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Desigualdade cresce há 17 trimestres seguidos, pior série histórica no país

Carroceiro passa ao lado de uma Mercedes Benz, mostrando a desigualdade em bairro nobre de Brasília, em 2005 - Lula Marques/Folhapress
Carroceiro passa ao lado de uma Mercedes Benz, mostrando a desigualdade em bairro nobre de Brasília, em 2005 Imagem: Lula Marques/Folhapress

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

16/08/2019 04h01

Há quatro anos e três meses, os ricos se tornam mais ricos, e os pobres mais pobres no Brasil, segundo o estudo "A Escalada da Desigualdade", lançado ontem pela FGV (Fundação Getúlio Vargas).

A instituição afirma que o segundo trimestre de 2019 foi o 17° consecutivo de aumento na desigualdade no país e é "um recorde nas séries históricas brasileiras".

"Nem mesmo em 1989, que constitui nosso pico histórico de desigualdade brasileira, houve um movimento de concentração de renda por tantos períodos consecutivos", diz o estudo assinado pelo economista Marcelo Neri.

O cálculo é feito usando dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) e do índice de Gini, usado mundialmente para medir a desigualdade. Os dados apontam que, desde o segundo trimestre de 2015, o país registra altas seguidas na concentração de renda.

Neste período, passaram três presidentes: até maio de 2016 o governo era de Dilma Rousseff (PT). Depois, com o impeachment, assumiu Michel Temer (MDB). Em janeiro deste ano foi a vez de Jair Bolsonaro (PSL).

Pobres perderam mais renda

O estudo divide as rendas familiares em estratos e mostra como a depreciação dos indicadores econômicos afetou diferentemente os grupos nos últimos 17 trimestres:

  • A metade mais pobre teve perda acumulada de 17,1% na renda no período.
  • Os 40% da faixa intermediária apresentaram perdas de 4,16%.
  • Já entre os 10% mais ricos, houve incremento de 2,55% na renda.

Legião de pobres

O estudo mostra que desde o segundo trimestre de 2015 até 2017, a população vivendo na pobreza no país expandiu 33%, passando de 8,4% para 11,2% dos brasileiros (23,3 milhões de pessoas naquele ano).

"Apenas em 2015 a pobreza subiu 19,3% no Brasil, com 3,6 milhões de novos pobres", aponta. A linha de pobreza usada pela FGV é calculada na base do dinheiro que as pessoas dispõem para viver: quem tinha menos de R$ 233 por mês, em agosto de 2018, era considerado pobre.

Uma projeção feita pelo pesquisador aponta que somente em 2030 --levando em conta o crescimento médio do PIB (Produto Interno Bruto)-- a pobreza voltaria a 8,2% da população, índice similar a 2014.

"Em suma estamos falando de uma década e meia perdida no combate à pobreza. Este exercício ilustra a importância não só de combate à desigualdade de renda como políticas públicas voltadas aos mais pobres", explica.

Entre os principais fatores para o resultado, diz o estudo, está o aumento da taxa de desemprego nesse período.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado no texto, Dilma Rousseff ficou na Presidência até maio de 2016 --quando sofreu o impeachment--, não de 2015. A informação foi corrigida.