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Pai diz que tiro que matou criança em favela com UPP partiu de PM após ter casa invadida

Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

05/07/2017 11h21Atualizada em 06/07/2017 18h51

O pai da menina Vanessa Vitória dos Santos, 11, que morreu nesta terça-feira (4), atingida por um tiro na cabeça perto da porta de sua casa na comunidade Camarista Méier, zona norte do Rio, acusou policiais militares de terem invadido a residência da família à procura de traficantes. O pedreiro Leandro Monteiro, 39, afirmou nesta quarta-feira (5) que os policiais estavam dentro da casa quando a filha foi baleada. Ele disse acreditar que o tiro partiu da arma de um PM durante troca de tiros na região e que pretende processar o Estado.

“Primeiro entrou um policial na casa. Ele podia ter tirado minha filha lá de dentro. Depois chegaram outros. Eles cismaram que tinham bandidos em casa e ignoraram o fato de ter uma criança ali. A madrinha dela foi tirá-la do local, quando Vanessa foi colocar o chinelo para sair, ela foi atingida. Meu filho mais velho ajudou a socorrê-la”, afirmou Leandro Monteiro de Matos aos prantos.

Durante a ação, também houve confronto entre os policiais e traficantes na favela que conta com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). 

Em depoimento prestado ao setor de Inteligência da Coordenadoria de Polícia Pacificadora, o tenente Marcos Luiz afirmou não ter efetuado disparos dentro da casa da menina. Segundo nota enviada, o policial contou não ter visto a garota nem suspeitos, apesar de afirmar que foi alvo de dois disparos que ficaram no colete. Já o porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse que "os tiros vinham de trás da casa onde estava a menina Vanessa. O tenente Márcio Luiz entrou na casa. Quando eles estavam no interior da casa, a menina foi atingida por tiros disparados por criminosos que estavam do lado de fora".

Por meio de nota, o governo do Estado informou que o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) determinou à Secretaria de Estado de Direitos Humanos que preste toda a assistência à família e que a Secretaria de Segurança investigue o caso.

"Sabemos que é pouco diante dessa devastadora tragédia, mas faremos o possível para abrandar essa dor, que também é nossa. Estamos fazendo tudo a nosso alcance, junto com o governo federal, para solucionar a crise do Rio", disse o governador.

O secretário dos Direitos Humanos do Estado, Átila Nunes, recebeu a família da menina.

Até o final da manhã de hoje, o corpo de Vanessa não havia sido liberado no IML (Instituto Médico Legal). A Divisão de Homicídios está investigando o caso e todos os parentes da menina estão sendo ouvidos, segundo informou na manhã desta quarta a Polícia Civil.

Escola no Lins fechou após a morte de Vanessa - Antonio Scorza/Agência O Globo - Antonio Scorza/Agência O Globo
5.jul.2017 - Escola no Lins fechou após a morte de Vanessa
Imagem: Antonio Scorza/Agência O Globo

A Secretaria Municipal de Educação informou nesta quarta que mais de 2.500 alunos estão sem aula em razão de problemas relacionados a segurança pública. No total, são três escolas, sete creches e uma unidade EDI (Espaço de Desenvolvimento Infantil) localizadas na região do Complexo do Lins, de Acari e Vigário Geral, na zona norte carioca.

A menina chegou a ser socorrida numa viatura da UPP, mas morreu a caminho do Hospital Municipal Salgado Filho, no Meier. A avó da criança, Maria do Socorro, contou que a menina chegou a dizer à tia que estava com medo.

 

“Ela tinha acabado de voltar da escola. Era uma boa menina, gostava de estudar. Estava na porta da casa da tia, quando começou a agitação. Quando começou o tiro, ela disse que estava com medo. A madrinha chegou a pedir que ela saísse do portão, mas não deu tempo. Ela saiu respirando, mas não aguentou”

Maria do Socorro, avó de Vanessa

Vanessa era caçula de três irmãos e vivia na rua Maranhão, uma das vias da comunidade Boca do Mato, que integra o conjunto de favelas Camarista Meier.

Vanessa perdeu um tio da mesma forma há 5 anos

A avó contou ainda que Vanessa é a segunda pessoa a morrer na família, vítima da violência. “Há cinco anos, nós perdemos o tio dela. Ele também morreu baleado na cabeça, do mesmo jeito", lamentou.

Na ação, o subcomandante da UPP, tenente Márcio Luiz, também foi atingido por um dos disparos. O oficial foi baleado no ombro e levado para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins, e não corre risco de morte.

De acordo com o comando da UPP, o confronto começou após policiais em patrulhamento serem atacados a tiros por criminosos. O Batalhão de Choque e outras UPPs da região reforçam o policiamento na comunidade.

Tiroteios no Rio

Apenas nesta terça-feira (4), moradores do Rio denunciaram 16 pontos de tiroteio. Em uma semana, foram 168 confrontos registrados.

No último dia 30, Claudineia dos Santos Melo, grávida de 39 semanas, foi baleada na barriga na favela do Lixão, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Ela precisou ser submetida a uma cesariana de emergência.

De acordo com os médicos, o pequeno Arthur teve a coluna fraturada em duas vértebras e está paraplégico. Entretanto, o quadro não é irreversível, conforme informou o neurocirurgião e diretor do Hospital Municipal Moacir do Carmo, Eduardo França de Aguiar.

"Não avaliamos a medula ainda porque o importante é mantê-lo vivo, com respiração e alimentação. Mas, sim, ele pode voltar [a ter o movimento das pernas], disse o médico.

O estado de saúde do bebê é considerado gravíssimo. Além da coluna, Arthur teve os dois pulmões perfurados e passou por uma drenagem no órgão assim que nasceu. Ele respira por aparelhos e permanece sedado.