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Depressivo, sequestrador de ônibus era "bom filho" com família estruturada

Lola Ferreira

Colaboração para o UOL, no Rio

20/08/2019 19h57

Foi com surpresa que a família de Willian Augusto da Silva, 20, recebeu a notícia de que o rapaz havia sequestrado um ônibus e mantinha reféns na Ponte Rio-Niterói na manhã desta terça-feira (20). Ao saber que o filho estava no comando da ação, os pais dele se encaminharam à delegacia mais próxima (74ª DP) e de lá foram ao 7º Batalhão da Polícia Militar. Os pais souberam da ação de Willian pela televisão.

A mãe é cuidadora de idosos e o pai, padeiro. Até pouco tempo, Willian ajudava o pai no estabelecimento, mas saiu por sentir muitas dores nas pernas.

Willian morava com a família no bairro Jockey, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, mas na noite anterior ao crime dormiu na casa da avó, no Jardim Catarina, também no município. Lá, segundo uma tia, recolheu as garrafas pet que utilizaria para deixar um suposto líquido, que os passageiros afirmam ser gasolina. Antônio Ricardo Lima Nunes, chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), disse que não dá para confirmar a informação sem perícia mas que, "pelo cheiro", seria mesmo gasolina.

O líquido foi espalhado por Willian em todo o corredor do ônibus e, ao saber que o primo colocava em risco a vida de tantas pessoas, Alexandre da Silva correu para o local. Durante a negociação, Alexandre ouviu o primo falar no rádio que não iria se entregar. À imprensa, o primo contou que a ação foi totalmente inesperada, apesar de Willian ter desenvolvido um quadro depressivo há pouco.

"Ele estava bem, há pouco tempo tivemos um passeio em família. O médico dele receitou um medicamento, mas não sei dizer qual foi. A vida familiar era normal e, quando ele alarmou isso [a depressão], a gente começou a tratar essa parte", explica Alexandre.

Willian estava matriculado na escola, mas não frequentava. Quieto, não tinha amigos conhecidos pela família e mantinha contatos com pessoas pelo celular.

A mãe afirmou, dentro da delegacia, que o filho sofreu traumas, sem especificá-los. Questionado sobre quais seriam esses episódios, Alexandre pediu respeito à família. Família, aliás, que o primo faz questão de ressaltar que sempre foi estruturada, sem qualquer problema maior.

"Minha família é estruturada. Mas infelizmente meu coração é um, o dele é outro. Minha mente é uma, a dele é outra. A minha família é de laços familiares bons. Meu primo não teve proximidade com nada ruim. Ele era bandido? Talvez só tenha se tornado um agora", lamentou Alexandre.

Ele acrescentou também que fez questão de cumprimentar todos os reféns e pediu desculpas pela ação de Willian. Ainda chorando a morte do primo, ele sentiu-se "aliviado" por ser ele uma vítima, quando o número total podia ser bem maior.

"Ele desencadeou essa forma [de ser] dele, essa conduta dele. E o que houve hoje foi certo, ele teve que pagar por isso. E graças a Deus que hoje está chorando só a minha família, mas poderia estar chorando mais 37 famílias de trabalhadores como eu sou, como o pai dele é, como a mãe dele é. Só que ele entrou num quadro depressivo, então foi algo que ele quis. Ele quis pagar com a vida", disse Alexandre. No final da tarde, o governo do Rio retificou o número total de reféns para 39.