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SP: governo abre comportas enquanto população ainda sofre com falta de água

Vista da represa Guarapiranga, na zona sul da capital paulista  - Douglas Pingituro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo
Vista da represa Guarapiranga, na zona sul da capital paulista Imagem: Douglas Pingituro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

26/01/2016 06h00Atualizada em 26/01/2016 09h21

Há dois anos o projetista mecânico Jacques Perez Pinar, 51, e sua família convivem com a falta de água nas torneiras durante 14 horas por dia no Itaim Paulista, zona leste da capital. Enquanto isso, por causa das recentes chuvas, o governo de São Paulo tem aberto as comportas das represas para evitar que transbordem.

"A rotina aqui tem sido por conta da água. Tudo tem que ser feito ou planejado até as 14h para ter água", conta Jacques Perez Pinar. A vendedora Elaine Shiino Noleto passa por situação parecida desde fevereiro de 2014. "Em Guarulhos [na Grande São Paulo], os moradores continuam sofrendo com o rodízio de água. Ficamos um dia com água e o outro sem", conta.

Falta água nas torneiras de Pinar e de Noleto, mas tem sobrado em reservatórios dos sistemas Guarapiranga e Rio Grande, responsáveis pelo abastecimento de cerca de 7,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo.

Desde dezembro, as comportas de barragens dos dois sistemas têm sido abertas para evitar o transbordamento. Foi liberada uma quantidade aproximada de 47,5 milhões de m³ de água. As represas estão cheias por causa do grande volume de chuva registrado nos últimos meses.

De acordo com a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A.), ligada ao governo estadual, as comportas da barragem do Guarapiranga foram abertas em três momentos desde o mês passado. Em torno de 33,4 milhões de m³ de água foram descarregados (50 m³ / s durante 186 horas). Já a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) informa que 14 milhões de m³ de água foram liberados do Rio Grande desde dezembro.

A companhia afirma que "não há desperdício". Segundo a empresa, tanto a "sobra" do Guarapiranga quanto a água excedente do Rio Grande são transferidas para a represa Billings, que abastece o Guarapiranga por meio do braço "limpo" do Taquacetuba.

"[Essa água] fica disponível para ser reaproveitada, tanto para produção de água potável pela Sabesp quanto para produção de energia elétrica pela Emae", esclarece a Sabesp. A companhia capta água de dois braços da Billings, o Taquacetuba e o Rio Pequeno.

Verão chuvoso ajuda, mas nível das represas ainda não é ideal

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Interligação dos sistemas

Na opinião de Samuel Barreto, especialista em recursos hídricos e coordenador do movimento "Água para São Paulo" da organização internacional The Nature Conservancy, é uma "aparente contradição" pessoas estarem sem água durante parte do dia enquanto grande quantidade desse recurso é liberada das represas.

Barreto reconhece que a medida é adotada para "segurança das barragens, considerando que, em tese, ainda temos quase dois meses e meio de chuvas pela frente, e esses dois reservatórios estão com volume bem alto de reservação de água".

Ele afirma, no entanto, recorre-se à abertura das comportas porque não há uma "integração dos sistemas produtores de água". "Não temos 100% de interconexões dos mananciais. Se houvesse, poderíamos reaproveitar melhor essa água, reduzindo os infortúnios da população que ainda sofre com a distribuição dá água ao longo do dia", sugere.

Para Pedro Luiz Côrtes, geólogo e especialista em gestão de recursos hídricos da USP (Universidade de São Paulo), a interligação é um "problema". "O maior obstáculo a isso é a grande poluição da Billings. Ao ser interligada a outros sistemas e represas --o que já ocorre com o Guarapiranga e o Alto Tietê--, ela acaba contaminando esses outros mananciais", explica.