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OAB sobre morte de Ághata: Normalizar barbárie é sinal de sociedade doente

Do UOL, em São Paulo

21/09/2019 18h51

A seccional fluminense da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) criticou o governador Wilson Witzel, após a morte de uma criança de 8 anos ocorrida no Complexo do Alemão, zona norte da capital fluminense, ontem à noite

Uma operação policial no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, terminou com a morte de uma criança de 8 anos. De acordo com relato de moradores, Ághata Vitória Sales Félix estava dentro de uma Kombi junto ao avô quando foi atingida por um tiro de fuzil.

Ela chegou a ser levada para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, também zona norte, mas teve a morte confirmada no local. Testemunhas apontam que os policiais perseguiam uma moto quando houve o disparo que atingiu a criança.

"A morte de Ághata vem se somar à estatística de 1.249 pessoas mortas pela polícia nos oito primeiros meses do ano. Um recorde macabro que este governo do Estado aparenta ostentar com orgulho", lê-se na nota da entidade.

"A OAB-RJ lamenta profundamente que a média de cinco mortos por dia pela polícia seja encarada com normalidade pelo Executivo estadual e por parte da população. A normalização da barbárie é sintoma de uma sociedade doente."

Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar, informou que as equipes da UPP Fazendinha foram atacadas de forma simultânea dentro da comunidade e revidaram. O comunicado informa ainda que será aberto um procedimento pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora para apurar o caso.

Nas redes sociais, diversos protestos foram direcionados ao governador Wilson Witzel, com a hashtag #ACulpaÉdoWitzel em primeiro lugar nos trending topics.

Leia abaixo a nota completa da OAB:

A Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado do Rio de Janeiro, lamenta profundamente a morte da menina Ághata Vitória, de oito anos, no Complexo do Alemão, na noite de sexta-feira. A morte de Ágatha vem se somar à estatística de 1.249 pessoas mortas pela polícia nos oito primeiros meses do ano. Um recorde macabro que este governo do Estado aparenta ostentar com orgulho.

A OABRJ lamenta profundamente que a média de cinco mortos por dia pela polícia seja encarada com normalidade pelo Executivo estadual e por parte da população. A normalização da barbárie é sintoma de uma sociedade doente.

A OABRJ lamenta profundamente que horas antes da morte de Ághata o governador tenha dito, conforme relatou a imprensa, que promoveria um "combate e caça nas comunidades".

As mortes de inocentes, moradores de comunidades, não podem continuar a ser tratadas pelo governo do Estado como danos colaterais aceitáveis. A morte de Ághata evidencia mais uma vez que as principais vítimas dessa política de segurança pública, sem inteligência e baseada no confronto, são pessoas negras, pobres e mais desassistidas pelo Poder Público.

A defesa do direito à vida é o princípio mais básico do ser humano e deveria ser o norte de qualquer governo civilizado. Uma política de segurança pública sem planejamento de inteligência atenta contra a integridade da população, e da própria polícia, e afronta os parâmetros básicos de civilidade.

Por meio de sua Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária, a OABRJ está à disposição da família de Ághata e de familiares de outras vítimas da violência do Estado.