Topo

"A gente vai para onde?", perguntam moradores de área do vazamento de gás

Geovan Rodrigues Brito, 48, e seu filho na área atingida pela nuvem tóxica no Guarujá. A filha de 4 dias já está na casa da avó - Flávio Leal/UOL
Geovan Rodrigues Brito, 48, e seu filho na área atingida pela nuvem tóxica no Guarujá. A filha de 4 dias já está na casa da avó Imagem: Flávio Leal/UOL

Flávio Leal

Colaboração para o UOL, em Santos

15/01/2016 16h55

Os moradores mais próximos ao terminal Localfrio, no distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá, litoral paulista, descobriram de forma abrupta, na tarde da quinta-feira (14), que moram numa área de risco e reclamam que o poder público não tem ajudado nessa situação.

Vivendo a menos de 300 metros da área do vazamento, eles estão acostumados com o vai-e-vem de caminhões e o barulho das operações portuárias. Mas não imaginavam que uma explosão seguida de um incêndio e uma nuvem tóxica poderia tomar as ruas do bairro e invadir suas casas.

Apesar de a Prefeitura pedir que eles evacuem a área, eles dizem que não têm para onde ir e reclamam que não receberam orientação e material básico para se proteger como máscaras para evitar a inalação do gás.

Num primeiro momento, por ironia do destino, as casas mais próximas ao terminal foram poupadas da fumaça logo após a explosão por causa do vento, que soprava para outro lado. Mas os moradores logo perceberam que estavam, literalmente, ao sabor dos ventos que, de forma brusca, mudava de direção e trazia fumaça altamente concentrada.

Máscaras

Máscaras contra fumaça foram distribuídas pela Prefeitura de Guarujá, mas elas não chegaram ao Jardim Boa Esperança, acusam os moradores.

“Ela (fumaça) vem como uma névoa percorrendo as ruas e entra em tudo que é lugar com rajadas de ventos. No começo, pensamos que era para deixar tudo aberto, janelas e portas. Só depois ouvimos que era para fechar”, conta Danilo Campos, proprietário de um restaurante que fica em frente ao terminal e atende motoristas e outros profissionais.

16.jan.2016 - Moradores estão priorizando a saída de seus familiares idosos da área onde a nuvem tóxica é intensa no Guarujá - Flávio Leal/UOL - Flávio Leal/UOL
Moradores priorizam a saída dos familiares idosos da área onde a nuvem tóxica é intensa
Imagem: Flávio Leal/UOL

Campos dispensou todos os seus seis funcionários e ontem se virava com um paninho. “Minha mulher foi comprar máscaras agora, inclusive para eles”, contou, apontando para um grupo de moradores de ruas.

O encanador Geovan Rodrigues Brito, 48, tinha uma preocupação extra com a fumaça.  Zaíra, sua filha nascida há apenas quatro dias, estava exposta a sua toxicidade, embora bem protegida na casa da avó, para onde foi levada após nascer.

De máscara, junto com o filho mais velho, Nicolas, 11, ele se preparava para a retirada de todos da “zona de risco”.

“Eu morava em outro lugar, a Maré Mansa (comunidade). Vim para cá e acontece isso. Ninguém nos avisou ou veio ajudar a nos retirar”, se queixou o encanador.

Tosse, olhos lacrimejando e a boca com gosto de água oxigenada foram os sintomas dos quais os moradores reclamavam.

Tanto as máscaras que usavam Brito, Nicolas, como os das outras pessoas do bairro, foram distribuídas por uma moradora. “A Prefeitura não trouxe nada”, se indignava Brito.

“Somos nós, os vizinhos, que tem que compartilhar as máscaras entre a gente. Você vê o vento mudando de direção ali agora, tudo branco, ninguém veio falar com a gente”, se queixava a auxiliar de geriatria Ana Lúcia Santos Gonzalez. "A prefeita falou na televisão que mandou evacuar, mas cadê, a gente vai para onde? questionava.

“Meu marido é que trabalha no porto e traz as máscaras para casa. Agora, estou distribuindo”, disse a dona de casa Márcia Aparecida.

Uma das moradoras mais antigas do Boa Esperança, Maria Aparecida oferecia máscaras a quem passava pela avenida Vicente de Carvalho, que acaba quase na portaria do terminal que registrou a explosão seguida de incêndio.

A imensa nuvem de fumaça tóxica que se formou atingiu três cidades da região onde foram registrados pacientes com problemas respiratórios e outras complicações menos graves. Foram 119 no total, sendo 76 em Guarujá, 26 em Santos e 17 em Cubatão até as 14 horas desta sexta-feira.

Outro lado

Segundo a Diretoria de Comunicação da Prefeitura de Guarujá, a orientação é de que sejam retiradas máscaras nas unidades de Saúde municipais. Existe a ressalva para que o equipamento seja distribuído apenas a quem realmente mora no raio de atenção, no entorno do local do incêndio.