Topo

Em um ano, sites de filmes piratas arrecadam R$ 17 milhões com publicidade

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Marina Motomura

Do UOL, em Brasília

08/01/2018 04h00

O acesso dos brasileiros a sites piratas – que oferecem download ilegal de filmes e séries – somou 135 milhões de visitas mensais em 2016, considerando apenas os dez maiores do gênero, segundo pesquisa inédita realizada pelo instituto Ibope Repucom a pedido da MPA (Motion Picture Association – América Latina).

Para chegar ao link de download ilegal de seu filme ou série favorito, o internauta brasileiro clica em banners e ajuda a alimentar a rentável indústria da pirataria: somados, os dez maiores sites piratas do país arrecadaram pelo menos R$ 17 milhões com publicidade entre agosto de 2015 e 2016, ainda segundo o levantamento ao qual o UOL teve acesso.

A publicidade em veículos on-line tem aumentado, e não só nos sites piratas: em 2016, o mercado publicitário digital cresceu 26%, atingindo um investimento total de R$ 11,8 bilhões, de acordo com dados do IAB Brasil (Interactive Advertising Bureau), entidade que reúne as principais empresas do mercado digital no país.

O que muitos anunciantes não sabem é que o dinheiro investido por eles em publicidade acaba sendo usado em páginas ilegais. Isso porque o mercado publicitário tem optado pelas chamadas “redes de anunciantes”, que usam algoritmos que colocam os anúncios em veículos que recebem mais cliques – e a audiência gerada por sites de pirataria é alta (veja tabela abaixo). 

sites piratas -  -

O site pirata com maior número de visitantes em 2016, o FilmesOnlineGratis.Net, tinha média de 57,6 milhões de visitas por mês – e agora está fora do ar, derrubado pela Polícia Federal. Dos 153 sites pesquisados pelo Ibope, 44 tinham média mensal de acessos superior a 1 milhão.

“É a mesma coisa que anunciar na [rua de comércio popular] 25 de Março. O número de pessoas circulando na 25 de Março é estrondoso. Mas o poder de consumo talvez precise ser avaliado de uma forma mais minuciosa”, diz Cristiane Camargo, diretora executiva do IAB.

Remoção de conteúdo ilegal esbarra na lei

Além de receber receita publicitária para se manter, os sites de download ilegal têm outro ponto a seu favor: a dificuldade de remoção de conteúdo. “A maioria dos sites piratas está hospedada fora do país, e isso impede que a gente consiga mandar notificação judicial para a empresa que hospeda o site”, diz Ygor Valério, vice-presidente Jurídico e de Proteção de Conteúdos da MPA.

Em 2015, uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara dos Deputados investigou crimes cibernéticos e recomendou, entre outras medidas, que sites piratas fossem bloqueados sob ordem judicial. “Quando o site está hospedado no Brasil, conseguimos algumas derrubadas, como o caso da Baleia Azul. Mas os sites mais profissionais não se hospedam no Brasil, e [a lei] não tem alcance através do Marco Civil da Internet”, disse ao UOL o subrelator da CPI, deputado Sandro Alex (PSD-PR).

A CPI encaminhou o projeto de lei 5204/2016 ao Congresso Nacional, que “possibilita o bloqueio a aplicações de internet por ordem judicial”. O texto, no entanto, está parado na Comissão de Ciência e Tecnologia e enfrenta resistências de parlamentares, que veem o possível bloqueio como “censura”. “Mas não há liberdade de expressão em sites dedicados exclusivamente ao crime”, rebate Sandro Alex.

site pirata com anuncio - Reprodução - Reprodução
Reprodução de anúncio em site de download ilegal de filmes e séries
Imagem: Reprodução

Mas existem ferramentas no mercado publicitário que restringem anúncios no meio digital, em que é possível fazer filtros e até mesmo criar “listas negras” de páginas onde determinado anunciante não queira expor seu produto, segundo Cristiane Camargo, do IAB. No entanto, segundo ela, os filtros que poderiam impedir os anúncios são pouco usados por desconhecimento, e não por má-fé.

“[A ferramenta] precisa ser melhor divulgada para todo mundo, ainda não é uma coisa que está muito estabelecida para todas as partes [do mundo publicitário]. Quando surgem novas tecnologias, surgem novos problemas”, afirma Cristiane.