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Taxa de homicídios de negros cresce 23% em 10 anos; mortes de brancos caem

Familiares de vítimas de chacina em Osasco (SP) fazem ato na av. Paulista em agosto de 2016 - Gero/Estadão Conteúdo
Familiares de vítimas de chacina em Osasco (SP) fazem ato na av. Paulista em agosto de 2016 Imagem: Gero/Estadão Conteúdo

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/06/2018 11h00Atualizada em 05/06/2018 12h46

A violência letal intencional no Brasil cresce contra negros (pretos e pardos) e regride contra não negros (brancos, amarelos e indígenas), segundo revelam os dados do Atlas da Violência 2018, que traz dados do Ministério da Saúde e foi divulgado nesta terça-feira (5) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Entre 2006 e 2016, último ano com dados disponíveis para o levantamento, a taxa de homicídios de indivíduos não negros diminuiu 6,8%. No mesmo período, a taxa entre a população negra saltou 23,1% e foi a maior registrada desde 2006 --ano inicial da série histórica. No país, somando todas as raças, a taxa de homicídios cresceu 13,9% no mesmo período.

O estudo revela que, em 2016, a população negra registrou uma taxa de homicídios de 40,2 mortes por 100 mil habitantes, o mesmo indicador para brancos, amarelos e indígenas foi de 16. Considerando a população como um todo, o país atingiu o recorde em 2016 de 30,3 homicídios a cada 100 mil pessoas.

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De acordo com o levantamento, 71,5% das pessoas que foram assassinadas no país no 2016 eram pretas ou pardas. As maiores taxas de homicídios de negros estão em Sergipe (79 por 100 mil habitantes) e no Rio Grande do Norte (70,5 habitantes por 100 mil).

Entretanto, segundo o estudo, o caso que mais chama a atenção é o de Alagoas, já que o estado teve a terceira maior taxa de homicídios de negros (69,7 por 100 mil habitantes) e a menor taxa de homicídios de não negros do Brasil (4,1). 

"Em uma aproximação possível, é como se os não negros alagoanos vivessem nos Estados Unidos, que em 2016 registrou uma taxa de 5,3 homicídios para cada 100 mil habitantes, e os negros alagoanos vivessem em El Salvador, cuja taxa de homicídios alcançou 60,1 por 100 mil habitantes em 2017", explica o documento.

Jovem negro é a principal vítima de homicídios

Segundo o Atlas, a desigualdade racial no Brasil "se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança". 

"Os negros, especialmente os homens jovens negros, são o perfil mais frequente do homicídio no Brasil, sendo muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não negros. Por sua vez, os negros são também as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil", afirma o estudo. 

Os pesquisadores ainda apontam que é preciso políticas específicas para tentar frear o número de mortes entre a população negra.

"Para que possamos reduzir a violência letal no país, é necessário que esses dados sejam levados em consideração e alvo de profunda reflexão. É com base em evidências como essas que políticas eficientes de prevenção da violência devem ser desenhadas e focalizadas, garantindo o efetivo direito à vida e à segurança da população negra no Brasil", sugere o Atlas. 

Taxas de homicídios de negros*:

  • 2006 - 32,7
  • 2007 - 32,4
  • 2008 -  33,7
  • 2009 - 34,3
  • 2010 - 36,5
  • 2011 - 35,1
  • 2012 -  36,7
  • 2013 -  36,7
  • 2014 - 38,5
  • 2015 - 37,7
  • 2016 - 40,2

*Por 100 mil habitantes