"Ligo para o celular, mas ela não atende", diz mãe de policial desaparecida em Paraisópolis
A mãe da soldado Juliane dos Santos Duarte, 27, desaparecida desde a madrugada de quinta-feira (2), tem o mesmo sentimento dos mais de cem policiais envolvidos na busca da PM desde a noite de ontem até a tarde desta sexta-feira (3): esperança de que ela esteja viva, mas angústia por algo de mau que possa ter acontecido.
A policial teria sido pega por quatro criminosos --alguns usavam touca e estavam armados--, após uma confusão em um bar dentro da favela de Paraisópolis, zona sul da capital paulista, na madrugada de quinta. Era a primeira madrugada dela das férias deste ano da corporação.
Segundo o corregedor da PM, coronel Marcelino Fernandes, a moto que a policial usava foi encontrada e a polícia trabalha na identificação dos envolvidos. "Deliberamos com o comandante do CPChq [Comando de Policiamento de Choque] operação saturação sem prazo para terminar. Ou seja: os batalhões de choque fazendo policiamento dia e noite na região. Entrevistando e revistando pessoas que entram e saem da comunidade. É uma ocupação territorial", afirmou.
A soldado é policial militar há dois anos. Lotada em uma companhia que faz patrulhamento no Jabaquara, bairro da zona sul da capital, Juliane mora apenas com a mãe, Cleusa dos Santos, 57, que sofre de câncer na medula óssea, em São Bernardo do Campo, no ABC.
"Eu liguei, eu ligo para o celular, mas ela não atende. Chama, mas não atende", afirmou a mãe, ao UOL. Cleusa era cobradora de ônibus antes de ser demitida, meses atrás. "Estou afastada com sérios problemas de saúde. A empresa me mandou embora e eu nem sabia que estava doente", disse.
Meu coração de mãe está assim: sabe quando você pega um pedaço de carne e faz um corte bem profundo? É assim que ele está. Jorrando muito sangue, pequeno, sofrendo. Mas a mente tem esperança. Meu racional está bem esperançoso.
Cleusa dos Santos, mãe da policial Juliane
Juliane é a filha mais nova de três irmãos (um homem de 34 anos e uma mulher de 32). A última vez que a família esteve junta, segundo a mãe, foi no nascimento de um sobrinho da policial, na segunda-feira (30).
"Minha filha [de 32 anos] teve um bebê. Ela foi para a maternidade no domingo de madrugada. Na segunda, [Juliane] saiu às 17h da maternidade e foi direto trabalhar. Dia 31 [terça-feira], ela tinha um bico para fazer e chegou em casa de madrugada", relatou a mãe.
"Dia 1º, ela saiu de férias. Por isso, ela deve ter marcado esse churrasco com esses amigos e não me contou. Ela sabe que eu ia falar 'não'. Eu sempre falo pra ela: 'você precisa ter cuidado onde anda, porque as pessoas por aí são muito violentas. Você sabe disso, trabalha com isso'", disse Cleusa.
Sequestro em Paraisópolis
Segundo as polícias Civil e Militar, Juliane estava em um bar, localizado na rua Melchior Giola, tomando cerveja com três amigas depois de um churrasco. A investigação aponta que o celular de uma das amigas sumiu em um determinado momento. A soldado interveio, mostrando a arma, se apresentando como policial e solicitando que, aquele que pegou, devolvesse o aparelho.
O celular não foi encontrado. Logo depois, quatro homens, com armas em mãos, chegaram ao local e pediram que informassem quem era a mulher que havia se apresentado como policial, segundo testemunhas que depuseram à polícia.
Essas testemunhas disseram que os criminosos sequestraram a PM. Ao menos dois tiros teriam sido escutados na sequência, já do lado de fora do bar, segundo a investigação. Não se sabe se a policial foi baleada.
Em entrevista ao UOL, o comandante-geral da PM paulista, o coronel Marcelo Vieira Salles, afirmou que mais de cem policiais estão buscando a policial desde a noite de quinta. "Estamos com tropas da Corregedoria, 16º batalhão, Choque e Rota na região para encontrá-la", disse.
Antes de ser nomeado chefe da PM, Salles foi comandante da zona oeste da cidade, entre maio de 2017 e abril de 2018, que inclui o local onde a PM desapareceu. "Paraisópolis é uma região complexa. No período que comandei a região, fizemos mais de 60 operações contra o tráfico de drogas local", afirmou.
Quem tiver informações que possam ajudar nas investigações pode ligar para os telefones 181 e 190, segundo informou a PM.
Alarme falso
Na manhã desta sexta-feira (3), um corpo chegou a ser encontrado, na rua Goiabeiras, em Paraisópolis. A perícia da Polícia Civil, no entanto, identificou que o corpo é de um homem. Uma investigação será feita no 89º DP (Distrito Policial), no Morumbi, zona oeste, para tentar elucidar quem é a vítima encontrada.
Delegado titular da delegacia do Morumbi, Antônio Sucupira disse que há dois boletins de ocorrência a partir do desaparecimento da policial militar: um referente ao corpo encontrado, registrado no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) como "morte suspeita", e outro, de desaparecimento, sobre o sumiço da PM, no DP do Morumbi.
Como o corpo encontrado estava com sinais de violência, uma das hipóteses que serão investigadas é de que o homem tenha sido vítima de um "tribunal do crime", ou seja, julgado e condenado à morte pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O corpo foi removido a um IML (Instituto Médico Legal) durante a manhã, segundo a SSP.
Em nota, a secretaria informou que a Polícia Civil está realizando diligências e ouvindo testemunhas, inclusive os amigos que estavam com a policial no momento do desaparecimento.
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