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Idosa acusada de chamar jovem de "macaca" tem problemas psiquiátricos, diz filha

Naiara Albuquerque

Colaboração para o UOL

30/07/2018 15h15

 "Ela tem problemas psiquiátricos, vai de um hospital para outro". É o que diz Ana Célia de Almeida Moraes, filha da idosa Argemira Ribeiro, acusada pela estudante e youtuber Alanne França, de 21 anos, de chamá-la de "macaca" e de agredi-la dentro de um ônibus em São Paulo na última quarta-feira (25). A mulher de 62 anos foi presa em flagrante por injúria racial e lesão corporal e só foi liberada após pagamento de R$ 1.000 como fiança.

Ao UOL, Ana Célia explica que vai comprovar os problemas de saúde da mãe e que recorrerá da decisão. "Somos pobres e trabalhamos muito. Inclusive o dinheiro pago na delegacia foi o dinheiro da aposentadoria dela, e que iríamos usar para comprar seu remédio", afirma. 

A filha também defende a mãe das acusações. "É um costume de pessoal do Nordeste de chamar o pessoal de macaco. Minha mãe não é racista, inclusive boa parte da nossa família é negra", argumenta. "Minha mãe entrou no ônibus errado e na hora errada."

Para Ana Célia, fotos e vídeos divulgados nas redes sociais da estudante violam o direito de imagem de Argemira. "Em nenhum vídeo aparece minha mãe xingando ela. Foi ela que a chamou de vagabunda, disse que não gostava de velhos e puxou o braço dela", afirma.

Em um relato no Facebook que já passa das 104 mil curtidas e 62 mil compartilhamentos, Alanne dá a sua versão de como tudo aconteceu. No ônibus, Argemira Ribeiro sentou-se ao lado da estudante e uma criança pisou no pé da idosa, que começou a levantar a voz. Segundo a estudante, foi nesse momento em que interveio tentando acalmá-la, enquanto teria tocado em seu abraço. "Ela empurrou minha mão e começou gritar comigo com os dizeres 'macaca, preta nojenta, desencosta de mim macaca dos infernos'", conta.

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Foi então que a denunciada teria começado a jogar seus sapatos na direção da jovem, chamando-a de "macaca e "preta nojenta". "Se você gosta tanto de defender, tinha que começar se defendendo nascendo branca", teria dito a idosa.

O motorista então parou o ônibus e um passageiro ligou para a polícia. Argemira Ribeiro foi presa em flagrante e levada ao 99º DP do Campo Grande, na zona sul de São Paulo.

A Polícia Civil solicitou exames de corpo de delito para a Allane e para a mulher acusada de injúria racial e lesão corporal.

Injúria racial x racismo

Alanne relata que foi bem conduzida durante todo o processo na delegacia, mas que não entendeu o motivo que levou Argemira a responder pelo crime de injúria racial e não de racismo. Ela diz que vai recorrer da decisão. "O que me deixa triste é ela ter assinado por injúria racial, que é afiançável, e não por racismo, que é inafiançável e agora vai ser um corre danado pra processar essa mulher", afirma.

Ao UOL, José Vicente, advogado e reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, explica que há uma distinção na construção jurídica do tipo penal, do olhar e da compreensão da lei. Segundo ele, o crime de injúria racial é focada na honra e na dignidade de uma pessoa. Enquanto o crime de racismo tem uma intensidade maior e "relacionado a uma coletividade, como ofensas dirigidas aos negros ou aos judeus, por exemplo".

Segundo José Vicente, primeiramente, a interpretação do crime como sendo de injúria racial ou de racismo é feita na delegacia. Depois, a mais importante decisão fica a cargo do Ministério Público e da Justiça, que pode interpretar o caso de uma outra forma.