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Tecnologia pode ajudar a driblar a crise hídrica de São Paulo; veja como

Equipamento Eco Shower permite regulagem mais precisa do aquecimento do chuveiro elétrico e assim evita o desperdício de água e energia - Divulgação
Equipamento Eco Shower permite regulagem mais precisa do aquecimento do chuveiro elétrico e assim evita o desperdício de água e energia Imagem: Divulgação

Márcio Padrão

do UOL, em São Paulo

04/11/2014 06h00

Enquanto o Estado de São Paulo atravessa a pior estiagem de sua história, tecnologias e peças hidráulicas com foco no melhor desempenho e na sustentabilidade podem ajudar a gerenciar a crise e aproveitar melhor os recursos hídricos que ainda restam.

Os consumidores podem ir atrás dessas inovações para reduzir seu próprio consumo. Já os serviços públicos de saneamento buscam investir mais em programas de gerenciamento de água e combate a vazamentos. Essas tecnologias permitem desde minimizar os gastos de água até a implantação de reaproveitamento da água usada.

No entanto, a utilização maciça dessas ideias implica em algumas barreiras, como a falta de informações do grande público e o alto investimento em produtos considerados "top".

Alguns dos dispositivos mais simples e baratos que ajudam na economia já são conhecidos. Por R$ 5 a R$ 15, o arejador de torneira é uma peça que pode ser encaixada no bico da torneira para misturar ar ao fluxo de água, aumentando a sensação de volume enquanto reduz a vazão. O grau de economia depende do modelo, mas fabricantes falam em 10% a 50% a menos de água usada na torneira no dia a dia.

Outra solução que vem se tornando mais comum é a caixa d'água acoplada --aquela na parte de trás do vaso sanitário--  com duplo funcionamento. O objetivo é gastar a metade de água da descarga total com o objetivo de despejar apenas urina no esgoto. Se o modelo de vaso sanitário da sua casa tiver sifonagem com 6 litros de água e acionamento na tampa de caixa acoplado, o consumidor precisa instalar apenas o mecanismo de descarga dupla, que custa cerca de R$ 110. Se a válvula for na parede, há kits conversores na faixa dos R$ 180.

Controladores eletrônicos

No entanto, a eletrônica pode ser uma aliada inusitada do consumidor. Em Minas Gerais, o engenheiro Cláudio Orlandi Lasso desenvolveu o Eco Shower, aparelho que traz um controle mais preciso do aquecimento do chuveiro elétrico.

Como resultado, economiza tanto água quanto energia, pois não é necessário deixar a água escorrer por um minuto para começar a esquentar, como é de praxe nesses chuveiros. O preço é acessível: R$ 128, fora o frete. A redução no consumo de água, segundo o fabricante, é de 40%.

"Cresci ouvindo meus pais dizendo 'apaga a luz', 'fecha a torneira no banho demorado' etc. Quando vejo desperdício, isso me incomoda profundamente", lembra Lasso, que afirma que as vendas do produto aumentaram cerca de 20% nos últimos três meses.

As empresas de equipamentos sanitários ainda investem pouco em produtos que aliam eletrônica à hidráulica. O mais comum é a torneira ativada por sensor de presença, vista na maioria das vezes em shopping centers, prédios administrativos, grandes empresas e outros locais públicos. O custo dessa torneira vai de R$ 280 a R$ 1500.

A Deca já lançou no país alguns exemplos mais sofisticados dessa vertente, como o monocomando para chuveiro Deca Touch, que controla a vazão e limita o tempo de água no banho, via controle remoto; e a torneira com hidrogerador Decalux Save, que usa a água que desce pela pia para alimentar o funcionamento energético da própria torneira. Esses, porém, possuem custos proibitivos para a maioria do público: custam R$ 14 mil e R$ 1,8 mil, respectivamente.

Sensor de água Waterpebble - Divulgação - Divulgação
Sensor Waterpebble avisa sobre o gasto de água durante o banho
Imagem: Divulgação

"São de fato tecnologias mais caras, mas buscamos desenvolver versões mais acessíveis com o tempo. Em um prazo de quatro a cinco anos conseguiremos massificá-las", afirma Bruno Antonaccio, diretor de desenvolvimento e marketing da Deca.

Há ainda soluções que podem ser compradas no exterior, como o Waterpebble, um tipo de sensor que mede a água gasta durante o banho e avisa quando o usuário extrapolou o limite máximo de água para essa função. Custa US$ 11,95, ou R$ 29, no site Amazon.

Além do consumidor comum

Para clientes empresariais e industriais, a contratação de uma empresa de tratamento e gestão hídrica pode contribuir com a redução do consumo. Situada em São Paulo, a consultoria Essencis presta serviços que incluem redução ao máximo do descarte por meio da otimização de processos industriais, redução da relação consumo/custo com água e implantação de sistemas de tratamento de efluentes (resíduos líquidos resultantes de processos industriais).

O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), sediado em Campinas, também possui uma solução de gestão da água para empresas que permite centralizar dados das faturas de energia elétrica, gerar análises técnico-econômicas e identificar potencial para redução do consumo. O banco Bradesco é um dos clientes.

Na Califórnia (EUA), que também atravessa um período de estiagem forte, a empresa Valor Water Analytics desenvolveu um software que permite identificar e analisar diversos cenários do gerenciamento da rede hídrica e antecipar soluções. Uma delas é aplicar taxas mais altas a quem gasta mais água que a média --uma das alternativas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para sanar a crise, mas abandonada antes de sua implantação. Ele também prevê o consumo futuro com base nas fontes existentes de água, previsões climáticas e tendências hidrológicas da região.

"A estiagem é um desafio em muitos lugares no mundo de hoje. Basta olhar para o Oriente Médio para ver como a escassez de água está desafiando o crescimento. Regiões com períodos secos prolongados são forçadas a fazer escolhas difíceis, como a eliminação de usos de baixo valor e racionamento. Na Califórnia, muitas cidades do sul estão fazendo enormes investimentos em construções de abastecimento de água potável e reutilização de águas residuais", disse a presidente da Valor, Christine Boyle, por e-mail ao UOL.

A Sabesp, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que duas de suas principais tecnologias para evitar desperdício na rede hídrica são o Programa de Redução de Perdas, que utiliza tecnologias de detecção acústica de vazamentos não visíveis no subsolo; e o controle da pressão na rede com os chamados Distritos de Medição e Controle --áreas da rede de distribuição nas quais a quantidade de água que entra ou sai é medida, permitindo conhecer o comportamento dos consumos da região.