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"É como nascer de novo, mas, desta vez, feliz", diz trans que trocou de nome em 2017

Marcelly de Souza Francisco 2 - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
Imagem: Bruna Prado/UOL

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

21/12/2017 04h00

Até o ano passado, Marcelly de Souza Francisco não existia oficialmente --seus documentos apresentavam outro nome. No ano que vem, ela não só existe perante a lei como será a única passista transexual no desfile de 2018 da Grande Rio, escola que pertence ao Grupo Especial do carnaval carioca.

Será uma conquista para a dançarina, que acumula cinco títulos de princesa trans do Carnaval --dois do Rio de Janeiro e outros três de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. 

Marcelly de Souza Francisco 1 - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
Imagem: Bruna Prado/UOL

Este é o primeiro de uma série de quatro depoimentos em que personagens relatarão histórias que foram marcantes para eles em 2017. O que foi mais importante para Marcelly é que ela, finalmente, trocou de nome: "É como se você tivesse nascido de novo, mas, desta vez, feliz", conta.

Marcelly diz que aos nove anos de idade já não se identificava com gênero masculino e chegou a ser questionada pelo pai se era homossexual. Aos 16 anos assumiu a transexualidade e saiu de casa por não ter, inicialmente, o apoio da família.

Morou com a tia e de favor na casa de amigos. Neste tempo começou a injetar hormônios para iniciar a mudança de aparência. O contato com a família era limitado. Somente aos 22 anos, Marcelly estreitou novamente os laços. Seis anos após sair de casa, a dançarina voltou a ser amiga da mãe e a ser presenteada com presentes femininos.

A reconciliação com o pai demorou ainda mais: 12 anos. Uma vez, em um dos concursos de Carnaval na Marquês de Sapucaí, o pai a reconheceu e ligou imediatamente para a mulher, perguntando como deveria chamar aquele que ele ainda considerava filho, e não filha.

Marcelly mora com o namorado no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio. Eles estão juntos há três anos e a dançarina tem o apoio da família dele.

"No início foi difícil, a ex-namorada disse à família que o Christian estava com um viado que à noite se vestia de mulher para fazer show. A família ficou em choque no início."

A rejeição ao namoro durou apenas dois meses, tempo de Marcelly e parentes de Christian se conhecerem. 

Amanhã, na continuação desta série de depoimentos, será a vez de uma pessoa que passou o ano procurando emprego, sem sucesso.