Moradores da periferia sofrem com alta em roubos e relatam rotina de medo
Resumo da notícia
- Moradores do Grajaú, na zona sul de SP, reclamam de assaltos até durante o dia
- Uma moradora ouvida pela reportagem foi assaltada 13 vezes
- SSP diz que vai reorientar o policiamento na região
Com medo da rotina de assaltos, moradores do bairro Jardim Eliana, no Grajaú, extremo sul da cidade de São Paulo, alertam a vizinhança sobre a violência na região. "Cuidado! Área de de risco. Zona de assaltos diários. Cadê a segurança pública?", diz faixa exposta entre as ruas Amazonas Marcondes e Clotilde Macedo.
A faixa foi fixada há mais de dois anos no muro da Escola Estadual Professora Maria Luiza de Andrade Roque Martins. Mas, segundo os moradores, há tempos a situação não muda e os assaltos continuam atormentando a população.
O distrito do Grajaú possui mais de 500 mil habitantes e sofre uma onda de assaltos nos últimos meses.
Segundo a moradora Maria (nome fictício), que com medo prefere não se identificar, roubos são frequentes a qualquer hora do dia. "Todos os dias tem assalto aqui na rua. Por isso nos mobilizamos e resolvemos colocar essas faixas. Apesar disso, um caminhão passou e derrubou uma delas", disse a moradora.
Na periferia da capital, o bairro possui escolas públicas, praças, postos de saúde, grandes comércios e até um campo de futebol.
Arrastões em pontos de ônibus, nas saídas dos colégios e nos comércios acontecem com frequência. A comunidade reclama ainda de roubos de celulares, até mesmo na porta das casas.
Também abrangem assaltos por motoqueiros, falsos entregadores de pizza e casais de assaltantes. Os relatos são unânimes em apontar que os criminosos andam armados, mesmo quando estão a pé.
Estudantes do período noturno saem em comboios para não se tornarem vítimas. Trabalhadores também contam andar em grupos, mas nem sempre essas estratégias surtem efeitos.
A analista financeira Aline Jovino Lima, 29, mora no bairro há 20 anos e conta ter sido assaltada quando saía para trabalhar com o pai, às 5h20, em uma rua próxima de onde está a faixa alertando sobre a violência.
"Eram dois homens em uma moto preta. Chegaram jogando a moto em cima de mim, do meu pai e de mais três vizinhos. O homem que estava na garupa já desceu com arma em punho, ameaçando a todos", disse.
Ela afirma se sentir frustrada por conviver com esse tipo de situação. Conta já ter feito diversos boletins de ocorrência, sem ver nenhuma mudança.
"Para fazer um B.O é um descaso. Se você vai na delegacia, te dão um chá de cadeira. Pela internet fazem questionamentos impossíveis de responder. Quem vai conseguir olhar a placa de uma moto enquanto tem uma arma apontada para sua cabeça?"
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) disponibiliza em seu site a opção de Delegacia Eletrônica, para fazer o B.O. online.
Moradora do Grajaú já foi assaltada 13 vezes
Segundo dados da SSP, até setembro deste ano, houve um aumento de 9,2% em roubos na região do Grajaú. Os números foram comparados com os nove primeiros meses de 2018.
A moradora Joana (nome fictício), 24, comerciante, mora na região desde que nasceu e diz que já foi assaltada 13 vezes.
"Por trabalharmos com comércio, sofremos muito. Já vi um bandido colocar a arma na cabeça da minha irmã e exigir ao meu pai que passasse o dinheiro", conta.
Em outro assalto, foi a vez de seu pai ser agredido. Ela não conseguiu mais sair de casa sem estar acompanhada. "Depois da coronhada que meu pai levou, fiquei sem sair de casa. Minha mãe morre de medo e não nos deixa sair sozinhos também", completou a comerciante.
Alertas em perfil no Facebook
Na página Grajaú Tem, no Facebook, há relatos diários de assaltos sofridos ou presenciados em diversos locais. Segundo Melissa Araújo, uma dos administradores do perfil, são relatados até dez casos de roubo por dia.
O perfil publica as denúncias a partir da interação com os seguidores. Com tantos casos, eles desenvolveram uma metodologia em que roubos de carro ou motos, por exemplo, não são divulgados sem a apresentação de um boletim de ocorrência.
"No caso de arrastões, nós alertamos e incentivamos as pessoas a fazerem o boletim. Temos um questionário sobre características e localização de onde foi o crime. Após respondido, nós publicamos", completou Araújo, ressaltando que a ideia é fortalecer a segurança na região.
O que diz a SSP?
Procurada pelo UOL, a SSP disse, por meio de nota, que o policiamento na região será reorientado a partir da análise dos registros de ocorrências.
Já a Polícia Militar afirma que realiza patrulhamento ostensivo e preventivo no Grajaú com os programas Policiamento Comunitário, Programa de Policiamento 190, Rocam, Radioatrulha e Ronda Escolar.
O policiamento na região fica a cargo do 27º Batalhão de Polícia Militar. As ocorrências recebidas pelo 190 são registradas pelo Centro de Operações da PM e transmitidas em tempo real as equipes local.
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