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Menina de 4 anos sobrevive após cinco dias perdida na floresta amazônica

Ana Vitória foi levada ao Hospital de Emergências de Santana após ficar na mata por cinco dias - Corpo de Bombeiros do Amapá/Divulgação
Ana Vitória foi levada ao Hospital de Emergências de Santana após ficar na mata por cinco dias Imagem: Corpo de Bombeiros do Amapá/Divulgação

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Ponta Grossa (PR)

07/01/2020 13h04

Uma menina de 4 anos conseguiu sobreviver por cinco dias perdida em floresta de mata fechada em uma comunidade ribeirinha na bacia do Rio Amazonas, no Pará. Ela dormiu em meio às árvores, se alimentou de frutas e bebeu água de igarapés enquanto a família e o Corpo de Bombeiros realizavam as buscas para encontrá-la.

De acordo com a família da menina, Ana Vitória Cardoso se perdeu na mata por volta de meio-dia de 28 de dezembro durante uma brincadeira com a irmã, de 8 anos, na comunidade ribeirinha paraense Rio Maniva. Os parentes imaginaram que o pior poderia ter acontecido com a garota porque ela não sabe nadar e não tinha experiência de entrar em floresta fechada.

"Ela estava brincando com outra irmãzinha dela e quando o pai foi procurar, encontrou apenas a mais velha. Todos pensaram que ela havia morrido porque a Vitória não sabia nadar e todo mundo se mobilizou. Pensávamos o pior", disse a dona de casa Hérica Silva, de 32 anos, prima da menina.

A comunidade onde Ana Vitória e a família vivem é isolada. Ela fica no Pará, na divisa com o Amapá, no arquipélago da Ilha de Marajó. A comunidade faz parte do limite do município paraense de Afuá. Como a região não tem sinal de celular, para acionar os bombeiros, os parentes precisaram se deslocar até a cidade amapaense de Santana, a 17 quilômetros de Macapá.

Ana Vitória foi encontrada em 2 de janeiro, a dois quilômetros de casa. Ela estava sentada em uma árvore caída e lúcida. A menina contou aos parentes que, quando sentia fome, buscava se alimentar de taperebás e buritis — frutos típicos da Amazônia. Para matar a sede, a menina bebia água de igarapés nos manguezais.

"Quando o meu irmão começou orar e andar no meio da mata, acabou encontrando a Vitória. Ela estava bem lúcida, tanto que quando chegou em casa, reconheceu todo mundo, mas vimos que estava com bastante fome e fraca", lembra Hérica.

A menina precisou ser levada para o Hospital de Emergências de Santana por ser a cidade com estrutura médica adequada mais próxima da comunidade ribeirinha. Como Ana Vitória estava apenas de calcinha e descalça, sofreu muitos ferimentos no corpo provocados por mosquitos e árvores, além de vários cortes nas solas dos pés. Ela não corre risco de morte e aguarda alta médica para retornar à comunidade.
Para a família, o caso é considerado um milagre pelas condições que a menina se encontrava e pelo tempo de buscas.

"Foi um milagre, quase ninguém acreditava. Isso é incrível porque onde ela estava, tem muito igarapé grande e não sabemos como conseguiu atravessar. Já tínhamos até preparado o caixão, foi um milagre mesmo, meu Deus. Foi uma alegria só quando vimos retornando no barco", contou Hérica Silva.

Ana Vitória mora em uma comunidade ribeirinha da Ilha de Marajó - Corpo de Bombeiros do Amapá/Divulgação - Corpo de Bombeiros do Amapá/Divulgação
Ana Vitória mora em uma comunidade ribeirinha da Ilha de Marajó
Imagem: Corpo de Bombeiros do Amapá/Divulgação

Bombeiros consideram sobrevivência caso raro

Segundo o cabo do Corpo de Bombeiros do Amapá, Rosivaldo Andrade, o caso de Ana Vitória é considerado bastante surpreendente e raro. Ele conta que poucas pessoas adultas conseguem sobreviver às dificuldades que a menina se encontrava em meio a mata fechada.
"Ela foi encontrada muito machucada, mas bastante lúcida. Surpreendeu essa situação. Se fosse um adulto, o desespero poderia levá-lo a óbito porque ao ter noção de estar perdido, não iria sobreviver por esquecer de comer ou beber água. Foi um milagre. Não é algo normal", avaliou o militar, que participou das buscas.

O Corpo de Bombeiros considera que se as buscas estivessem direcionadas para a mata desde o início, existiria grande chance de Ana Vitória ter sido encontrada antes dos cinco dias.

"Nos passaram que ela teria desaparecido na água. Fizemos as buscas no primeiro dia, mas não encontramos nada. Assim se deu nos outros dias e não achamos. Estanhamos porque depois de 24 horas o corpo boia na água e como o rio tem muita praia, ele apareceria nas margens também. Suspendemos as buscas dia 1 janeiro e no dia seguinte iríamos direcionar os trabalhos para a mata, mas antes disso, os populares a acharam", comentou.