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Delegados do Rio acusam Jungmann de fazer política com caso Marielle Franco

14.out.2018 - Placas em homenagem a Marielle foram distribuídas no centro do Rio - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
14.out.2018 - Placas em homenagem a Marielle foram distribuídas no centro do Rio Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

02/11/2018 14h30

O Sindepol-RJ (Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro) e a Adepol-RJ (Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro) divulgaram nesta sexta-feira (2) nota pública em que lamentam "com veemência as declarações e nova tentativa do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, de capitalizar dividendos políticos em cima da investigação dos homicídios da vereadora Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes".

Jungmann informou na quinta-feira (1º) que a Polícia Federal vai investigar suspeitas de que uma organização criminosa estaria atuando com o objetivo de atrapalhar as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL).

A investigação foi um pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, com base em dois novos depoimentos de testemunhas do caso. Os depoimentos foram tomados há cerca de um mês, segundo o ministro.

"Desta vez, com base em uma denúncia formulada por um miliciano homicida desacompanhada de qualquer outro elemento de prova que pudesse ratificar suas declarações e que ataca a própria Delegacia de Homicídios responsável por sua prisão, o ministro Raul Jungmann, dando maior credibilidade à palavra do referido criminoso em detrimento de agentes do poder público de notória história de combate à criminalidade, se apressa em expor e pôr em cheque a credibilidade das investigações, de uma instituição bicentenária como a Polícia Civil do Rio Janeiro", lê-se na nota assinada pelo presidente do Sindepol-RJ, Rafael Barcia, e o presidente da Adepol-RJ, Wladimir Sérgio Reale.

"Os signatários sabem que apenas cumprimos determinação legal expressa da PGR [Procuradoria-Geral da República] ao acionarmos a PF. Do contrário, estaríamos sujeitos a processo judicial", afirmou Jungmann ao UOL.

As entidades afirmam ainda que Jungmann encarna um dos maiores males da gestão da segurança pública no país. "Político profissional e sem qualquer habilitação na área, comanda um ministério responsável por uma matéria estritamente técnica, entretanto, não hesita em optar sempre por espaço na mídia e ganhos políticos, mesmo que em malefício da investigação e do trabalho dos profissionais de segurança."

Um dos depoimentos ouvidos pela PGR foi o do ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando de Curicica. Apontado como miliciano com atuação na zona oeste carioca, Curicica afirmou que integrantes da cúpula da Polícia Civil do Rio, incluindo o chefe da instituição, delegado Rivaldo Barbosa, são pagos por contraventores para obstruir investigações sobre homicídios no Estado. Ele fala que essa é uma das razões pelas quais a Polícia Civil "não tenha interesse" em elucidar o caso Marielle. Barbosa nega a acusação.

Uma testemunha considerada chave pela polícia informou que Curicica seria um dos envolvidos na morte de Marielle, o que ele nega. Ele se encontra atualmente preso na Penitenciária Federal de Mossoró (RN) --apesar de ser investigado no caso Marielle, ele está preso após condenação pela prática de outros crimes.

Investigação do caso Marielle Franco

A apuração para encontrar os responsáveis pelo crime continua a cargo do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Mas, segundo o ministro, o novo inquérito deverá levar a uma cooperação entre a PF e as autoridades locais do Rio. "A cooperação deve ajudar mutuamente a elucidação tanto de um caso quanto de outro", disse Jungmann.

Jungmann afirmou que as suspeitas levantadas pelos depoimentos indicariam a participação de agentes públicos envolvidos na investigação do caso Marielle em tentativa de atrapalhar a elucidação do crime.

Marielle foi assassinada no Rio de Janeiro, quando voltava de uma reunião política na noite de 14 de março, acompanhada de uma assessora -- que sobreviveu-- e do motorista Anderson Gomes.

Na rua Joaquim Palhares, na região central, um carro emparelhou com o veículo onde estava a vereadora e, de dentro dele, foram efetuados ao menos 13 disparos. Ela foi atingida por quatro tiros na cabeça, e Anderson, por três tiros nas costas.

O ponto escolhido para a emboscada, no bairro do Estácio, não possuía câmeras de segurança ligadas naquele momento.

Marielle foi a quinta vereadora mais votada do Rio nas eleições de 2016, com 46.502 votos. Na Câmara, ela presidia a Comissão da Mulher e tinha sido nomeada relatora da comissão que acompanharia a intervenção federal na segurança pública do Rio.