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Palestra "antifeminista" causa confusão em universidade federal: "Fui expulsa"

Thais Azevedo foi expulsa de uma palestra que dava na UFG - Reprodução/Facebook
Thais Azevedo foi expulsa de uma palestra que dava na UFG Imagem: Reprodução/Facebook

Demétrio Vecchioli

Colaboração para o UOL

07/06/2017 13h35

O que era para ser uma palestra de uma militante “antifeminista” acabou se tornando uma confusão no salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, segunda-feira à noite, no centro de Goiânia (GO). De um lado, Thais Godoy Azevedo, professora particular de inglês em São Paulo, reclama ter sido impedida de palestrar e de ter sido agredida verbalmente. De outro, estudantes que criticam o suposto discurso de ódio da militante - que estava em Goiânia para se defender de um processo aberto contra ela por ofensas na internet.

Thais chegou a fazer um vídeo ao vivo no Facebook falando do evento, que acabou abruptamente: "Fui expulsa pelos ditos tolerantes", afirmou ela.

Ao UOL, ela deu sua versão do ocorrido. “Eu estava numa ansiedade e num nervosismo absurdos já fazia uns dias. Imagina você falando para pessoas que te odeiam”, conta Thais, que, ao chegar para a palestra, encontrou o salão trancado propositalmente, diz ela, e na porta um cartaz crítico à sua palestra.

O salão havia sido reservado com bastante antecedência por um aluno, para o advogado Giuliano Miotto, membro de uma comissão da OAB de Goiânia, que por sua vez convidou Thais, uma das administradoras da página “Moça, não sou obrigada a ser feminista”. O título da palestra: “Desmascarando o feminismo”.

A divulgação causou polêmica na universidade e professores e coletivos solicitaram à faculdade que a palestra fosse cancelada. A proposta foi rejeitada pela diretoria. “A universidade é pública, o espaço é público, temos que garantir a liberdade de expressão. A gente pode concordar, discordar e até divergir. Mas temos que ouvir”, opina Pedro Sérgio dos Santos, diretor da faculdade.

Sem terem o pedido atendido, os coletivos decidiram fazer um evento paralelo, em outra área da faculdade. “A palestra dela começou e algumas pessoas que foram lá para ouvi-la tentaram argumentar e pontuar algumas questões que ela estavam falando. Ela exteriorizou a rigidez e mandou um menino calar a boca e pediu para ele se retirar. As pessoas que estavam lá para ouvi-la não concordaram. Ela não soube conduzir a ocasião para tentar acalmar os ânimos e as pessoas que estavam lá embaixo por motivo da confusão subiram no salão nobre. E foi a partir dali que saiu do controle”, opina Danielle Ribeiro, do Coletivo Pagu, grupo de extensão do Núcleo de Direitos Humanos da UFG.

Também incomodou aos coletivos o fato de Thais ter virado um painel com fotos de militantes históricas, como a própria Pagu. “Quem ia falar era eu, e eu ia fazer live no Facebook, e não queria que as pessoas tivessem que olhar para aquelas imagens”, argumenta a palestrante, defendida pelo diretor da faculdade. “O espaço havia sido reservado para ela. É ela quem determina a decoração.”

Com o pessoal que estava no evento paralelo subindo ao salão nobre, começou a confusão. As luzes foram desligadas, supostamente pelas militantes, o que, para o diretor, geraria insegurança para o evento. “Com as luzes apagadas, não haveria como registrar algum ato de violência”, comenta, afirmando que, a partir dali, não havia como continuar com a palestra.

Acompanhada por seguranças, Thais deixou a faculdade, enquanto trocava ofensas com militantes. Nos videos postados por ela, não é possível identificar tentativa de agressão física.

Segundo o diretor, partiu da reitoria a decisão de enviar mais seguranças do que o usual para o evento, uma vez que já havia o risco de confrontamento. Para Danielle, esse confrontamento era um desejo da palestrante, que afirmou ao UOL que, após a repercussão do caso, recebeu mais de 20 convites para palestras.

Danielle Ribeiro, do Coletivo Pagu, argumenta: “Alguém que almeja um debate não fica provocando, ridicularizando quem tem pensamentos contrários. Ela provoca ódio, incita a violência. Ela não teve a intenção nenhuma de construir um debate. As pessoas que estavam com ela filmaram o tempo inteiro, mas ela só publicou o que era interesse dela, cortando quando lhe convinha. Antes de acontecer qualquer coisa ela já pediu segurança”. A palestrante, por sua vez, alega que seu sinal de internet estava ruim e por isso a transmissão teve cortes.

Para a faculdade, Thais tinha o direito de palestrar sem oposição, como aconteceu com militantes com a mesma ideologia dos coletivos. “A posição institucional é que todas as pessoas têm o direito de manifestarem suas opiniões. Essas pessoas que fizeram isso (protestar) não falam em nome da instituição. Se ela fez um discurso de ódio, então quem se incomodou deverá buscar o caminho legal. Para dizer que há discurso de ódio você tem que ouvir o discurso da pessoa. Ela pode ter tido discurso de ódio na internet, mas não posso trabalhar com a presunção de crime. Aqui ela não havia falado”.

Apesar de ofender as militantes femininas em diversos momentos do vídeo e de chamar um garoto de “capado”, Thais acredita que não foi intolerante, como acusa seus críticos de serem. “Eu só uso as frases das feministas”, diz.