Topo

Doria diz que 'cracolândia física' acabou, não os 'dependentes químicos'

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), esteve em coletiva com a primeira-dama, Bia Doria, e o padre Julio Lancelotti, coordenador da Pastoral de Rua - Janaina Garcia/UOL
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), esteve em coletiva com a primeira-dama, Bia Doria, e o padre Julio Lancelotti, coordenador da Pastoral de Rua Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

25/05/2017 14h05

Quatro dias depois de afirmar que "a cracolândia acabou", o prefeito João Doria (PSDB) disse nesta quinta (25) que se referira, na realidade, à "cracolândia física: aos prédios e edificações" onde ocorria tráfico de drogas. "Uma coisa é a cracolândia, outra coisa, são os dependentes", afirmou.

A declaração foi dada no mesmo dia em que reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que, ainda na região da Luz, na Praça Princesa Isabel, a poucos metros da cracolândia oficial, usuários de crack se concentram e comercializam pedras da droga a R$ 4.

Nunca dissemos que as cracolândias deixariam de existir. Os prédios, as edificações, isso acabou. Outra coisa são os dependentes químicos, cerca de 400

João Doria, prefeito de São Paulo

"Não dissemos que isso acabaria em um passe de mágica", completou o tucano, salientando que a "ação longa e contínua" precisa ser feita não só pela municipalidade, como pelos governos federal e do Estado.

Doria participou de uma entrevista coletiva convocada para divulgar a doação, "sem contrapartida para a prefeitura", de 20 mil cobertores a pessoas em situação de rua. A doação, estimada em R$ 400 mil, foi feita pela empresária Luiza Trajano, proprietária do Magazine Luiza, e teve entre os convidados o padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral de Rua, da Igreja Católica.

O religioso, apresentado pelo prefeito como "um orientador", cobrou o tucano para que a GCM (Guarda Civil Metropolitana) não retire os cobertores de quem vive na rua --como os guardas fizeram recentemente, apesar de decreto da administração anterior ter vetado esse tipo de iniciativa.

"Não vai ser dado com uma mão e tirado com a outra. Não gostaríamos, e seria terrível, que alguém morresse de frio", afirmou o coordenador da pastoral, para pedir "que houvesse um gesto humanitário, especialmente no inverno, de que a zeladoria urbana com a GCM" não retirassem os cobertores das pessoas na rua.

Liminar da Justiça de São Paulo proíbe remoção compulsória

redetv

Lancelotti disse lamentar a ação da GCM e da Polícia Militar na cracolândia, desde domingo, e que culminou com a demolição de parte de uma pensão em que três pessoas ficaram feridas.

"Causa muita tristeza o uso da força policial contra os usuários. O tráfico tem que ser coibido, isso é tarefa do Estado, mas temos que priorizar assistência e saúde", pediu. "Que o cobertor seja dado, e por ninguém tirado", reforçou. "E assim será, padre", respondeu o prefeito.

Além das remoções na região da cracolândia, a administração municipal tenta ainda na Justiça autorização para internar compulsoriamente usuários de drogas que vaguem pelas ruas da capital.

Contrário à proposta, o Ministério Público Estadual afirmou ontem, por meio do promotor de saúde pública Arthur Pinto, que ela se tratava de "uma caçada humana sem precedentes".

"Há um excesso na linguagem do promotor --que é uma boa pessoa. Mas não é uma colocação razoável a um promotor", reagiu Dória, para quem isso "não inibe nossa relação e a altivez com que ela vai prosseguir".

'Pito' em jornalista

Indagado por um repórter da TV Record sobre nota em que a Associação de Juristas para a Democracia repudiava a ação municipal na cracolândia e a classificava como "política higienista e de extermínio", Doria se mostrou aborrecido.

"Convenhamos que alguém que faz esse tipo de manifestação nem merece uma resposta", respondeu. E arrematou: "Está cheio de associações provenientes de grupos ideológicos. Isso merece uma pergunta pública em um ambiente de coletiva de imprensa? Me perdoe. Você é um jornalista, tem que ter discernimento", repreendeu.

"Que associação é essa? Que história ela tem? Quem são os seus sócios? Você sabe?", indagou o prefeito.

Secretaria de Direitos Humanos é ocupada em São Paulo

Band Notí­cias