Mãe denuncia bullying e agressões ao filho autista em escola federal no MT
A mãe de um estudante de 16 anos do curso de Agrimensura do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) registrou ontem o terceiro Boletim de Ocorrência denunciando um bullying constante contra o filho, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em um dos episódios, segundo ela, os agressores empurraram o jovem do primeiro andar do instituto. A escola confirma o bullying ao rapaz, mas nega a queda.
A jornalista Juliana Arini contou que o incidente aconteceu há dez meses, mas disse que o filho não relatou nada antes com medo de sofrer represálias. A queda, de acordo com ela, foi amortecida por uma marquise.
"O barulho assustou um dos seguranças, que inclusive prestou os primeiros socorros. Ele [o filho] caiu em cima de uma das telhas de ferro. Imagina se ele tivesse caído de cabeça?", afirmou.
Ela diz que, na época, notou uma mudança de comportamento do jovem, além de ter observado que ele estava mancando, porém, o adolescente permanecia em silêncio sobre o bullying.
Na semana passada, o jovem foi, novamente, alvo dos agressores. De acordo com Juliana, enquanto o filho descia uma das escadas do prédio, um estudante "passou uma rasteira", fazendo com que ele caísse e machucasse os joelhos.
Em novembro de 2018 a jornalista registrou o primeiro BO. O segundo foi registrado em agosto deste ano, quando ela descobriu que os agressores haviam quebrado o celular do adolescente e ameaçado empurrá-lo de um andar mais alto do que a primeira vez.
Desde que foi aprovado na seleção para o curso de Agrimensura, o jovem passou a sofrer constantes perseguições e humilhações de outros alunos.
Em uma das ocasiões, os agressores disseram ao adolescente que ele deveria "matar um urso no Canadá para conquistar a menina de quem gostava".
Pessoas com TEA tendem a interpretar frases no sentido literal, fator que fez com que o jovem fugisse de casa e fosse encontrado por um vendedor de coco em um município vizinho.
"A menina que ele gostava se juntou aos meninos do bullying e ele fugiu de casa. Minha família ficou muito preocupada. Teve também uma história de um bolo que ele fez para uma menina e os professores e o inspetor comeram o bolo", lamentou.
Quadro depressivo
Por conta das constantes humilhações, o adolescente adquiriu um quadro depressivo e, inclusive, apresentou pioras com relação à TEA. A jornalista afirma que ele precisou voltar a tomar medicamentos - com doses aumentadas -, que já haviam sido suspensos.
O adolescente também voltou a apresentar problemas na fala, além de ter mudado o comportamento.
Juliana relatou alguns episódios à psicóloga do garoto, e a profissional registrou uma denúncia no Conselho Tutelar de Cuiabá. O jovem também passou por um exame de corpo de delito na Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec).
"Ele regrediu em coisas que já estavam resolvidas. É decepcionante ver que, justo em um instituto federal, a primeira escola pública dele, isso tenha acontecido", lamentou.
No final da tarde desta terça-feira (3), os estudantes do IFMT fizeram uma manifestação contra os episódios de bullying sofridos pelo jovem.
O protesto foi televisionado e Juliana afirmou que o filho reconheceu dois dos agressores que manifestavam contra os atos.
Pedido de transferência
A jornalista entrou com um pedido de transferência de campus junto à reitoria do IFMT, mas afirmou que teve o pedido negado por conta da falta de vagas disponíveis.
Juliana diz que a primeira vez em que ela teve uma reunião com a diretora pedagógica da escola, ouviu a mesma dizer que "em 20 anos de docência nunca havia visto um autista na instituição".
Cansada, a mãe resolveu transferir o adolescente do instituto público para uma escola particular. "Vou ter que encontrar forças não sei de onde para pagar."
Outro lado
Por meio da assessoria, o IFMT informou que a unidade possui cerca de 60 alunos portadores de necessidades especiais e que todas as denúncias de bullying e agressões são apuradas pelo Núcleo de Apoio a Portadores de Necessidades Especiais.
De acordo com a instituição, vários processos foram abertos para investigar as agressões contra o filho da jornalista, e quatro estudantes foram punidos com suspensão e advertência oral.
Sobre a transferência, a assessoria informou que Juliana solicitou a medida há cerca de um mês, e a mesma não foi possível por conta da diferença entre as grades curriculares dos cursos.
O IFMT também reforçou que analisou as filmagens das câmeras e não foram encontradas as situações relatadas pela mãe.
O caso deve ser investigado pela Delegacia Especializada do Adolescente (DEA) de Cuiabá.
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