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Moradores de SP reclamam de proliferação de mosquitos fora de época

Forca-tarefa especial de combate a infestacao do Culex (pernilongos) e da dengue no Alto da Lapa, em Sao Paulo - Danilo Verpa/Folhapress
Forca-tarefa especial de combate a infestacao do Culex (pernilongos) e da dengue no Alto da Lapa, em Sao Paulo Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Cleber Souza

Do UOL, em São Paulo

15/09/2020 04h00

Moradores de bairros da zona oeste e da zona sul de São Paulo reclamam da grande quantidade de mosquitos em casa e nas ruas. Mas as queixas são diferentes. Enquanto em uma região os vizinhos dizem que não estão acostumados com o problema nesta época do ano; em outra, eles reclamam que a quantidade de pernilongos incomoda durante o ano todo.

A Prefeitura afirma que o serviço de dedetização não foi interrompido nem reduzido durante a quarentena e 1.142 agentes trabalham no controle de mosquitos na cidade. A única orientação que mudou foi para que estes agentes não entrem nas casas das pessoas. (leia mais abaixo)

"Uso spray, no fim da tarde fecho toda a casa para reduzir a circulação dos mosquitos e uso raquete elétrica", diz a jornalista Paula Lieff, 44, que mora no Alto de Pinheiros, zona oeste. "Uma coisa impressionante. É uma nuvem de mosquitos, mais agressivos, os repelentes não dão conta. Você mata e sempre surge mais. Estamos no inverno com cara de verão por causa dessa infestação."

O advogado Marcelo Campagnolo, 55, que é vice-presidente da SAAP (Associação de Amigo do Alto de Pinheiros), afirma que já recebeu diversas reclamações e ele mesmo tem se incomodado com a infestação. "Tenho que fechar minhas janelas à 17h, caso contrário é impossível ficar em casa. Venho tendo esse problema há pelo menos 60 dias."

Outros moradores que vivem perto do Rio Pinheiros têm reclamado nas redes sociais e chegaram a fazer um abaixo-assinado para tentar resolver a questão. Até ontem, o documento tinha mais de 30 mil assinaturas.

Foto de Marcelo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Foto mostra mosquitos mortos em banheiro de Marcelo Campagnolo
Imagem: Arquivo Pessoal

Nas margens da represa, a época do ano não importa

Às margens das represas da zona sul da capital, a impressão é que não importa a época do ano nem a temperatura.

"Aqui a gente sempre sofreu com os mosquitos. A Prefeitura passa às vezes com uma fumaça, mas que não muda nada. No café da manhã, na janta, no frio ou no calor, mosquito é o que mais tem aqui", diz a empregada doméstica Rosangela Cristina, 53 anos, que mora no Jardim Castro Alves, na região da Billings.

"Mas também, vamos esperar o quê? Córrego a céu aberto, lixos em calçadas, matos próximos sem uma manutenção. Até eu que não sou estudada sei que esses bichos só aparecem com a sujeira."

No Jardim Guarapiranga, perto da represa com o mesmo nome, a auxiliar de recepção Kelly Santos, 28, afirma que os pernilongos incomodam dentro e fora de casa.

"Você não pode deixar uma panela no fogão que aparecem vários voando", diz. "Falta um cuidado maior em higienização e zeladoria, principalmente das margens dos rios e das represas."

Rotina de Paula - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Rotina de Paula Lieff: Inseticida e raquete na janela diariamente
Imagem: Arquivo Pessoal

Luz, calor e umidade atraem mosquitos, dizem biólogos

Não há estudos que comprovem uma maior proliferação de mosquitos este ano. Para entender o que está acontecendo, o UOL conversou com três biólogos.

O diretor do Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Francisco Kelmo, confirma que os mosquitos se reproduzem próximos a fontes de água e se beneficiam do calor. Por isso, a alta temperatura nessa época pode ter influenciado. E a quarentena também.

Ele afirma que estes insetos são atraídos pela luz —por isso, dentro dos imóveis, eles aparecem mais ao anoitecer, quando as luzes são acesas.

"Com a pandemia, as luzes de muitos estabelecimentos ficam apagadas e as das casas, acesas. Assim, os mosquitos vão para onde tem luz acesa. Outro fator é que eles são atraídos por substâncias que são liberadas no suor das pessoas", diz.

O biólogo Paulo Roberto Urbinatti, entomologista da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), acredita que a sensação de uma quantidade maior de mosquitos pode ser explicada pela permanência das pessoas em suas casas na quarentena. Mas ele não descarta a relação com a temperatura, que tem sido alta nos últimos dias.

"O ano todo tem mosquito, mas o mais comum é no verão. As estações não são mais definidas como antigamente. É uma coisa atípica. Isso tem favorecido a aparição precoce desses mosquitos fora de época", afirma.

Sérgio dos Santos Bocalini, especialista em entomologia urbana pelo Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e mestre em Ciências pela USP, destaca a importância dos serviços de zeladoria.

"Essa infestação acontece em função do comportamento do mosquito de colocar os seus ovos em rios e córregos. Com a grande quantidade de matéria orgânica nesses locais —o esgoto —e com a falta de chuvas, essa matéria orgânica acaba ficando mais concentrada e o aumento de temperatura contribui para acelerar desenvolvimento desses mosquitos", diz.

Serviço continuou na pandemia, diz Prefeitura

A Prefeitura afirma, em nota, que os serviços de dedetização continuaram normalmente, apesar da pandemia do novo coronavírus. Segundo a administração municipal, não houve redução da mão de obra e 1.142 agentes de saúde ambiental e de combate a endemias trabalham em ações de controle de mosquitos.

"Houve apenas orientações técnicas para os agentes não entrarem nas casas e manterem as inspeções para eliminação de criadouros em quintais, garagens e jardins. Antes da pandemia, toda residência era inspecionada", diz a nota.

Ainda segundo a Prefeitura, foram feitas mais de 2,7 milhões de visitas para controle de mosquitos entre janeiro e agosto deste ano —aumento de 7,7% em relação ao mesmo período do ano passado.

A Prefeitura informa que gastou mais com EPIs (equipamentos de proteção individual) e equipamentos de controle de mosquitos. Em 2019, foram cerca de R$ 4,2 milhões em EPIs. Entre janeiro e agosto deste ano, o valor atingiu R$ 3,4 milhões.

A administração municipal afirma que serviços de zeladoria como capinação, limpeza de córregos, boca de lobo, manutenção de galerias, podas de árvores e tapa-buracos também continuaram na quarentena.

"Os trabalhos são realizados periodicamente em toda a cidade. Nas regiões das Subprefeitura Pinheiros, Capela do Socorro e Santo Amaro, foram coletados 298,6 mil toneladas de resíduos de janeiro a julho", diz a nota.

No Twitter, ontem, o governador João Doria (PSDB) disse que não houve interrupção nos trabalhos de despoluição do Rio Pinheiros durante a pandemia. A obra, que inclui a retirada de resíduos do rio, deve ser finalizada até dezembro de 2022.

Para reclamar de mosquitos e pernilongos, a Prefeitura de São Paulo orienta ligar para o 156.