PMs apontados como responsáveis por morte de menino seguem patrulhando ruas
Policiais militares apontados pela família de Kauan Peixoto, 12, de serem os responsáveis pela morte do menino, no último sábado (16), na comunidade da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, não foram afastados das ruas e "continuam na ativa aguardando a conclusão da investigação da Polícia Civil e da Corregedoria da PM", segundo informou a corporação por meio de nota.
Segundo relatos de testemunhas, os agentes teriam subido a rua Rondon Gonçalves atirando e atingido o menino que estava na companhia do irmão de criação, de dez anos. Os dois haviam saído da casa do pai de Kauan para comprar um lanche.
Testemunhas afirmaram à mãe dele, Luciana Pimenta, que o menino foi baleado no abdômen e posteriormente, já caído no chão, atingido na perna. Mesmo ferido, o garoto foi algemado e "jogado no carro" para ser levado ao Hospital Geral de Nova Iguaçu, também na Baixada Fluminense, também segundo relatos.
Na unidade de saúde, a mãe foi avisada que o menino fora também baleado no pescoço. Kauan foi submetido a uma cirurgia, mas não resistiu.
Moradores [da Chatuba] me falaram que meu filho foi arrastado e algemado. Dois policiais pegaram ele pela perna e um nos braços e jogaram meu filho baleado na caçamba da polícia.
Luciana Pimenta, mãe de Kauan
"Meu filho saiu de lá [Chatuba] baleado no abdômen e na perna e ainda chegou no hospital com um tiro na bochecha que estourou o pescoço dele", acrescentou a mãe do menino. Segundo ela, testemunhas teriam visto policiais militares recolhendo as cápsulas das balas no local em que o menino foi baleado.
Para o ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar do Rio, coronel Robson Rodrigues, devido à gravidade das denúncias, os policiais deveriam ser afastados das ruas.
Até mesmo, para preservá-los [PMs], o mais prudente, isento, republicano e responsável a fazer seria afastá-los do serviço operacional, o que não é condená-los, aceitando como verdadeira qualquer das versões.
Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior da PM do Rio
Filho de pais separados, Kauan passava um final de semana na casa do pai a cada 15 dias. Ele era o terceiro de quatro filhos de Luciana. No momento que foi baleado, Kauan estava na companhia do irmão de criação que chegou a pedir que ele corresse após a chegada da polícia.
Ele [o irmão] disse: Corre, Kauan! Meu filho disse que não era bandido e que não ia correr. Ficou parado. Se corre, a PM atira porque está correndo, se fica parado atira do mesmo jeito.
Luciana Pimenta, mãe de Kauan
De acordo com ela, o menino que presenciou os tiros está muito abalado. "Não sai de casa. Está com medo. Ele só tem dez anos."
A família negou que houvesse operação policial no momento em que Kauan foi baleado. O garoto foi atingido por volta de 22h30 e, segundo moradores, a ação da PM na comunidade ocorreu mais tarde.
O que diz a polícia
Luciana disse ainda que, dois dias após a morte do filho, ninguém havia sido procurado pela polícia para prestar depoimento. Procurada a Polícia Civil informou que seis policiais militares já prestaram depoimento e que diligências estão em andamento.
Já a PM disse que policiais do 20º BPM estavam em patrulhamento na região quando foram atacados por criminosos ocasionando um confronto e que, "na retaguarda do confronto, foi encontrado caída uma vítima de disparos de arma de fogo. O adolescente, de 12 anos, foi socorrido ao Hospital Geral de Nova Iguaçu", informou a corporação por meio de nota.
Na ação, foram apreendidas 288 trouxinhas de maconha, 235 pedras de crack, 362 cápsulas de cocaína, três rádios transmissores e R$ 98 em espécie. Ninguém foi preso.
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