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Comandante das UPPs culpa atraso da Light por mortes em instalação de torre no Alemão

O comandante da UPP foi ouvido durante uma audiência pública da Comissão de Segurança Pública da Alerj - Hanrrikson de Andrade/UOL
O comandante da UPP foi ouvido durante uma audiência pública da Comissão de Segurança Pública da Alerj Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

07/06/2017 16h42Atualizada em 07/06/2017 17h40

O comandante das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), coronel André Luiz Belloni, culpou a Light, concessionária de energia elétrica, por confrontos ocorridos durante a instalação de uma torre blindada no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, no fim de abril. Na ocasião, cinco pessoas morreram em razão dos tiroteios, que perduraram por uma semana, tempo que a PM levou para fincar a cabine. A declaração foi dada durante audiência pública da Comissão de Segurança Pública da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), nesta quarta-feira (7), no Palácio Tiradentes, sede do Legislativo fluminense.

Belloni afirmou que o impasse ocorreu por conta de suposta negativa da empresa para que a fiação da localidade, conhecida como Largo do Samba, onde fora instalada a torre blindada, passasse por um procedimento de reparo. Sem entrar em mais detalhes, o coronel disse que, "mesmo após uma solicitação oficial" por parte da corporação, o comando da UPP "precisou ficar três dias insistindo com a Light". "Infelizmente, algumas vidas inocentes foram ceifadas", declarou.

O UOL entrou em contato com a concessionária de energia elétrica que argumentou que a região já estava em conflito. A Light informou, em nota, que "devido aos registros de conflitos em Nova Brasília, no Complexo do Alemão, entre os dias 21 e 25 de abril, os profissionais da empresa não puderam acessar a comunidade, devido às condições de segurança". "A empresa esclarece ainda que a instalação da cabine pela Polícia Militar foi realizada no dia 24 de abril e somente após a confirmação das condições de segurança pôde realizar os serviços de reparo", afirma a empresa.

Segundo a Light, entre janeiro e maio ocorreram 162 interrupções de fornecimento de energia elétrica na capital fluminense e na região metropolitana devido a confrontos armados. “Os projéteis danificam equipamentos da rede elétrica, como transformadores e cabos, o que torna o trabalho dos técnicos de campo mais complexo e o tempo de restabelecimento maior”, afirma a companhia.

A argumentação do comandante da CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora), órgão gestor das UPPs, é que a negativa da concessionária teria atrasado a instalação da cabine no Largo do Samba, período no qual os confrontos ocorreram. 

Na ocasião, por dias consecutivos, os PMs foram atacados a tiros por traficantes de drogas que, diante do cenário de crise na segurança pública, retomaram o controle territorial na região. Justamente por esse motivo, a corporação precisou instalar a torre blindada, que antes ficava situada em vias expressas da capital.

Ao fim da audiência pública, jornalistas aguardavam que Belloni deixasse a comissão pela saída principal da sala, mas o comandante se retirou por um acesso lateral.

Em discurso, o coronel afirmou que há um problema recorrente quanto à atuação de outros órgãos em áreas de risco, em referência às favelas dominadas pelo tráfico --as chamadas "zonas conflagradas". Como exemplo, ele citou o Corpo de Bombeiros, que teria dificuldade para acessar determinados locais em resposta a chamados de incêndio. Na visão dele, há um "receio" grande em virtude da situação de muitas comunidades.

Belloni também trouxe ao debate números que, segundo ele, são preocupantes. De 2012 a 2017, somente nas UPPs, 42 militares morreram em decorrência de confrontos armados. Outra questão diz respeito aos carros da PM que estão parados por algum problema mecânico. Dos 454 veículos da CPP, 221 estão sem rodar, isto é, quase metade da frota.

Em relação à estrutura da corporação, ele revelou que há um déficit de pessoal, conforme estudo interno. Para resolver esse problema, seriam necessários 600 policiais a mais no efetivo das UPPs.

Crítica

O coronel da reserva Paulo César Ferreira Lopes, que participou da audiência como convidado, afirmou, ao fim da reunião, que a Polícia Militar não deveria "atribuir aos outros as suas mazelas". "A PM não pode depender nem da Light nem de ninguém. O problema é muito mais grave do que isso", afirmou ele, que já foi comandante do 2º CPA (Comando de Policiamento de Área, responsável pelas ações de patrulhamento na zona oeste carioca).

"A própria instalação dessa cabine é um grande absurdo. Primeiro porque, para que isso desse certo, a estrutura de blindagem da torre deveria ter nível cinco. Essas que estão sendo afixadas nas UPPs têm nível três. O traficante anda com fuzil .50, não é com qualquer arma. Eles estão colocando o policial militar em uma condição de alvo permanente."

Light pode ser convocada

A presidente da Comissão de Segurança da Alerj, deputada Martha Rocha (PDT), afirmou que, em futuras audiências, a Light poderá ser convocada para prestar esclarecimentos em relação às reclamações do coronel Belloni. Ela também criticou a Seseg (Secretaria de Estado de Segurança Pública), que, na visão da parlamentar, teria a função de "enquadrar" a concessionária e cobrar uma resposta rápida. "Isso não pode depender apenas do capitão que comanda a UPP. Precisamos também discutir o papel da Seseg."

O deputado Bruno Dauaire (PR), integrante da comissão, afirmou que os encaminhamentos das audiências públicas sobre segurança, a exemplo da questão relatada pelo comandante da CPP, contribuem para um "redimensionamento" das UPPs. Segundo ele, há falhas evidentes na condução do projeto, e o Parlamento pretende atuar no sentido de apontar novos caminhos. "Nosso objetivo aqui é ter uma visão ampla para identificar esses problemas e encontrar formas de redimensionar o projeto."