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Após polêmicas sobre a cracolândia, Doria lança campanha em vídeo contra crack

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Usuários de drogas reocuparam um trecho da rua Helvetia, onde ficava a antiga cracolândia
Imagem: Janaina Garcia/UOL

Do UOL, em São Paulo

24/06/2017 17h47

Em meio a polêmicas envolvendo a região da cracolândia, no centro de São Paulo, que em um mês mudou três vezes de endereço e foi alvo de operações da polícia, a Prefeitura de São Paulo lançou neste sábado (24) um vídeo de sensibilização contra o uso do crack.

A peça publicitária foi postada na conta do prefeito João Doria no Facebook.

“Quero compartilhar em primeira mão com vocês esse lindo comercial da Prefeitura de SP para a campanha de sensibilização da sociedade para o problema do crack. Essa droga causa uma dependência química terrível, uma verdadeira doença crônica, difícil de tratar. Mas é uma doença que tem vacina: dizer não. E seguir dizendo não sempre que necessário”, escreveu na postagem.

Segundo informações da "Agência Estado", o material começará a ser divulgado oficialmente na próxima segunda-feira (26), Dia Mundial de Combate às Drogas. Além do vídeo, haverá também anúncios nos pontos de ônibus e cinemas. O custo inicial da campanha é de R$ 4,9 milhões.

A reportagem do UOL consultou a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Paulo sobre mais detalhes sobre a campanha e aguarda retorno.

O vídeo mostra um homem entrando em uma sala que contém diversas fotos de momentos importantes da sua vida, sem, contudo, mostrar o rosto dele --fotos com amigos, familiares, com a mulher grávida e na graduação da faculdade. Ao final, o homem se olha no espelho e se vê completamente deteriorado.

O vídeo termina com a frase: “Crack. A melhor saída é nunca entrar”.

Cracolândia: idas e vindas

Doria tem sido alvo de críticas desde que a primeira operação realizada no dia 21 de maio pela PM (Polícia Militar) e GCM (Guarda Civil Metropolitana), quando foram presos 36 suspeitos de tráfico que atuavam na região --na época, localizada na alameda Dino Bueno com a rua Helvétia, ponto tradicional de consumo de crack na capital paulista. A ação dispersou usuários para outras regiões do centro paulistano, como a praça Princesa Isabel.

O prefeito chegou a dizer que "a cracolândia acabou", mas depois mudou o discurso dizendo que se referia à "cracolândia física: aos prédios e edificações" onde ocorria tráfico de drogas. "Uma coisa é a cracolândia, outra coisa, são os dependentes", afirmou.

A demolição de um desses prédios deixou três feridos no final do mês passado. A Justiça chegou a proibir que a prefeitura demolisse prédios no local.

Logo após a operação policial, a então secretária municipal de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra, entregou o cargo. Patrícia chamou a ação de "desastrosa".

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PMs e GCM fizeram operação na cracolândia no dia 21 de maio
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

A prefeitura instalou 25 contêineres no cruzamento das ruas dos Protestantes e Gusmões, onde, na gestão do então prefeito Gilberto Kassab (PSD), em 2005, ficava a cracolândia. A proposta da estrutura é atender usuários, emergencialmente --entre os serviços oferecidos, estão banho, alimentação, pernoite e encaminhamento a outros equipamentos municipais. Mas a burocracia para ser atendido no local tem impedido que muitos usuários procurem ajuda.

Quem busca internação voluntária também tem encontrado dificuldades. Segundo a “Folha de S. Paulo”, a espera é de 10 horas, sem alimentação, nas cadeiras de plástico na tenda instalada pela gestão a poucos metros da cracolândia. A tenda integra o programa Redenção, proposta de Doria para solucionar o impasse da cracolândia, cujas diretrizes ainda não foram divulgadas.

Doria disse que vai ampliar a quantidade de profissionais para atender usuários de crack que buscam internação, sem dar detalhes de como isso seria feito. Segundo ele, 437 usuários de crack já haviam sido internados voluntariamente até esta quinta (22).

Migração x Ordem do PCC

Desde a noite da última quarta-feira (21), os usuários se deslocaram novamente para um terceiro endereço: a alameda Cleveland, a uma distância de uma quadra do primeiro endereço. Segundo informação apurada pelo UOL, a mudança de local teria sido uma ordem do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Uma figura conhecida como "general" da facção --abaixo apenas de Marcos Camacho, o Marcola, atualmente na Penitenciária de Presidente Bernardes (SP)-- encaminhou por meio de dez chefes de regionais da organização criminosa na capital a ordem para que a cracolândia deixasse a Princesa Isabel, e, "sem baderna e sem provocação aos PMs e aos GCMs", retornasse às imediações da Helvétia.

A reportagem apurou com uma fonte do Ministério Público que teria havido uma "negociação muito confederada e articulada" do poder público com o próprio tráfico.

O secretário estadual de Segurança Pública, Mágino Alves, classificou a ordem do PCC como "suposição". Segundo ele, a "eficiência da polícia" é que teria influenciado na mudança do fluxo. Mágino afirmou que o governo foi “pego de surpresa”.