"Nunca fui escravo, mas a mãe era", conta quilombola de 128 anos que vive em Bauru (SP)
Ele afirma ter nascido dentro do quilombo Pedra Branca, localizado no interior do Ceará no ano de 1888, data em que a Lei Áurea foi promulgada e acabou com a escravidão no Brasil. José Aguinelo dos Santos tem, atualmente, a idade presumida de 128 anos.
"Nunca fui escravo, mas a mãe era", afirma Santos.
Ele é mais conhecido como "seu Zé" pelos funcionários e voluntários da Vila Vicentina em Bauru, distante 349 km de São Paulo, onde reside há 43 anos. Os documentos que comprovam a idade do quilombola foram providenciados em 2001. Foi necessário ingressar no Judiciário para conseguir os documentos com a idade presumida, procedimento padrão nesses casos.
O cigarro e o boné azul, que ele só tira para dormir, são seus parceiros inseparáveis. Ele tem jeito quieto, é de poucas palavras, mas narra com propriedade a infância no quilombo. Os funcionários da Vila Vicentina contam que seu Zé gosta, sim, de prosa, de contar piada e arriscam dizer que a timidez é com o repórter forasteiro.
Ele se lembra dos pais, dos cinco irmãos e da casa grande (a casa que anteriormente era dos senhores de escravos) existente no local. Segundo ele, não havia cama ou colchão, e todos dormiam no mesmo lugar. "A vida era dura", afirma. "Para plantar milho e mandioca, a gente pegava na enxada todo dia."
De acordo com os registros da Vila Vicentina, Aguinelo chegou ao local trazido pelo último patrão que teve. "Antigamente, não havia burocracia para o acolhimento no abrigo, então, não era necessário que ele tivesse todos os documentos", afirma o vice-presidente da Vila Vicentina, Cesar Siqueira Campos.
O idoso tem uma "saúde de ferro" para sua idade e recebe medicamentos para que não desenvolva a diabetes --mas ele não gosta muito. "Deus mandou a gente rezar e não tomar remédio", argumenta.
Atualmente Aguinelo se recupera de uma cirurgia após uma fratura no fêmur.
Guinness
Se a idade presumida do quilombola for comprovada, ele pode se tornar o homem mais idoso do mundo. Campos conta que a direção da Vila Vicentina foi procurada pela equipe do Guinness World Records no Brasil.
"Eles queriam, para aferir a real idade dele, fazer uma raspagem no osso e fazer o exame conhecido como Carbono 14 --ele afere com exatidão a idade. Outra opção era a biópsia da língua, ambos bastante dolorosos para o nosso amigo. Decidimos por não autorizar, porque o título de mais velho do mundo em nada acrescentaria para o Aguinelo", afirma Campos.
Se o quilombola tivesse seu nome registrado no livro dos recordes ele teria direito a um salário mínimo vitalício.
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