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Em primeiro dia de abertura de shoppings, Belém tem aglomeração e filas

Praças, lojas e shoppings de Belém têm movimento com retomada da abertura

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL, em Belém

06/06/2020 18h52

Com a retomada gradativa das atividades econômicas, Belém (PA) teve um dia normal neste sábado. Muita gente foi às praças para praticar exercícios, os supermercados ficaram movimentados e houve filas nas portas de dois dos maiores shoppings da cidade, liberados para abrir a partir de hoje, de 12h às 20h, por decreto municipal.

Um passeio pela cidade foi suficiente para constatar o intenso movimento de pessoas e veículos nas ruas, principalmente nas proximidades desses locais, como se não houvesse uma pandemia de coronavírus. A capital possui hoje 13.553 casos da doença, com 1.545 mortos. No estado todo, o número de infectados é de 53.176, com 3.612 mortos.

Na porta de dois dos cinco shoppings da capital, Pátio Belém e Boulevard Shopping, consumidores se aglomeraram desde cedo do lado de fora para esperar a abertura. Seguranças orientavam para que mantivessem distanciamento. Duas filas foram formadas, sendo uma de prioridade, já que havia muitos idosos.

Entre eles estava o militar reformado, Eduardo Batista, 75 anos. Ele chegou uma hora antes da abertura das portas no Boulevard Shopping e precisou se sentar, porque estava com um ferimento na perna. "Vim pagar uma conta na Renner, porque não mandaram a fatura. Não confio em ninguém para vir fazer isso para mim."

Já a corretora de imóveis Deuene Costa, 60 anos, diabética, ia numa operadora de celular, mas não conseguiu entrar depois de ter sua temperatura medida por um bombeiro que estava na porta. "Ele disse que a minha temperatura está 37. Eu até me assustei. Tenho diabetes, mas é controlada. Eu não queria estar aqui, não, mas não consegui resolver pela internet.

A psicóloga Romy Trindade, 43 anos, também esperava para entrar, mas mantendo mais distanciamento. O motivo: ela já teve covid-19 e preferiu ficar fora da fila esperando. A ida ao shopping foi para comprar eletrodomésticos, que, segundo ela, queimaram durante a pandemia. "Passei em lojas especializadas antes, mas estavam fechadas. Não gosto de comprar pela internet", contou.

Do lado de dentro, boa parte das lojas não abriu as portas hoje. Especialmente as âncoras e, como determina o decreto, nem parques, cinemas ou praças de alimentação. Poucos consumidores circulavam nos corredores. O movimento maior foi nas operadoras de celular, onde havia filas, mas com funcionários orientando sobre o distanciamento e oferecendo álcool em gel.

Três meses de fechamento

Os lojistas comemoraram a reabertura, depois de quase três meses de fechamento. "A expectativa é que melhore, mesmo com as restrições, que a gente sabe que é para o bem de todos. Mas que a gente consiga vender melhor do que no delivery, que não foi nem um terço do que vendemos com a loja aberta", comenta Camila do Vale, proprietária de duas franquias no shopping.

Ela conta que fez de tudo para segurar todos os 14 funcionários durante o período de fechamento das lojas e que apenas um, que estava em período de experiência, foi desligado.

Uma fila se formou em frente ao Shopping Pátio Belém, que reabriu hoje - BRUNO CRUZ/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - BRUNO CRUZ/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Uma fila se formou em frente ao Shopping Pátio Belém, que reabriu hoje
Imagem: BRUNO CRUZ/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A empresária acredita que ainda é possível aproveitar as vendas de Dia dos Namorados. "Como o brasileiro deixa tudo para em cima da hora, ainda temos uma semana aí e acho que vai dar para aproveitar."

Além dos shoppings, também puderam retornar às atividades, hoje, os salões de beleza, no horário de 9h às 20h.

A hair designer Rúbia Campos, proprietária de um salão que mantém quatro funcionários, diz que houve demora na decisão do retorno dessa atividade, definido só ao meio-dia da sexta-feira.

Ela diz que a categoria recebeu muitas críticas por não ser considerada serviço essencial. "Ser essencial é muito relativo. É claro que as pessoas precisam ir à farmácia e aos supermercados, que, aliás, vivem lotados. Nós podemos funcionar com hora marcada e com toda a segurança. Essencial é o que coloca comida no prato do trabalhador, e isso vale para qualquer trabalho", criticou.

Campos precisou demitir um funcionário no tempo em que não pode fazer atendimentos. "Consegui manter o pagamento dos que ficaram e as contas do salão em dia, mas tive que tirar tudo da poupança e de aplicações. Se o salão não abrisse hoje, não teria mais como manter as despesas", desabafa.

Condições

Pelo decreto, é preciso tomar medidas de segurança para funcionar, como disponibilizar álcool em gel, exigir o uso de máscaras, controlar a circulação de pessoas, higienizar os espaços, fazer marcações no chão para distanciamento de 1,5 m, realizar a medição de temperatura e adotar campanha informativa com cartazes. Segundo a prefeitura, a reabertura só foi autorizada por conta da disponibilidade de leitos clínicos e de UTI nos hospitais municipais e do estado.

Na quinta-feira, segundo o município, a taxa de leitos vagos era de 39% e de UTI, 24%. Além disso, ainda de acordo com a prefeitura, houve redução no número de atendimentos nas emergências da capital.

Ação

Os Ministérios Público Estadual e do Trabalho entraram, ontem à noite, com um pedido de suspensão da reabertura das atividades não essenciais, sob pena de aplicação de multa de R$ 100 mil por dia de descumprimento a ser imposta ao governador e ao prefeito de Belém, em conta judicial —sendo os recursos aplicados em serviços de saúde.

O juiz da 5ª Vara da Fazenda e Tutelas Coletivas despachou, dando um prazo de 12 horas para estado e município se manifestarem, antes de decidir se acata ou não o pedido de liminar.

Em nota, a Prefeitura de Belém informou que foi notificada da ação do MPE e do MPT hoje de manhã e que a Procuradoria Geral do Município está trabalhando nas respostas, que serão apresentadas aos órgãos no prazo estipulado.

Também em nota, a Procuradoria-Geral do Estado informou que vai apresentar manifestação e estudo que serviram de base para a reabertura das atividades não essenciais dentro do prazo estipulado pela Justiça.