Um PM é assassinado no Rio de Janeiro a cada dois dias e meio
De folga, o policial militar Renato César Jorge, 47, passava de moto em frente à Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), no centro do Rio, na manhã de quinta-feira (16), quando foi abordado por dois motociclistas que atiraram em sua direção e depois fugiram. Ele morreu no local. Poucas horas antes, o soldado Gabriel Brasil Soares, 25, seguia para o trabalho em Magé, na Baixada Fluminense, quando foi baleado por suspeitos em um carro e duas motocicletas. Os criminosos deixaram o PM baleado no chão e levaram a sua arma. Gabriel também não resistiu aos ferimentos. Um dia antes, na quarta (15), o sargento Roberto foi assassinado na porta da sua casa, em São João do Meriti.
Os três fazem parte de uma estatística cruel que desde o início do ano vitimou 30 PMs no Estado – ao todo, um policial foi morto a cada dois dias e meio, de acordo com a Polícia Militar. Sete morreram enquanto trabalhavam; outros 23, em horário de folga.
Considerando apenas os PMs mortos em serviço, o número já é maior que todo o primeiro trimestre do ano passado, quando cinco agentes morreram -- em 2016, por sinal, a vitimização policial chegou ao seu maior patamar nos últimos dez anos. Foram 40 agentes mortos durante o trabalho, contra 26 em 2015 e 18 no ano anterior.
Também cresceu o número de agentes mortos fora de serviço. Foram 95 em 2016 contra 73 em 2015.
“Só pelo fato de ser policial, atuar nessa área, já se corre um risco 24h por dia. Seja ativo ou inativo”, diz o presidente da AME-RJ (Associação de Oficiais Militares Estaduais do Rio de Janeiro) e coronel reformado, Fernando Belo.
Para ele, o crescimento das mortes acompanha o crescimento da criminalidade e a falta de oficiais nos batalhões, muitas vezes lotados em UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Dos cerca de 58 mil oficiais em atuação no Estado, 12 mil estão lotados nas áreas ocupadas pela polícia. “As UPPs estão inchadas enquanto os batalhões estão esvaziados. É preciso redimensionar”, diz.
O crescente número de policiais assassinados levou à abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) pela Assembleia Legislativa do Rio para investigar as causas das mortes. Presidente da comissão, Paulo Ramos (PSOL-RJ), considera necessário “debater o modelo de segurança pública”. “A tragédia é muito maior do que se pensava”, afirmou durante uma audiência pública sobre o assunto no fim do ano passado.
Nesta sexta (17), o Disque-Denúncia divulgou um cartaz pedindo informações que levem aos assassinos dos policiais militares. A recompensa é de R$ 5 mil.
De acordo com o sociólogo Ignácio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), o grande número de policiais mortos tem relação direta com a alta letalidade da polícia. No Rio, assim como no resto do país, diz, a maior parte das mortes de policiais ocorre quando os agentes estão sem a farda –seja fazendo bicos, em conflitos privados ou quando reagem a assaltos.
"A polícia mata muita gente, há um excesso do uso da força. E os criminosos se vingam depois, quando os PMs estão fora de serviço e são reconhecidos como policiais."
A ONG Human Rights Watch entrevistou 61 Policias Militares para escrever o relatório “O Bom Policial Tem Medo”. Mesmo atividades cotidianas, como usar o transporte público, relatam os PMs, são consideradas perigosas. Muitos agentes disseram que evitam pegar ônibus e metrô fardados – com o uniforme, poderiam andar de graça – e carregar a identificação profissional por medo de serem reconhecidos.
A Polícia Militar informou que criou, em julho, a Operação Deslocamento Seguro, que busca monitorar os locais e horários de maior incidência dessas ocorrências a fim de intensificar o policiamento ofensivo nessas áreas e diminuir o número de policiais mortos.
Para o secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, o país passa por uma crise de segurança pública. "A gente tem de rever, tem de ter um novo pacto. A polícia sangra", afirmou, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".
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