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MP não pedirá interdição da casa de João de Deus por "cautela"

João de Deus, em foto de 2013 - Reprodução/Casa de Dom Inácio
João de Deus, em foto de 2013 Imagem: Reprodução/Casa de Dom Inácio

Guilherme Mazieiro*

Do UOL, em São Paulo

10/12/2018 13h08

Promotores da força-tarefa criada para investigar denúncias de abuso sexual envolvendo João de Deus disseram nesta segunda-feira (10) que não pedirão a interdição da casa do médium por "cautela". O grupo da promotoria investiga denúncias de estupros e abusos sexuais que teriam sido cometidos pelo médium contra dezenas de mulheres que buscavam tratamento espiritual em Abadiânia (GO).

“Isso vai depender do que chegar até nós. É claro que se verificado que aquele ambiente era voltado para prática de crimes. A interdição do estabelecimento vai ser uma dinâmica necessária”, disse o promotor Luciano Miranda Meireles.

A força-tarefa não descartou a possibilidade de pedir a prisão preventiva do médium, porém ainda não há oficialização deste pedido.

Ele ressaltou que, por serem casos antigos, é difícil comprovar os crimes, por isso os depoimentos são relevantes. “O depoimento da vítima tem um sobre valor e não há porque duvidarmos de uma mulher que corre o risco de se expor a troco de nada”, disse Meireles. 

Os promotores disseram que vão aguardar os depoimentos oficiais das vítimas para dar andamento no processo. Bases dos MPs em todos os estados serão acionadas pela força-tarefa para que pessoas que se sentiram violadas possam prestar depoimentos sem precisar ir a Goiás. Ainda não há uma estimativa de quantas pessoas podem ter sido vítimas dos supostos abusos.

“O mais importante para as investigações é que as vítimas se apresentem. Seja em Abadiânia, seja em Goiânia, ou através de e-mails. O mais importante é o relato das vítimas para instrução desse procedimento”, disse o promotor Luciano Miranda Meireles, que ressaltou a importância e poder que João de Deus tem na cidade, em razão do grande número de seguidores.

As declarações foram dadas em entrevista coletiva à imprensa, nesta segunda em Goiânia. A casa Dom Inácio de Loiola, onde são feitos os atendimentos pelo médium, recebe cerca de 10 mil visitantes por mês. 

"Dependemos desses relatos para instruir a investigação e para que a Justiça seja realizada", afirmou o promotor de Alexânia, a cidade onde João de Deus faz os atendimentos, Steve Gonçalves Vasconcelos. Um e-mail (denuncias@mpgo.mp.br) foi criado especialmente para receber denúncias.

"Testemunhas que saibam de qualquer atendimento podem entrar em contato com o Ministério Público, incluindo as que vivem no exterior", afirmou a coordenadora do centro de apoio operacional de Direitos Humanos, Patrícia Otoni. "É importante que todas prestem depoimentos, para que possamos somar o que ocorreu no local", disse a coordenadora.

Os promotores disseram que as investigações serão conduzidas pelo Ministério Público. O órgão requisitou à Polícia Civil que investigue casos anteriores aos depoimentos que as vítimas revelaram no último final de semana. 

O caso foi divulgado pelo jornalista Pedro Bial, em seu programa na TV Globo, e pelo jornal O Globo, na última sexta-feira (7).

Além dos depoimentos, a força-tarefa deverá realizar uma avaliação de processos arquivados contra o líder religioso por falta de prova. "Identificamos alguns processos. Conforme depoimentos forem coletados, poderemos reabrir os casos."

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Outro lado

Em nota enviada ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, que revelou o caso, a assessoria de imprensa do médium afirmou o seguinte: "Há 44 anos, João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia, praticando o bem por meio de tratamentos espirituais. Apesar de não ter sido informado dos detalhes da reportagem, ele rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos".

Ao jornal O Globo, a assessoria disse que as acusações são "falsas e fantasiosas" e questiona o motivo pelo qual as vítimas não procuraram as autoridades. Ainda afirma que a situação é "lamentável, uma vez que o Médium João é uma pessoa de índole ilibada".

Ao Fantástico, o advogado de João de Deus, Alberto Toron, disse que o médium nega as acusações, recebidas com indignação. Toron diz ainda que João está à disposição da Justiça para ser ouvido a qualquer momento. 

*Com Estadão Conteúdo