Polícia investiga se garoto seria vendido na BA para pagar dívida de tio
A Polícia Civil da Bahia ainda monta um quebra-cabeça para desvendar o caso da criança de 12 anos que seria vendida pela mãe e foi abandonada na rodoviária de Santa Maria da Vitória, região oeste do estado, na última sexta-feira (11). Um homem de 71 anos foi preso preventivamente para que sejam apuradas informações de que ele seria o comprador ou intermediador da venda.
Sivaldo Lemos da Silva, 71, está preso na cadeia pública de Santa Maria da Vitória, desde a madrugada desta quarta-feira (16), quando foi concluída o primeiro depoimento dado por ele à polícia. Maria Roque Rocha, mãe do garoto que seria vendido, também está presa no mesmo local.
Silva confirmou à polícia que estava com R$ 5 mil em espécie, na última sexta-feira, e que ainda tinha mais R$ 50 mil guardados em casa. Ele justificou que é agiota e que a quantia é relativa às negociações que faz com pessoas que pegam dinheiro emprestado com ele. Segundo a polícia, o suspeito contou que um tio da criança tem uma dívida com ele e que a mãe do menino "vivia dizendo que queria se livrar do filho porque não gostava dele".
"Como agiota emprestou dinheiro ao tio da criança, que ele tinha uma dívida. Trabalhamos com a hipótese da criança ter sido dada como quitação dessa dívida. Estamos num grande quebra-cabeça e queremos saber se o menino era forma de pagamento desse dinheiro", informou o delegado Leyvisson Rodrigues, responsável pelas investigações. O valor da suposta dívida não foi informada por Silva, que tem passagem pela polícia por agressão a uma ex-companheira, por porte ilegal de arma de fogo e por receptação de carro roubado.
"Estamos tentando descobrir o porquê de o menino ter sido deixado na rodoviária de Santa Maria da Vitória, uma vez que o suspeito da compra estava em Botuporã (distantes 253 km), mesma cidade que moram mãe e filho. Enquanto ele nega que houve negociação de comprar a criança, a mãe do menino afirma que ia receber R$ 5 mil. A venda foi consumada, mas alguma coisa deu errado na efetuação do pagamento. Trabalhamos com a hipótese de ele ser o comprador, mas também o intermediador", disse o delegado.
Silva afirmou que trabalhou muitos anos na construção civil em São Paulo e quando voltou à Bahia começou a emprestar dinheiro a juros como agiota, justificando a quantia em dinheiro que estava em sua posse. O montante não foi apreendido pela polícia. Na terça-feira (15), a polícia cumpriu o mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça para prender Sivaldo Lemos da Silva para que ele, inicialmente, contribua com as investigações.
O delegado explicou também que a mãe será indiciada, mesmo que a venda não tenha sido concretizada. "De uma forma ou de outra, a mãe vai pagar pelo descaso com o filho dela. Independente dela responder pelo tráfico de pessoas, ela vai responder pelo abandono da criança e pela comunicação falsa de crime", ressaltou o delegado, destacando que "não está provado que o menino foi fruto de estupro e, por isso, a mãe não gostava da criança".
Em depoimento, o suspeito ainda negou que conheça pessoas no Japão, que seria o possível destino da criança, mas confirmou que já viajou para China, Itália e Portugal. Agora, a Polícia Civil pedirá a Polícia Federal informações se há algum requerimento de expedição de passaporte no nome do menino, da mãe dele e do suspeito de comprar a criança. Além disso, a polícia pedirá a quebra se sigilo telefônico para saber com quem a mãe do menino e o homem mantinham contato.
O agiota afirmou que é inocente dessas acusações e que não vai constituir advogado para sua defesa. Até agora, nenhum defensor público foi até a cadeia pública de Santa Maria da Vitória para conversar com Silva.
O caso
O menino foi encontrado chorando na rodoviária de Santa Maria da Vitória, pouco tempo depois que a mãe dele, Maria Roque Rocha, o deixou no local e foi embora de ônibus sem avisar, na última sexta-feira (11). Uma investigadora da Polícia Civil que passava pelo local, viu o garoto chorando e acionou o Conselho Tutelar e a delegacia para localizar a mãe
Maria foi presa na rodoviária de Bom Jesus da Lapa, município vizinho, e confessou que vendeu o menino ao preço de R$ 5 mil para uma família do Japão. Durante depoimento, a mulher não teria demonstrado arrependimento do crime e afirmou que não gostava do filho porque ele era hiperativo. Ela foi indiciada pelo crime de tráfico de pessoas, com agravante da vítima ser filho e com fins de exploração sexual. A criança está na casa de familiares no município de Botuporã.
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