvam a cabeça. "Espero que as pessoas não passem por aquilo que eu passei. Espero por justiça e pelo fim da sensação do 'não dá nada não' (de condenação) para quem comete atropelamento", desabafa.
Para não ser esquecido
O fisioterapeuta Rodrigo Cópia não foi atropelado, mas conviveu com o drama de ver a sobrinha Ana Carolina Cópia Teixeira, 21 anos, ser atropelada em 2012, em Santos (SP), pelo aposentado Paulo Eduardo da Silva. A irmã dele e mãe da jovem, Gláucia Falconi Cópia, passou os meses seguintes deprimida e sem cuidar da saúde. Morreu no ano seguinte, de infarto, aos 51 anos.
A vida da minha irmã acabou. Ela era separada, filha única de mãe solteira. Sentia falta da presença da filha, e ficou indignada. Quando falece uma pessoa de idade, e difícil mas se aceita, mas do jeito que foi, uma morte estupida, é mais difícil de aceitar. Procurei o Não Foi Acidente para não deixar o caso cair no esquecimento
Rodrigo Cópia, tio de Ana Carolina Cópia Teixeira, morta em 2012
Procuradas pela reportagem, as advogadas de David Adjar Pepe não se pronunciaram. O advogado de Paulo Eduardo da Silva não foi encontrado porque o processo corre em segredo de Justiça.
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