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Mãe acusa seguranças do Pão de Açúcar de espancar seu filho por comer chocolate sem pagar

11.fev.2018 - Marcas deixadas em rosto de adolescente por tiros disparados com arma de air-soft de seguranças da unidade Jabaquara do Pão de Açúcar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marcas deixadas em rosto de adolescente por tiros disparados com arma de pressão por seguranças do Pão de Açúcar
Imagem: Arquivo pessoal

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

15/02/2018 13h37Atualizada em 16/02/2018 11h43

A mãe de um estudante de 16 anos acusa três seguranças do supermercado Pão de Açúcar de espancar seu filho após ele comer uma barra de chocolate sem pagar. O fato, segundo ela, ocorreu na noite de domingo (11), em uma unidade no Jabaquara, zona sul da capital paulista.

Segundo a microempresária Luciana Cruz Simões, 36, o filho foi ao mercado por volta das 23h30 realizar a compra de alguns produtos. Ele, no entanto, levou uma barra de chocolate sem pagar. Na saída, os seguranças o abordaram questionando: "Você sabe o que fez, né?". O jovem respondeu que voltaria ao caixa para pagar. 

A mãe publicou o caso em seu Facebook na quarta-feira (14). Por volta das 13h desta quinta (15), mais de 13 mil pessoas tinha curtido a postagem e mais de 7 mil pessoas haviam compartilhado a informação. Após a repercussão, a publicação foi excluída.

"Ele errou. Logicamente. Quando os seguranças abordaram, ele falou: 'Sei o que fiz. Vou voltar e pagar'. Mas os seguranças falaram que iriam conversar numa salinha", afirmou a mãe ao UOL. Com medo de ser agredido, o adolescente disse que gritaria caso os seguranças se aproximassem, reafirmando que voltaria ao caixa para pagar o item.

Em nota, o Grupo Pão de Açúcar afirmou que afastou os seguranças e que não compactua com atos de violência (leia o posicionamento do grupo mais abaixo).

"Quando ele [o filho] disse que ia gritar, os seguranças ficaram com raiva e falaram: 'Ah, é? Se gritar, vai apanhar mais'". Na sequência, de acordo com a mãe, que registrou Boletim de Ocorrência por lesão corporal no 26º DP (Distrito Policial), no Sacomã, os seguranças passaram a desferir socos no rosto e nariz do adolescente.

"Ficaram 10 minutos [agredindo]. Entre as agressões, eles [seguranças] falavam: 'A gente conhece malandrinho que nem você'". O jovem é negro. Para a mãe, branca, o filho foi vítima de racismo. "Isso aconteceria com um branco? Levo meus filhos em supermercado desde quando eles eram crianças. Antes, achavam que eram meninos de rua. Agora, bandidos", disse.

Após as agressões físicas, o jovem ainda foi atingido seis vezes no rosto por uma arma de air-soft, que dispara um item de plástico. Na sequência, o jovem teve de arrumar uma caixa de papelão, que caiu enquanto era agredido, e depois foi ao caixa e pagou R$ 9,81, segundo a mãe.

"Não estava em casa [no momento da agressão]. Quando cheguei, já o vi machucado. Ele estava bem arrasado. Tinha dito que as marcas no rosto haviam sido de uma briga em um bloco de Carnaval. Estranhei, porque ele é tranquilo. Insisti muito, até que o irmão dele, gêmeo, falou que foi o segurança do mercado. Ele não me queria contar o que tinha acontecido por vergonha", afirmou a microempresária.

"No mesmo momento, com a roupa que estava no corpo, fui ao mercado cobrar explicações. Os seguranças do momento disseram que não eram eles, porque fazem rodízios diários. Desceu o chefe de segurança e disse que mandaram embora os seguranças porque foi grave. O gerente apareceu, pediu desculpas e fui fazer o BO", complementou a mãe.

A delegacia de polícia investiga o caso através de um inquérito policial. O estudante foi atendido e medicado no hospital municipal Arthur Ribeiro de Saboya, na zona sul. A mãe informou que vai processar o supermercado.

Pão de Açúcar diz que não tolera atos de violência

Em nota, o Grupo Pão de Açúcar informou que não tolera atos de violência e que repudia qualquer comportamento desse tipo em suas lojas. "A conduta relatada não condiz com o procedimento exigido pela companhia, realizado pela equipe de segurança terceirizada contratada", afirmou.

"Assim que tomou conhecimento do caso, a rede instaurou um processo interno de apuração, notificando a empresa a prestar todos os esclarecimentos e afastando imediatamente os envolvidos, até que o caso seja esclarecido junto aos órgãos competentes. Além disso, procedeu com o reforço dos processos internos de conduta", completou a empresa.

Questionada sobre qual é a empresa que presta serviços de segurança na unidade, o grupo não se manifestou.

Empresa terceirizada afirma que seguranças foram demitidos

O Grupo G8 Comando, empresa terceirizada responsável pela administração dos seguranças que atuam na unidade do Pão de Açúcar, informou ao UOL que os seguranças envolvidos foram identificados e demitidos. 

"O grupo não tolera qualquer suspeita de desvio de conduta de seus colaboradores e, ainda em respeito às políticas exigidas pelo Pão de Açúcar para os seguranças em suas lojas, desligou imediatamente os três colaboradores envolvidos no relato da unidade do Jabaquara. Paralelamente a essa decisão, a companhia abriu uma sindicância interna para apurar o ocorrido e tomar as demais medidas necessárias", afirmou a empresa, por meio de nota oficial.

"O Grupo salienta ainda que trabalha dentro das determinações da lei 7102 e que não opera com armas de air soft, fato que também será investigado pelas partes. Por fim, a empresa reforça que a abordagem ocorreu no momento em que o jovem saía da loja com itens não pagos e que lamenta qualquer postura que tenha sido tomada por seus funcionários em total desacordo com as políticas do Grupo G8 e exigidas pelo Pão de Açúcar", complementou a empresa terceirizada.