Vigia que incendiou creche em MG não seguiu tratamento psiquiátrico, diz perito
O vigia Damião Soares dos Santos, 50, autor do incêndio numa creche de Janaúba, norte de Minas Gerais, recebeu recomendação para passar por tratamento psiquiátrico, mas só passou por uma consulta com um psicólogo e não recebeu mais acompanhamento. O Ministério Público afirmou que investigará se houve algum tipo de falha das autoridades em coordenar tratamento para o suspeito ou se o ataque era inevitável.
A prefeitura de Janaúba, responsável pela creche, disse que também está apurando o caso. Segundo a administração, Santos parou de comparecer ao tratamento.
O vigia morreu devido a queimaduras ao colocar fogo em suas vítimas e também no próprio corpo.
O médico psiquiatra Dayvison Antonio Amilton Duarte de Abreu, do Departamento de Polícia Técnica de Minas Gerais, que atua na investigação do caso, afirmou que, ao menos desde o ano de 2014, Santos sofria de um “delírio persecutório”, doença mental na qual a pessoa acredita estar sendo perseguida ou traída por algum motivo não explicado.
Na época, o vigia desconfiava que sua mãe, hoje com 83 anos, estava colocando veneno em sua comida -- por isso teria decidido ir morar sozinho. O caso chegou ao conhecimento do Ministério Público.
A Promotoria mineira determinou, então, que uma psicóloga verificasse a situação da família, o que foi feito em 2014. Porém, o encaminhamento do pedido de tratamento psiquiátrico do vigia recomendado pela psicóloga não andou.
“Ele deveria estar em acompanhamento psiquiátrico, se isso estivesse ocorrendo e ele tomando a medicação certa, talvez não tivesse culminado nessa tragédia toda”, afirmou. O perito disse que o vigia só teve uma consulta com psicólogo.
Segundo o prefeito de Janaúba Carlos Isaildon Mendes (PSDB), no cargo desde janeiro deste ano, o atendimento psiquiátrico ao vigia não foi adiante porque ele não compareceu às sessões.
O serviço psiquiátrico do município é oferecido de forma gratuita no Centro de Atenção Psicossocial com médico especialista, segundo o prefeito.
Esse modelo de atendimento fornece assistência ambulatorial, mas não prevê medidas mais sérias como a internação forçada de pacientes.
Assessores do prefeito disseram que será verificado se a secretaria de saúde entrou em contato com a creche para tratar do problema psiquiátrico do servidor. Porém, a princípio o caso era um problema particular de Santos não relacionado à sua atividade profissional.
"Esse vigia trabalhava na creche desde 2008, era vigia noturno. Em nenhum momento tinha contato com as crianças, ele chegava após o expediente. Então, não poderíamos imaginar que ele pudesse cometer essa tragédia, a escola não tinha nenhum motivo para desconfiar", disse o prefeito.
"Ele tinha férias acumuladas e tirou três meses de férias, depois foi levar um atestado dizendo que estava passando mal e cometeu essa barbaridade. Nenhuma autoridade podia imaginar que isso poderia vir a acontecer”, afirmou Mendes.
O promotor público estadual Jorge Barretto disse que abrirá um inquérito civil para acompanhar o caso a fim de descobrir se houve algum tipo de falta do município ou do Estado -- ou se o caso era inevitável.
“Haverá um espaço para as responsabilidades administrativas. Mas tudo sinaliza para um ato bárbaro”, afirmou Barretto.
O suspeito estava em surto na hora do crime?
Na hora do crime, segundo o delegado Bruno Fernandes, havia entre 55 e 60 pessoas na área de recreação da creche, que é municipal e funciona desde 2000. Cerca de 80 alunos estão matriculados na unidade educacional.
Santos foi à creche e por volta de de 9h40 começou a lanchar uma substância combustível em crianças e sobre o próprio corpo.
“Ele chegou à porta da sala e começou a jogar o produto, as crianças chegaram perto, quando um adulto viu ele já arremessou nos demais. Segundo a perícia, o local se transformou num forno, devido ao teto de pvc”, disse o delegado.
Sem alvará
Outro fato que veio à tona com a tragédia, foi a inexistência de um alvará dos bombeiros autorizando o funcionamento da creche Gente Inocente. O comando do Corpo de Bombeiros afirmou que não sabia da existência da entidade.
“Solicitamos ao Corpo de Bombeiros que seja feita uma vistoria em todas as 23 unidades educacionais da cidade, incluindo as creches. É uma situação da qual estamos tirando um aprendizado e vai servir para aprimorarmos a nossa atuação no quesito segurança”, disse o prefeito de Janaúba.
O comandante do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Primo Lara de Almeida Júnior, afirmou que, mesmo que a creche tivesse um sistema de segurança contra incêndios, que a tragédia, pela forma que aconteceu, não teria como ser evitada. “Há casos em que há pouco o que ser feito, esse é um deles”, disse.
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