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Após ordem da Justiça, estudantes desocupam reitoria de universidade no Rio Grande do Sul

Luciano Nagel

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

01/12/2017 20h16

Estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no interior do Rio Grande do Sul, desocuparam na quinta-feira (30) a reitoria de instituição após a Justiça autorizar a reintegração de posse do prédio. Os jovens haviam invadido o local para protestar e cobrar ações da universidade contra pichações de cunho racista feitas anonimamente em salas do campus.

A reitoria estava ocupada desde a última sexta-feira (24) pelo movimento intitulado Ocupação Antirracista-Reitoria/UFSM e funcionários não conseguiam trabalhar. A liminar que autorizou a reintegração de posse foi concedida no final da noite de terça-feira (28) pelo juiz da 2ª Vara Federal, Jorge Luiz Ledur Brito.

Os estudantes estavam descontentes pois, em ao menos três ocasiões, pessoas ainda não identificadas fizeram pichações com frases de cunho racista e desenhos de símbolos nazistas em salas usadas por diretórios acadêmicos da universidade.

Os estudantes afirmaram que teria havido falta de diálogo por parte da reitoria e cobraram providências em relação aos casos de pichações.  

Caso a decisão judicial sobre a reintegração de posse não fosse cumprida pelos estudantes, a Polícia Federal seria acionada e cada aluno receberia uma multa no valor de R$ 1.000, conforme o despacho da Justiça Federal.

De acordo com o reitor da UFSM, Paulo Burmann, o pedido de reintegração de posse foi necessário, devido à resistência do grupo em negociar com a universidade.

“Foi muito difícil negociar com os estudantes. Em todos os movimentos que nós acompanhamos até o momento este foi o mais difícil, de total resistência. Eles chegaram ao extremo de terem colocado na porta de entrada do prédio um cartaz explícito dizendo - Sem negociação”, disse o reitor. Ele afirmou que desde o início atendeu todas as exigências feitas pelos ocupantes. 

“Claro que logicamente tem um prejuízo patrimonial e financeiro envolvido nisso (ainda não calculado), afinal de contas foram cinco dias que a administração ficou sem funcionar, mas o prejuízo maior mesmo foi com a imagem da UFSM e com as vítimas do racismo”, disse Paulo Burmann.

Os estudantes envolvidos no protesto criaram uma página em redes sociais onde publicaram exigências: a identificação e punição imediata dos responsáveis pelas pichações, a elaboração de uma campanha de combate ao racismo pela reitoria e a inserção de universitários negros nos espaços de atendimento ao estudante.

A reportagem do UOL tentou novamente, na tarde desta sexta-feira (01), contato com o grupo, que afirmou pela rede social que não se manifesta por telefone.
 
Em nota divulgada na página do Facebook do grupo, os estudantes pediram a criação de um órgão específico para tratar do caso das pichações e disserem que ele deveria ser composto por pessoas negras.
 
“Exigimos também que as pessoas que tiverem ações como estas (discursos de ódio, piadas, cyberbullying, agressão física e psicológica) sejam devidamente punidas de acordo com a legislação”, diz o comunicado.