Delegados do Rio acusam Jungmann de fazer política com caso Marielle Franco
O Sindepol-RJ (Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro) e a Adepol-RJ (Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro) divulgaram nesta sexta-feira (2) nota pública em que lamentam "com veemência as declarações e nova tentativa do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, de capitalizar dividendos políticos em cima da investigação dos homicídios da vereadora Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes".
A investigação foi um pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, com base em dois novos depoimentos de testemunhas do caso. Os depoimentos foram tomados há cerca de um mês, segundo o ministro.
"Desta vez, com base em uma denúncia formulada por um miliciano homicida desacompanhada de qualquer outro elemento de prova que pudesse ratificar suas declarações e que ataca a própria Delegacia de Homicídios responsável por sua prisão, o ministro Raul Jungmann, dando maior credibilidade à palavra do referido criminoso em detrimento de agentes do poder público de notória história de combate à criminalidade, se apressa em expor e pôr em cheque a credibilidade das investigações, de uma instituição bicentenária como a Polícia Civil do Rio Janeiro", lê-se na nota assinada pelo presidente do Sindepol-RJ, Rafael Barcia, e o presidente da Adepol-RJ, Wladimir Sérgio Reale.
"Os signatários sabem que apenas cumprimos determinação legal expressa da PGR [Procuradoria-Geral da República] ao acionarmos a PF. Do contrário, estaríamos sujeitos a processo judicial", afirmou Jungmann ao UOL.
As entidades afirmam ainda que Jungmann encarna um dos maiores males da gestão da segurança pública no país. "Político profissional e sem qualquer habilitação na área, comanda um ministério responsável por uma matéria estritamente técnica, entretanto, não hesita em optar sempre por espaço na mídia e ganhos políticos, mesmo que em malefício da investigação e do trabalho dos profissionais de segurança."
Um dos depoimentos ouvidos pela PGR foi o do ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando de Curicica. Apontado como miliciano com atuação na zona oeste carioca, Curicica afirmou que integrantes da cúpula da Polícia Civil do Rio, incluindo o chefe da instituição, delegado Rivaldo Barbosa, são pagos por contraventores para obstruir investigações sobre homicídios no Estado. Ele fala que essa é uma das razões pelas quais a Polícia Civil "não tenha interesse" em elucidar o caso Marielle. Barbosa nega a acusação.
Uma testemunha considerada chave pela polícia informou que Curicica seria um dos envolvidos na morte de Marielle, o que ele nega. Ele se encontra atualmente preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN) --apesar de ser investigado no caso Marielle, ele está preso após condenação pela prática de outros crimes.
Investigação do caso Marielle Franco
A apuração para encontrar os responsáveis pelo crime continua a cargo do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Mas, segundo o ministro, o novo inquérito deverá levar a uma cooperação entre a PF e as autoridades locais do Rio. "A cooperação deve ajudar mutuamente a elucidação tanto de um caso quanto de outro", disse Jungmann.
Jungmann afirmou que as suspeitas levantadas pelos depoimentos indicariam a participação de agentes públicos envolvidos na investigação do caso Marielle em tentativa de atrapalhar a elucidação do crime.
Marielle foi assassinada no Rio de Janeiro, quando voltava de uma reunião política na noite de 14 de março, acompanhada de uma assessora -- que sobreviveu-- e do motorista Anderson Gomes.
Na rua Joaquim Palhares, na região central, um carro emparelhou com o veículo onde estava a vereadora e, de dentro dele, foram efetuados ao menos 13 disparos. Ela foi atingida por quatro tiros na cabeça, e Anderson, por três tiros nas costas.
O ponto escolhido para a emboscada, no bairro do Estácio, não possuía câmeras de segurança ligadas naquele momento.
Marielle foi a quinta vereadora mais votada do Rio nas eleições de 2016, com 46.502 votos. Na Câmara, ela presidia a Comissão da Mulher e tinha sido nomeada relatora da comissão que acompanharia a intervenção federal na segurança pública do Rio.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.