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Dupla organiza vaquinhas e ajuda quem não tem passagem em rodoviária de SP

Rodolfo tem banca de jornais na calçada do Terminal Rodoviário do Tietê - Arquivo Pessoal
Rodolfo tem banca de jornais na calçada do Terminal Rodoviário do Tietê Imagem: Arquivo Pessoal

Demetrio Vecchioli

Colaboração para o UOL

31/03/2017 13h46

Há 30 anos como proprietário de uma banca de jornais na calçada do Terminal Rodoviário do Tietê, na zona Norte de São Paulo, Rodolfo Cardoso Tenório, 62, está acostumado a ouvir pedidos de ajuda. “Não é nem todo dia, é toda hora mesmo”, diz. Alguns, porém, segundo suas próprias palavras, tocam seu coração. E é por isso que, há 15 anos, ele realiza vaquinhas para ajudar algumas pessoas a voltarem para casa. Nos últimos anos, ganhou como “sócio” na empreitada o gari Edmar Francisco, 42.

A primeira beneficiada pela iniciativa foi uma jovem que chegou de Brasília para uma festa de Natal. A garota, de pouco mais de 20 anos à época, tinha apenas um recado, de que deveria procurar por a amiga em uma padaria. Não a encontrou e não tinha para onde ir. Com o coração tocado, Rodolfo resolveu ajudar. “Eu não tinha o recurso todo para mandar ela de volta. A gente se reuniu, um pede para um, para outro, e acabou acontecendo. Cada um deu um pouquinho”, lembra o jornaleiro.

Essa história aconteceu há 15 anos e, desde então, incontáveis pessoas passaram por sua banca pedindo ajuda. Outras, passam lá apenas para papear, como é o caso do gari Edmar, transferido para a região em 2014. Desde então, “grudou” na banca – quando a reportagem localizou Rodolfo, por telefone, na tarde desta quinta-feira, por exemplo, Edmar também estava na banca.

Pernambucano que veio tentar a vida em São Paulo há 22 anos, Edmar nunca mais deixou o estado. Não conhece nada além das fronteiras paulistas e do trajeto que o trouxe de Recife. Ainda que não tenha posses, fez o que pôde para ajudar um baiano que, há cerca de seis meses, estava morando embaixo da marquise do terminal.

“Ele estava desesperado, em uma situação em que não aguentava mais ficar onde estava. Olhou para mim e falou: ‘Me manda embora?’. ‘Poxa, mandar você embora?’, eu disse. Eu não tinha condição sozinho, mas vamos ver. Juntou um pouco meu, um pouco dele, um pouco dele, e conseguimos comprar a passagem”, lembra.

O baiano havia chegado a São Paulo acompanhado da esposa, mas acabou mandado para fora de casa. Ficou dois meses morando na rua até que, com doação de Edmar e Rodolfo, conseguiu comprar a passagem de um ônibus clandestino, por cerca de R$ 180 – um ônibus rodoviário de linha não sairia por menos de R$ 400. Era o que dava para a vaquinha pagar.

“Esses valores que a gente junta são baixos, mas é muito para quem não tem. Nós também não temos muito, corremos atrás do pão no dia a dia. Mas para quem não tem onde comer, a passagem de 180 reais é uma fortuna”, diz Edmar, que mora em São Mateus, na zona Leste de São Paulo.