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Sem energia, moradores fazem fila por água, comida e tomadas no Amapá

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

06/11/2020 15h45

Sem energia elétrica há mais de dois dias, moradores de Macapá estão enfrentando filas em busca de água potável, alimentos, tomadas e combustível. O fornecimento de luz está completamente suspenso em alguns bairros da capital do Amapá e com rodízio em outros.

O problema se estende a outros municípios do estado. Na noite de terça-feira (3), um incêndio em uma subestação interrompeu o fornecimento de energia elétrica em 13 das 16 cidades do Amapá —incluindo a capital. A estimativa é que o acidente tenha atingido 89% da população do estado, de cerca de 800 mil pessoas.

Em entrevista à coluna de Carla Araújo no UOL na manhã de hoje, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que trabalha para restabelecer ainda hoje parte da distribuição, mas não deu uma previsão exata.

O governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), decretou emergência por causa do apagão e anunciou a criação de um plano de emergência. Um dos objetivos é contratar mais rapidamente serviços de distribuição de água. O documento é válido por 90 dias.

Apenas três municípios do estado —Oiapoque, Laranjal do Jari e Vitória do Jari— não foram afetados, porque são abastecidos por sistemas independentes.

Corrida por água potável

Com a falta de energia, a Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa) enfrenta dificuldades para abastecer as torneiras das casas. A escassez tem gerado uma correria em pontos de vendas de água. O preço do garrafão de 20 litros teria aumento de R$ 5 para R$ 15 em Macapá.

Fila para comprar água vira a esquina, em Macapá - Arquivo pessoal/Carolina Lazameth - Arquivo pessoal/Carolina Lazameth
Fila para comprar água vira a esquina, em Macapá
Imagem: Arquivo pessoal/Carolina Lazameth

"Já está faltando garrafa de água e gelo em alguns pontos. Além disso, não tem distanciamento social e fica todo mundo pertinho um dos outros nas filas", disse a jornalista Alyne Kaiser.

Para amenizar o problema, desde a noite de quinta-feira (5), a prefeitura de Macapá distribui água em carros-pipas em diversos pontos da cidade. Cinco escolas municipais estão abertas também para distribuir água.

Um vídeo gravado ontem mostra uma aglomeração —com algumas pessoas sem máscaras— em frente a um supermercado no bairro Buritizal, na zona sul de Macapá. Elas estavam compartilhando uma tomada para recarregar a bateria dos celulares.

Não é difícil encontrar filas em frente de mercados, postos de combustíveis e até nos shoppings. "Todos os dias as pessoas se aglomeram para comprar alimentos, pois perderam a reserva da geladeira, e para recarregar celular e outros eletrônicos", escreveu a servidora pública Heluana Quintas nas redes sociais.

Em conversa com o UOL, ela disse que o bairro onde mora, no centro, também permanece sem energia. Heluana decidiu ir até Santana, a 17 quilômetros de Macapá, para usar eletrônicos que estavam desacarregados. "Eu carrego o celular no carro. Mas ontem fui em Santana e pude carregar o celular numa casa que fica perto do hospital. Como no hospital tem energia, a casa tinha também e eu pude carregar os equipamentos", contou.

Sem energia em casa, moradores de Macapá fazem fila dentro de shopping - Arquivo pessoal/Heluana Quintas - Arquivo pessoal/Heluana Quintas
Sem energia em casa, moradores de Macapá fazem fila dentro de shopping
Imagem: Arquivo pessoal/Heluana Quintas

Ela também relata filas nos postos de combustíveis —isso porque muita gente está usando o carro por causa do ar-condicionado e para recarregar os eletrônicos.

Sem dinheiro, moradores vão para o "caderninho"

Caixas eletrônicos deixaram de funcionar ou estão sem sistemas por causa da oscilação da internet, segundo relatos ouvidos pelo UOL. Como não é possível sacar nem usar cartão de débito ou crédito, a alternativa foi recorrer ao fiado nas mercearias de bairros.

"Um amigo tem uma mercearia e anota no caderninho dele. Não podemos estocar comida perecível porque não tem geladeira, então fica uma situação extremamente complicada, indo todo dia ao mercado", disse o servidor público Ruy Smith. "Instalei um gabinete de crise em casa. Racionamos comida e uso da água. Como não tem previsão, não tem como a gente se planejar."

O empresário Euder Santos, de 39 anos, tem gráfica e reclama que o apagão está causando prejuízo. A previsão era aumentar a produção na reta final de campanha eleitoral, com a impressão de materiais gráficos dos candidatos. Mas ele teve que dispensar oito funcionários enquanto não tem energia elétrica.

"A eleição era o momento que a gráfica esperava após a pandemia para driblar o prejuízo de cinco meses parados. Contratamos funcionários, investimos em máquinas para suprir a demanda. Agora, na reta final, esse acidente deixa um prejuízo imensurável com a compra de papel, lona e adesivos", lamenta.