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Operação em 7 favelas do Rio tem 39 presos e deixa 26,9 mil alunos sem aulas, recorde no ano

Forças de segurança abordam moradores durante operação em favelas da zona norte do Rio de Janeiro - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Forças de segurança abordam moradores durante operação em favelas da zona norte do Rio de Janeiro Imagem: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, no Rio*

21/08/2017 06h43Atualizada em 21/08/2017 19h13

Ao menos 39 pessoas foram presas durante operação integrada das Forças Armadas e polícias em sete comunidades da zona norte do Rio de Janeiro nesta segunda-feira (21). Em decorrência da operação, 26.975 alunos estão sem aulas hoje em 41 escolas, 11 creches e 12 Espaços de Desenvolvimento Infantil, segundo a Secretaria Municipal de Educação. O número é recorde no ano, superando a marca da última sexta-feira (18), que foi de 19.423 alunos sem aula.

As unidades afetadas ficam no Complexo do Chapadão, Manguinhos/Benfica, Higienópolis, Maria da Graça, Rocha/Triagem, Jacaré/Jacarezinho, Complexo do Alemão, Del Castilho e Cachambi.

O subsecretário de Comando e Controle da Secretaria de Segurança Pública, Rodrigo Alves, atribui o fechamento das escolas, que prejudica milhares de estudantes, a criminosos que atuam na região e recebem os policiais a tiros em incursões nas comunidades. "Quem aterroriza a população são os criminosos, não a polícia", disse ele, sobre relatos de moradores que não puderam sair hoje de suas casas nas favelas.

Também foram apreendidos 311 kg de drogas (300 kg de maconha e 10 kg de haxixe), sete veículos, 25 motos, sete armas fogo --nenhum fuzil-- e 250 munições.

Ao todo, a operação envolve mais de 6.000 homens --5.000 militares das Forças Armadas, que ajudam no cerco --posicionando-se no entorno das comunidades para dar apoio; 300 PMs; 600 policiais civis; 30 da Polícia Federal e 140 da Polícia Rodoviária Federal.

A ação, que também conta com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública e da Agência Brasileira de Inteligência, foi realizada para cumprir ordens judiciais relacionadas ao tráfico de drogas, roubo de cargas e outras ações criminosas.

Foram alvo da ação as comunidades do Jacarezinho, Alemão, Manguinhos, Mandela, Bandeira Dois, Parque Arará, além do Condomínio Morar Carioca.

"A operação ocorreu sem se disparar um tiro e sem vítimas. Até agora é satisfatório [o resultado] e 39 criminosos foram tirados das ruas. Quero pedir que a população colabore, ligue para o Disque Denúncia e seja corresponsável para trazer segurança ao Rio", declarou o ministro da Defesa, Raul Jungmann.

Vazamento em redes sociais

Um dos detidos é o soldado do Exército Mateus Ferreira Lopes, 19, preso pela Decod (Delegacia de Combate às Drogas) em Niterói, na região metropolitana do Rio, suspeito de ter vazado informações para criminosos das comunidades onde a operação está sendo realizada. O soldado usou as redes sociais para alertar grupos e pessoas sobre a ação. Entretanto, por ser um soldado, seu grau de conhecimento era pequeno.

Operação RJ - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Soldados revistam morador durante operação integrada em favelas da zona norte do Rio
Imagem: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Ele foi preso em cumprimento a um mandado de prisão temporária, que dura 30 dias, por associação ao tráfico. De acordo com o Comando Militar do Leste, divisão do Exército responsável pelo Rio de Janeiro, o suspeito estava sendo monitorado e acabou preso.

"Uma operação como essa, com quase 7.000 homens e mulheres, tem sempre que conviver com risco de vazamento. Um soldado não tem informações estratégicas por sua posição. Estamos alerta e integrados com a inteligência. É ruim, é, mas é mínimo", afirmou o ministro.

Segundo o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, outras operações integradas com as Forças Armadas devem acontecer.

"Com esse nível de articulação e de inteligência, estamos detectando problemas e o saldo é positivo. Todo dia apreendendo armas. Foram 712 só em julho. Aqueles [criminosos] que não foram objeto de ação agora, aguardem sua vez", afirmou Sá.

Para Sá a população deve apoiar as UPPs, mesmo com problemas enfrentados nas áreas onde estão instaladas.

"Reconhecemos que não tem o mesmo resultado de 2008 e 2009. A UPP, mesmo com problema, merece apoio. Nosso dever é não desistir. Se crime aumentar na sua área você, vai pedir polícia e não que não haja polícia. Em breve, teremos notícia do que vamos fazer com as UPPs e o policiamento", afirmou Sá.

Confrontos entre policiais e traficantes

Desde que o atirador de elite da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil, Bruno Guimarães Buhler, foi morto, no último dia 11, os tiroteios se intensificaram na comunidade do Jacarezinho. Em dez dias de confronto entre policiais e traficantes, sete pessoas morreram.

Durante toda a semana alunos de escolas na região tiveram as aulas suspensas por questões de segurança. Serviços na comunidade, como coleta de lixo, postos de saúde e transporte, foram afetados, e a rotina de tiroteios diários acabou por expulsar moradores do Jacarezinho.

Mais de 90 policiais militares foram assassinados no Estado do Rio de Janeiro este ano. Em 2017, o Estado teve um PM morto a cada dois dias. O número inclui mortos em serviço (21), em folga (56) e aposentados (20), todas vítimas de ações violentas. Nesse ritmo, caminha em direção à assombrosa marca de 200 casos em um ano --o maior número foi atingido em 1994, quando morreram 227 policiais.

O aumento da violência na capital fluminense é latente. No primeiro semestre deste ano, houve um aumento de 21% no número de mortes violentas, em comparação com o mesmo período do ano passado. Quando se separam as mortes violentas ocorridas após oposição a intervenção policial, indicador que sugere confronto, esse número sobe para 45%.