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"Corri com o filho nas costas para sobreviver", diz vizinha da barragem

Raquel Arriola e Wellington Ramalhoso

Do UOL, em Brumadinho (MG)

27/01/2019 21h43

Moradora da comunidade Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), a cabeleireira Antonia de Oliveira trabalhava no salão que ela tem em casa quando uma vizinha veio avisar que uma barragem de rejeitos da Vale estava se rompendo, na sexta-feira (25). Com o filho Artur, de três anos, e a sobrinha Lariele, 20, ela não viu outra saída a não ser correr.

Para tentar sobreviver, escapou por uma ladeira. "Saí correndo desesperada, morro acima, com o filho nas costas. Parecia que a gente corria, corria demais e não saía do lugar, parecia que não ia dar tempo. Era desespero total".

Enquanto ela corria, a lama de rejeitos descia pelo Córrego do Feijão, devastando a área. Antonia diz que viu vizinhos sendo arrastados e temia que o mesmo acontecesse com ela, o filho e a sobrinha. "A gente olhou aquele monte de árvore, boi, gente e carro descendo. E aquele barro enorme destruindo tudo. As crianças gritando, chorando e não tinha como socorrer ninguém. Não tinha carro", relata.

Carona e abrigo em pousada

"Quando a gente conseguiu carona, fiquei mais tranquila, mas já tinha andado demais, uns quatro quilômetros. Foi um trauma muito grande", conta Antonia.

Ela, o filho e sobrinha fugiram com a roupa do corpo. Não havia tempo para pegar documentos e objetos. Conseguiram chegar a uma escola no bairro Casa Branca e depois foram abrigadas em uma pousada pela Vale.

Sem esperança de ver parentes e amigos vivos

O marido de Antonia, o ajudante de serviços Valdecir Romão da Silva, trabalha em uma empresa terceirizada ligada à mineradora e escapou porque estava de folga. No momento do rompimento da barragem, fazia um bico de pedreiro em outro bairro de Brumadinho.

Mas o primo da cabeleireira, que é funcionário da Vale, está entre os desaparecidos. O casal perdeu as esperanças de rever vivos tanto o primo quanto amigos e vizinhos.

A lama chegou perto, mas não destruiu a casa da família. Mesmo assim, a cabeleireira diz que não quer voltar a morar nela. Já seu marido teme ficar desempregado.

"A culpa é totalmente da Vale. É complicado construir uma barragem sabendo que tem morador perto, que corre risco. Mas ficaram de assumir tudo e ajudar a gente. Espero muita ajuda e muita força da parte deles. Se eles não ajudarem, vai ficar difícil", diz Antonia.

A sobrinha Lariele veio do Espírito Santo no dia 14 para passar férias com ela. Veio também com a intenção de encontrar emprego e viver em Brumadinho. Agora, espera a definição da tia e pensa em tentar a vida em Belo Horizonte.

Veja o caminho percorrido pela lama da barragem de Brumadinho

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