Topo

Polícia sabia que Rocinha seria invadida pelo bando do traficante Nem

18.set.2017 - Moradores observam veículo atingido por disparos durante tentativa de invasão - Fábio Guimarães/Agência O Globo
18.set.2017 - Moradores observam veículo atingido por disparos durante tentativa de invasão Imagem: Fábio Guimarães/Agência O Globo

Mônica Garcia

Colaboração para o UOL, no Rio

18/09/2017 16h43Atualizada em 18/09/2017 18h25

Desde que os traficantes Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, e Rogério Avelino, o Rogério 157, ligados à mesma facção criminosa romperam no fim do ano passado, a Rocinha, comunidade da zona sul do Rio de Janeiro, vive sob tensão. A informação de que a Rocinha seria invadida e de que uma tentativa da retomada seria feita pelo ex-chefe do local, o Nem, detido em um presídio de segurança máxima em Porto Velho (RO), era de conhecimento da Subsecretária de Inteligência do Rio de Janeiro. Segundo o delegado Antônio Ricardo, titular da 11ª DP, da Rocinha, a Polícia Civil tinha ciência de que haveria uma situação incomum na comunidade neste fim de semana.

Entre domingo (17) e esta segunda-feira (18), quando acontece uma operação com 400 policiais na comunidade, ao menos quatro pessoas morreram. O comércio dentro da comunidade está fechado, mais de 3.000 estudantes da região não tiveram aulas e a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) não abriu hoje. Três pessoas foram detidas.

"A Polícia Civil sabia que teria uma movimentação anômala nesse fim de semana. Nós e a PM trocamos informações. A Subsecretária de Inteligência não nos passou o que aconteceria. Sabíamos a informação superficial, mas não tínhamos o detalhamento. Houve um mínimo planejamento. Tanto que poderia ter sido pior, com confrontos, e moradores e inocentes mortos", relatou Ricardo.

O porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, afirmou que a PM tinha conhecimento que, a qualquer momento, a invasão poderia ocorrer. Segundo ele, a escassez de recursos na corporação dificulta o trabalho.

Casa crivada de balas na Rocinha - Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro - Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro
Casa crivada de balas após confrontos de domingo na Rocinha
Imagem: Reprodução/Polícia Civil do Rio de Janeiro

"No campo teórico, é muito fácil falarmos sobre impedir a invasão através de planejamento, através da área de inteligência, porém, quando trazemos isso para o campo prático, fica mais difícil. Lidamos diariamente com uma escassez de recursos e, mesmo assim, atuamos para impedir que criminosos ajam. A PM lida com a possibilidade da Rocinha ser invadida pelo grupo criminoso do Nem há muitos meses. Mas lidamos com isso diariamente nas 1.200 comunidades carentes do Rio, que apontam e sinalizam que haverá uma invasão. Essa informação já percorre o ano todo, desde que a relação do Nem e do Rogério 157 azedou no fim do ano passado", disse Blaz.

De acordo com o Antônio Ricardo, o bando de Nem não conseguiu retomar o controle do tráfico de drogas na comunidade. Ainda segundo o delegado, Rogério 157 continua na comunidade, na parte alta. A mulher de Nem, Danúbia de Souza Rangel, que está foragida, também estaria na Rocinha. Contra Danúbia, há um mandado de prisão por associação ao tráfico.

PCC atua perto de favelas da ADA, diz delegado

Sobre a possibilidade de o PCC (Primeiro Comando da Capital de São Paulo) ter orquestrado com a ADA e o bando de Nem a invasão desse fim de semana, que contou com traficantes da Vila Vintém, São Carlos e Morro dos Macacos, o delegado disse que não tinha essa informação. Mas, segundo Ricardo, já se sabe que a facção paulista estaria agindo no Rio de Janeiro.

"Sabemos que o PCC está agindo no Rio e que tem um acordo de colaboração com a ADA para agir próximo às comunidades que eles possuem o controle do tráfico de drogas. Sabemos que diversos crimes, como os roubos de residências, estão com o PCC nessas regiões. Mas, nessa tentativa de invasão do Nem, ainda não temos a confirmação de que eles agiram em conjunto."

Tiroteio na Rocinha em tentativa de invasão de traficantes rivais

UOL Notícias

Uma moradora que pediu para não ter seu nome revelado afirmou que o clima é de tensão na Rocinha, principalmente, próximo à rua 2, na parte central da comunidade.

"Moro há 20 anos na Rocinha, criei meus filhos e netos aqui. O tráfico nunca acabou, mesmo com UPP, mas essa guerra voltar novamente é muito ruim. Moro perto da rua 2, onde o grande tiroteio aconteceu, uma guerra mesmo. Ontem revivi tudo novamente e foi assustador."

Segundo o delegado, até as 16h desta segunda-feira, havia três pessoas presas. Um homem foi morto pela manhã quando o Bope (Batalhão de Operações Especiais) se deparou com um homem baleado dentro da comunidade. Os agentes trocaram tiros com ele. O homem chegou a ser levado para o Hospital Municipal Miguel Couto, mas morreu.

Uma equipe da Polícia Civil fazia uma ronda na localidade conhecida como Trampolim, quando duas pessoas saíram correndo de um apartamento. No local, os policiais encontraram um "escritório" com grande quantidade de máquinas chupa-cabra (que rouba dados dos cartões em caixas eletrônicos), máquinas de passar cartões de crédito e débito, talões de cheques e cartões de créditos falsificados, máquinas caça-níqueis, computadores e uma agenda, além de uma máquina de clonar RGs e seis cédulas de RGs prontas que, segundo os agentes, provavelmente são falsificadas.