"Mobilização nacional foi advertência para Temer e Congresso", diz veterano de greves
Na véspera da greve geral realizada nesta sexta-feira (28) em várias cidades brasileiras, sob o comando das principais entidades e centrais sindicais do país, o sindicalista Gilmar Carneiro, 63, tinha a expectativa de ver mobilização parecida com a de grandes greves nacionais que ele ajudou a liderar nos anos 1980, em São Paulo.
Hoje, ele afirma, convicto: “Esta foi a melhor greve de todas na história do Brasil, quantitativamente e qualitativamente”.
Bancário há 44 anos, Carneiro tem uma longa experiência no sindicalismo trabalhista e pode ser considerado um veterano em greves. É um dos fundadores do PT (Partido dos Trabalhadores) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e foi presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, entre outras posições que já ocupou em organizações sindicais. Formado em administração de empresas pela FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), atualmente é assessor da presidência da CUT.
A greve geral deste 28 de abril, convocada em rejeição às reformas previdenciária e trabalhista que o governo Michel Temer (PMDB) quer colocar em ação, é comparada pelo sindicalista a alguns movimentos populares dos quais participou, mas com alcance bem maior.
“Sob o ponto de vista quantitativo, dá uns 35 milhões, 40 milhões de pessoas. Na greve de 1989, contra o Plano Verão, ela se concentrou mais em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, mais no Sudeste. Qualitativamente, essa greve de hoje teve adesão desde o Amapá até o Rio Grande do Sul, ela pegou todos os Estados, e isso é raro”, ele avalia, uma vez que essa adesão não aconteceu com tanta frequência nas últimas décadas.
Carneiro cita, por exemplo, as greves de categorias, como a de 1985, com bancários de todo o país, mas que não envolviam outros grupos de trabalhadores.
“Quando nós fizemos em 1983 contra a ditadura, contra os pacotes econômicos do Delfim Netto [ministro da Fazenda e da Agricultura no regime militar], eram paralisações nos centros industriais e nas grandes cidades do Sudeste, ou da Bahia para baixo”, diz.
Naquele ano, a greve geral foi organizada pela Comissão Nacional Pró-CUT. Mas a Central Única dos Trabalhadores só seria oficialmente fundada poucos meses depois, em agosto.
Em todo o país, cerca de 3 milhões de trabalhadores pararam no mês de julho: metalúrgicos, bancários, metroviários, comerciários, servidores públicos e outros, com passeatas e piquetes. O movimento sofreu forte repressão policial e chegou a resultar em intervenção nos sindicatos.
“Em São Paulo, o sindicato dos bancários ficou 20 meses sob intervenção do Ministério do Trabalho”, recorda Carneiro.
"Pulsar nacional"
Voltando para 2017, o sindicalista enfatiza a manifestação em esfera nacional que ocorreu no dia 15 de março, “mas era só da CUT, e essa greve de hoje tem adesões de todas as centrais sindicais, em todo o Brasil. Não é uma greve trabalhista, é uma greve dos brasileiros. Uma advertência ao governo e ao Congresso Nacional de que o Brasil não está aceitando a reforma da Previdência como eles estão fazendo, não está aceitando a reforma trabalhista do jeito que eles estão fazendo”.
Há quase cem anos, em junho de 1917, o Brasil registrava sua primeira greve geral, na cidade de São Paulo. Funcionários de uma fábrica têxtil paralisaram as atividades por 30 dias para reivindicar aumento de salários e redução na jornada de trabalho, entre outros.
A inspiração anarquista trazida por italianos e espanhóis foi marcante, como afirma Carneiro, mas mesmo aquela primeira greve ocorreu em caráter local.
“Você atingir desde o Amapá até o Rio Grande do Sul significa que tem um pulsar nacional. E quem deu esse caráter nacional ao Brasil, a partir de 1960 para cá, foi a televisão, foi o rádio. Agora tem a questão da internet, das redes sociais.”
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