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Prisão de suspeito desvenda como funcionava o "tribunal do crime" do PCC na zona leste de SP

10.out.2017 - Fabiano Costa de Oliveira, suspeito de ter cargo de liderança no PCC - Divulgação/Deic
10.out.2017 - Fabiano Costa de Oliveira, suspeito de ter cargo de liderança no PCC Imagem: Divulgação/Deic

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

11/10/2017 17h42Atualizada em 11/10/2017 18h17

A prisão na terça-feira em São Paulo de um homem apontado como o responsável por coordenar os chamados "tribunais do crime" da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na região leste da cidade trouxe mais informações para a polícia sobre como funcionam os julgamentos ilegais praticados pela facção.

Mas o que são e como funcionam esses tribunais ilegais que funcionam com estrutura semelhante à de um júri popular?

Segundo a polícia, esses julgamentos ilegais são geralmente realizados para avaliar condutas de membros da facção ou de pessoas que vivem em sua área de influência.

Eles são acusados pelos criminosos de violar as regras do grupo, são "julgados" e então perdoados ou condenados -- sendo que a punição mais comum é a pena de morte.

Um criminoso pode ser punido, por exemplo, se cometer um assassinato não autorizado pelo PCC ou se trair outro integrante da organização. 

"Na prática, o chamado "tribunal" pode ser acionado para atuar na solução de conflitos entre inimigos ou entre integrantes da própria facção. Sempre que alguém infringir qualquer uma de suas regras (do PCC), assim definidas no chamado estatuto ou mesmo em algumas regras do chamado usos e costumes", afirmou o delegado Fabiano Fonseca Barbeiro, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado).

"Juiz"

Fabiano Costa de Oliveira, 35, conhecido no mundo do crime como Haole, estava foragido desde maio deste ano quando a Justiça decretou sua prisão. Contra ele havia mandados de prisões expedidos nas cidades de Cerquilho, Franco da Rocha e Guarulhos -- por crimes como roubo e tráfico de drogas. Pego de surpresa, ele não esboçou reação, nem tentou reagir. 

A reportagem tentou falar com Oliveira para perguntar sobre as acusações, mas ele já estava sob custódia da polícia e incomunicável. Seus advogados de defesa também não foram identificados até o fechamento dessa reportagem. 

Segundo a polícia ele teria o cargo de "sintonia final de cadastro" da zona leste.

A prisão ocorreu durante investigações da 6ª Delegacia de Patrimônio do Deic. Para o delegado Barbeiro, à frente das investigações, a prisão de Oliveira poderá ajudar a debilitar a estrutura da facção criminosa na zona leste.

"Este criminoso tem 35 anos e algumas passagens criminais pela prática de crimes de lavagem de dinheiro, estelionato, e roubos", afirmou Barbeiro ao UOL

Ainda de acordo com Barbeiro, "este indivíduo é considerado de alta periculosidade, não só por seus antecedentes criminais, mas também por conta de seu papel dentro da organização criminosa que integra."

Cemitérios clandestinos

01.mar.2016 - Delegado do Deic, Fabiano Fonseca Barbeiro - Gustavo Lima/Câmara dos Deputados - Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
01.mar.2016 - Delegado do Deic, Fabiano Fonseca Barbeiro, investigou "tribunal"
Imagem: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados

A polícia afirmou que há investigações sobre outros "tribunais do crime". "Recentemente, conseguimos interceptar um chamado 'tribunal do crime' em que a 'audiência' estava em pleno andamento, na região da zona leste, onde uma mulher estava prestes a receber sua 'pena'", informou o delegado.

Policiais que investigam o crime organizado pedem que a população faça denúncias quando suspeitarem de algo que tenha relação com o PCC. "Qualquer pessoa que tenha suspeita ou conhecimento da existência de alguma situação desta ou algo parecido que, por favor, entre em contato com nossa delegacia, através do telefone 2221-0300", pede o delegado Barbeiro.

Assim que são condenados pelo júri formado pelos criminosos da facção criminosa, o homem que está no cargo de "sintonia final de cadastro" sentencia a morte do réu. Após o assassinato, o corpo é enterrado em um dos vários cemitérios clandestinos utilizados pelo PCC no Estado.

09.out.2017 - Delegado Antônio José Pereira (dir.), do Deic, em vistoria a cemitério clandestino utilizado pelo PCC em Mauá (SP) - Reprodução/Deic - Reprodução/Deic
09.out.2017 - Delegado Antônio José Pereira (dir.), do Deic, em vistoria a cemitério clandestino utilizado pelo PCC
Imagem: Reprodução/Deic

Na última segunda-feira (9), a Polícia Civil identificou um desses cemitérios em Mauá, na Grande São Paulo. Lá, quatro pessoas, mortas após um "tribunal do crime" realizado em 27 de setembro deste ano, estavam enterradas. Eram três homens e uma mulher.

Segundo o Deic, Oliveira, detido nesta terça-feira, não tinha ligação com o cemitério clandestino identificado em Mauá.

A polícia suspeita que possa haver mais corpos enterrados na região.

De acordo com o delegado Antonio José Pereira, titular da 1ª Delegacia de Latrocínios do Deic, e que coordenou a investigação que descobriu o cemitério na segunda-feira, "não há dúvidas sobre a existência de outros locais para desova (de corpos). Sempre que tomamos conhecimento, providências são tomadas", afirmou ao UOL.

Veja como é um dos cemitério clandestinos do PCC

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