Topo

"Justiceiro" em Copacabana nos anos 90, morador se arma para voltar às ruas

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

25/09/2015 20h11

Noite de quinta-feira (24) na zona sul do Rio de Janeiro. A reunião da associação de moradores de Copacabana acabou há poucos minutos. Do lado de fora do auditório, o administrador de empresas Paulo Roberto de Souza Portugal, 61, conversa com vizinhos de bairro sobre os arrastões que assustaram cariocas no último fim de semana.

Com um sorriso no rosto, ele tira um canivete do bolso, exibe a lâmina e comenta: "Aqui, ó. É para autodefesa, lógico. Mas se botarem a mão na minha mulher, na minha esposa, que se fo…". Neste ano, o porte de armas brancas, como seu canivete, foi proibido em lei estadual promulgada pelo governador do Rio

Em Copacabana, jovens de classe média depredam ônibus com moradores da zona norte - Marcelo Carnaval/Ag. O Globo - Marcelo Carnaval/Ag. O Globo
Em Copacabana, jovens de classe média depredam ônibus que iria à zona norte
Imagem: Marcelo Carnaval/Ag. O Globo

"Nascido e criado" no bairro da zona sul, Paulo contou em entrevista ao UOL que era um dos "justiceiros" que atuaram contra a primeira onda de arrastões registrada na cidade, há mais de 20 anos, no início da década de 1990. No fim da adolescência, ele treinava jiu-jitsu na Academia Gracie de Copacabana.

Autodefinido como "um cara radical, de direita", o administrador afirmou que, caso aconteçam novos roubos em série neste fim de semana, se juntaria ao grupo que no fim de semana passado cercou ônibus e agrediu suspeitos de praticar assaltos.

No último domingo (20), Paulo Roberto ficou em casa porque estava assistindo ao jogo do time do coração, o Flamengo.

UOL - O que o senhor achou da ação dos chamados justiceiros no último domingo?
Roberto Portugal - Toda ação tem uma reação. Não tem que ser passivo, eu não estou aqui para alguém chegar e dar na minha cara. Eu não sou Jesus Cristo, que dá o outro lado da face.

O senhor já participou de ações como esta?
Na década de [19]90, na minha rede de vôlei na praia, a gente cercava [os suspeitos], pegava a raquete de frescobol e 'tum' nas costas. Não tinha um que ficava em pé porque a gente sentava a porrada.

Isso evitava mais arrastões?
Evitava porque não tinha ninguém filmando. Hoje em dia, se cair na internet, o cara está fud... Eu sou contra filmar. Você não vê o que fizeram com justiceiros agora? Os garotos pegaram ladrão, velho. Não tem que filmar. A gente enfiava a porrada nos caras e os caras não apareciam nunca mais. A gente cercava e descia a lenha neles. 

A estratégia deveria ser repetida agora? Participaria novamente?
Acho sim. Participaria na moral, sem dó nem piedade. Eu sou um cara radical, de direita. Eu sou pelo justo. 'Mermão', se você estiver passando fome ali é arriscado eu te levar para dar uma comida pra você, mas não vem com put... não. Eu pago meus impostos, nunca tive problema com polícia.

Na sua opinião, essas ações seriam efetivas atualmente?
Hoje em dia não funciona por causa dos direitos humanos. Vivemos a cultura do ‘mimimi’ e do vitimismo. Pobre passou a ser vítima. Vítima sou eu, po… Não é porque eu moro na zona sul que eu sou rico, não. Meu pai ralou a bunda para conseguir viver onde nós estamos hoje. Agora, vagabundo só quer mordomia.

Por que o senhor está andando com esse canivete no bolso?
Já que eu não posso ter uma arma, que eu acho deveria ter --não para matar, mas para me defender--, eu tenho que arrumar um jeito de me defender. Eu tenho uma filha, minha mulher, minha mãe. Se botarem a mão ou acontecer alguma desgraça com elas, eu faço questão de ser preso, porque eu fuzilo um filho da p… desses. Eu sou assim. Eu sou da paz, não quero brigar com ninguém. Mas seus direitos terminam quando começam os meus.