Justiça decreta prisão de seguranças suspeitos de torturar jovem negro
A Justiça decretou, na noite de hoje, a prisão por 30 dias de dois seguranças acusados de torturar um jovem negro de 17 anos em um supermercado de São Paulo. A informação foi confirmada pelo delegado Pedro Luis de Sousa, do 80º DP (Distrito Policial), na Vila Joaniza, zona sul da cidade. A decisão é assinada pela juíza Tatiana Saes Valverde Ormeleze
Mais cedo, o UOL havia revelado que Sousa pedira a prisão cautelar dos funcionários D.O.F, 37, e V.B.S, 49. O Ministério Público deu parecer favorável ao pedido elaborado pela polícia.
Sousa informou ainda que um dos sócios da empresa de segurança a qual os suspeitos eram vinculados forneceu os dados dos seguranças já identificados e que estariam envolvidos na tortura.
Na decisão de Ormeleze, consta que as investigações policiais "apontam para a possível ocorrência do crime de tortura" e que um dos seguranças. Nos autos, há ainda a informação, revelada pelo gerente do supermercado, Robson Tiago Silva, que um dos seguranças pediu desligamento no último dia 29 "por vontade própria.
Para sustentar sua resolução, a juíza citou"a imprescindibilidade da segregação para o sucesso da persecução penal" e que, os seguranças, cientes das suspeitas que recaem sobre eles, buscariam "apagar pistas e ocultar provas."
"Em suma, é preciso esclarecer o mais rápido as circunstâncias do gravíssimo crime praticado, justificando o expediente", escreveu a magistrada.
O caso veio à tona na última segunda-feira (2), quando o estudante denunciou o caso na Polícia Civil. Em uma manhã de julho, conforme o Boletim de Ocorrência registrado, ele teria tentado furtar quatro barras de chocolate quando fora abordado na saída do supermercado pelos seguranças. O jovem foi levado a uma sala dentro do estabelecimento, amordaçado, despido e chicoteado com fios elétricos.
No depoimento, consta ainda que o jovem não quis registrar a denúncia naquele momento "pois temia pela sua vida". "Na saída do supermercado, ouviu S. [um dos seguranças acusados] dizer que, caso falasse algo para alguém, iria matá-lo.", diz o documento.
Os seguranças gravaram em vídeo as agressões. O UOL teve acesso à filmagem e confirmou sua veracidade com o delegado Pedro Luis de Sousa. No vídeo, o jovem aparece quase inteiramente nu, com as calças abaixadas na altura do joelho, enquanto é agredido com uma espécie de chicote por um homem.
No local onde o jovem fora torturado, é possível notar caixas lacradas e caixotes de plástico com frutas, no que aparenta ser um depósito.
O caso ocorreu de uma unidade do supermercado Ricoy. O supermercado disse já ter afastado os seguranças, que prestavam serviço por meio de uma empresa terceirizada —segundo as investigações, um dos seguranças seria um ex-policial militar.
O advogado Ariel de Castro Alves, que faz parte do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), acompanhou o depoimento do jovem e afirmou que o órgão vai fiscalizar a atuação das autoridades em relação ao caso. Alves afirma ainda que o conselho está preocupado com a proteção do jovem que denunciou os seguranças, posto que ele está em uma situação de vulnerabilidade.
"É uma decisão muito importante que reconhece a gravidade do crime de tortura praticado contra o menino negro e em situação de rua. (...) Esses casos infelizmente ocorrem com frequência, mas dificilmente são filmados. Acabam acobertados e os acusados ficam impunes.", diz o conselheiro do Condepe.
"Agressão covarde"
Ontem, em entrevista ao UOL, o delegado Pedro Luis de Sousa afirmou que ficou comovido com o relato da vítima e ao ver as imagens apresentadas. "Como pode uma pessoa fazer isso com outra? Eu não consigo imaginar. Fiquei dez anos no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e não tinha visto algo assim tão triste", afirmou.
"Toda aquela situação é deprimente. Foi uma agressão covarde, que me causou asco, me causou muita repulsa", complementou o delegado. Responsáveis pelo supermercado foram ouvidos na tarde de ontem no DP. O delegado afirmou ainda que quer fazer diligências para encontrar o chicote utilizado para agredir o jovem.
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