Crescimento da violência choca moradores e turistas em Praia Grande (SP)
Situado a 72 km de São Paulo, o município de Praia Grande é um dos destinos mais procurados do litoral paulista, principalmente no verão, quando sua população salta de 270 mil para 1 milhão. Mas, para parte dos moradores e veranistas, a imagem de um lugar tranquilo para viver ou passar férias já não existe.
Em plena madrugada do último Natal, dois turistas morreram assassinados em dois diferentes ataques no mesmo cruzamento, no bairro Cidade Ocian. Estes casos de dezembro ainda não aparecem nas estatísticas publicadas na página da Secretaria da Segurança Pública na internet. Entretanto, mesmo sem a inclusão dos dados do último mês do ano, os números mostram que 2015 foi mais violento que 2014 no município.
Só no período de janeiro a novembro, foram registrados 34 casos de homicídio e 35 vítimas. Um registro de homicídio pode envolver mais de uma vítima. Ao longo do ano anterior, a Secretaria da Segurança Pública havia contabilizado 28 casos e 31 pessoas assassinadas. A quantidade de registros cresceu pelo menos 21,4% em 2015.
O aumento da criminalidade provoca desespero. Dono de uma casa de veraneio furtada várias vezes, Daniel Pereira da Silva decidiu colocar uma faixa na frente do imóvel para avisar os criminosos de que não há mais nada a ser levado.
Morador de Praia Grande há 20 anos, o aposentado Paulo Sérgio Joaquim, 62, diz que seu bairro, o Caiçara, tornou-se violento e pensa em se mudar da cidade. “Sempre gostei [do bairro e da cidade], mas hoje estou pensando em ir embora. É perigoso mesmo. Vim pela qualidade de vida, mas hoje não encontro isso. Eduquei meus filhos na praia. Hoje meus netos não podem ir na rua para jogar bola.”
Migração do crime
Joaquim já teve seu carro, sua casa e seu celular roubados. “Aumentei os muros da minha casa, ela é totalmente fechada. Aqui não tem liberdade. Os bandidos é que passeiam à vontade.”
No verão, diz o aposentado, criminosos de outras cidades desembarcam em Praia Grande. “Fica mais perigoso nesta época do ano. Os bandidos daqui eu conheço. Então, posso tentar evitá-los. E os que eu não conheço?”.
A PM (Polícia Militar) de São Paulo reconhece o fenômeno da migração de criminosos neste período do ano e diz reforçar o efetivo na orla. Em dezembro, o governo estadual anunciou o envio de 2.883 policiais militares para 16 municípios litorâneos até 15 de fevereiro.
Na Praia Grande, a PM afirma que o policiamento é feito com um centro integrado de monitoramento, um comando móvel, base comunitária, torres de observação, viaturas, quadriciclos, motocicletas, bicicletas e a pé.
Mortes no Natal
Os dois assassinatos da madrugada de Natal aconteceram no cruzamento da avenida Roberto Almeida Vinhas com a avenida Dom Pedro 2º. A Polícia Civil prendeu cinco pessoas – quadro adolescentes e um adulto, de 18 anos – e considera os casos esclarecidos.
Segundo o delegado titular de Praia Grande, Flávio Máximo, todos os detidos são moradores locais e passaram por períodos de internação na Fundação Casa. Três deles participaram das duas ações.
Eles haviam saído de um baile funk nas proximidades e queriam roubar um carro. A mãe do rapaz de 18 anos foi incluída na lista de indiciados por ter descartado a arma, um revólver calibre 38. Ela responderá pelo crime de fraude processual.
Um dos adolescentes matou, logo depois da meia-noite, a professora Maria da Consolação Duarte, 65. Ela estava em um carro com o marido. O casal havia acabado de chegar de São Paulo para visitar parentes.
Antes das 3h, a cena se repetiu. Um casal de Itanhaém, no litoral paulista, parou o carro no cruzamento, criminosos se aproximaram, fizeram ameaças na tentativa de roubar o veículo e atiraram. O consultor Pedro Henrique Cardoso Tecedor, 42, morreu.
Defasagem
A PM disse que os “indicadores criminais não mostram aquele trecho como crítico”. Na mesma linha, o delegado Flávio Máximo classificou os crimes como casos isolados.
Apesar de reconhecer o reforço de contingente da Polícia Militar no verão e dizer que a quantidade de crimes graves diminui nesta época, o delegado afirmou que a segurança pública não acompanhou o crescimento da população e “está defasada” em Praia Grande.
Parentes das vítimas enfrentam o choque provocado pela violência e a dificuldade de superar as perdas repentinas. O professor José Eduardo Botelho de Sena, sobrinho de Maria da Consolação, disse que, depois do funeral da tia, a família ficou reclusa. “A família entrou em luto. Não houve absolutamente nada [de festa no Natal e no Ano Novo]”.
Maria deixou dois filhos e duas netas. “O nosso receio é que tudo vire estatística. Para nós, a morte é 100%. Foi uma morte banal e com requintes de crueldade porque não houve reação”, afirmou Sena. “O que leva jovens a fazer isso? Por que não estavam curtindo o Natal? Quais são os valores passados para eles?”
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