Aviso sobre queda e desespero: as imagens que tornaram namorado réu em BH

Vídeos das câmeras de segurança de um prédio em Belo Horizonte fizeram a morte da advogada Carolina Cunha Magalhães, até então tratada como suicídio, ser investigada como homicídio qualificado e colocaram o namorado dela como principal suspeito.

O que mostram as imagens

Gravação contradiz versão dada pelo suspeito, Raul Rodrigues Costa Lages, à polícia. Em depoimento, ele afirmou que estava no elevador quando Carolina caiu do oitavo andar e ouviu um "forte barulho", que achou ser uma batida de trânsito.

Imagens mostram suspeito deixando apartamento cinco minutos após a queda. A câmera registrou que ele entra no elevador às 23h15min24s, cerca de cinco minutos após Carolina cair no jardim do prédio.

Raul ficou poucos segundos ao lado do corpo e saiu apressado em direção ao carro. Ele deixa o prédio logo após ser avisado sobre a queda pelo porteiro, caminha até o carro, sai com o veículo, mas para em frente ao edifício minutos depois, assim que uma viatura do Samu chega ao local.

Ao voltar para o prédio, Raul aparenta desespero ao lado dos socorristas. Ele mexe no telefone, anda de um lado para o outro e se senta com as mãos na cabeça.

Filhos de Carolina chegaram ao prédio pouco após a chegada do Samu. Os dois tinham saído do apartamento pouco antes de a mãe cair.

Para a família da advogada, a movimentação de Raul sinaliza uma tentativa de fuga. "Ele vai em direção ao carro, guarda mochila e sacolas no porta-malas, arranca o carro e no momento em que as luzes do giroflex do Samu despontam na esquina ele para, sai correndo e entra no prédio antes do Samu", afirmou o irmão, Demian Magalhães, ao UOL.

Em depoimento à polícia na semana seguinte ao crime, Raul afirmou que "não teve coragem" de se aproximar da namorada caída no chão. Ele também falou que ficou em choque e disse que se afastou do local da queda para avisar aos filhos da vítima sobre o ocorrido.

O UOL buscou por e-mail os advogados que fazem a defesa de Raul na Justiça. O espaço segue aberto para posicionamento.

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Displicência da Polícia Militar livrou prisão em flagrante do suspeito, diz irmão da vítima. Para Demian, se os policiais tivessem checado as imagens das câmeras de segurança no dia do crime, o suspeito teria sido preso. Hoje, apesar de indiciado pelo Ministério Público, ele aguarda decisão judicial em liberdade.

Isso mudou o curso do caso. Ele [Raul] estando presente na cena do crime, enquanto a polícia estava lá fazendo as apurações iniciais, se manteve em estado de flagrância.
Demian Magalhães, irmão de Carolina, ao UOL

Polícia Militar foi questionada, mas não comentou sobre suposta omissão na coleta de provas. "Todas as informações colhidas, preliminarmente, no local do fato, foram registradas em Boletim de Ocorrência e encaminhadas à Polícia Civil para as devidas apurações e providências cabíveis", afirmou o órgão em nota.

Relembre caso

Raul Lages e Carolina Magalhães
Raul Lages e Carolina Magalhães Imagem: Montagem/UOL

Carolina Magalhães foi morta na noite de 8 de junho de 2022. Na ocasião, ela e Raul Lages estavam em um apartamento no bairro São Bento, na região centro-sul de Belo Horizonte.

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Denúncia do Ministério Público foi aceita mais de dois anos depois do crime. Após Lages ter virado réu no último dia 25, o caso deve ser submetido ao Tribunal do Júri, de acordo com dados disponíveis no site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Crime foi inicialmente tratado como suicídio. Porém, as investigações revelaram a possibilidade de que Lages tenha sido o autor do crime. A informação foi descoberta pela Polícia Civil e mudou o rumo das investigações.

Para polícia, advogado derrubou namorada dentro do apartamento. Depois disso, ao perceber que ela estava desacordada, Lages teria jogado o corpo da mulher pela varanda. O casal tinha uma relação conturbada.

Em 2023, o Brasil registrou o maior número de feminicídios desde a tipificação do crime, em 2015. O feminicídio é um tipo de homicídio doloso qualificado, em que o assassinato acontece em um cenário de violência doméstica em razão da vítima ser mulher.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

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Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.

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