Topo

PM fazia "bico" em sua 1ª noite como segurança no Carrefour, diz advogado

Flávio Ilha

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

20/11/2020 14h32Atualizada em 20/11/2020 15h57

O policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, 25, foi notificado nesta sexta-feira (20) pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul para apresentar, num prazo de três dias, sua defesa no caso do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40, na noite de quinta-feira (19), no supermercado Carrefour da zona norte de Porto Alegre. O policial fazia bico como segurança no local, contratado pela empresa Vector.

Silva, que está preso no quartel-general da PM (Polícia Militar) em Porto Alegre, é temporário desde setembro de 2018 e não tem treinamento específico para funções de segurança. O UOL apurou que o acusado é oriundo do Exército e não tinha outros antecedentes por agressão. O PM está lotado no Departamento de Comando e Controle Integrado da Secretaria da Segurança Pública gaúcha.

Este tipo de serviço, os "bicos", não são permitidos a policiais militares, mesmo na situação de Silva como temporário. Além disso, vigilantes de empresas de segurança devem ser registrados pela Polícia Federal.

O advogado contratado pela família do acusado para defender Silva disse que o homem não tem antecedentes e é considerado uma pessoa calma e tranquila pelos amigos. "Tem namorada, faz curso superior, uma vida simples", definiu Deivid Leal da Silva. O advogado se encontrou nesta manhã com Silva, que está detido no Batalhão de Polícia e Guarda (BPG) da Brigada Militar acusado de homicídio triplamente qualificado.

Segundo o defensor, Silva foi agredido pela vítima antes das agressões. O advogado está buscando circuitos de imagem que mostrem a agressão. O PM fazia bico como segurança no supermercado e, de acordo com o advogado de defesa, era a primeira noite em que o PM atuava no local.

O PM também foi microempreendedor individual até 2018 na empresa Gaspar, antes de ingressar na corporação. Na Receita Federal, a empresa consta como "baixada", ou seja, sem atividade comercial. No registro não há informação sobre a atividade principal e nem o endereço.

"A família está em estado de choque, com medo de reações violentas. São pessoas simples, não merecem passar por isso", disse o advogado. O defensor informou que pediu acesso ao flagrante feito pela polícia, mas ainda não recebeu a documentação.

João Alberto Silveira Freitas e a esposa, Milena Borges Alves (e); ele foi espancado em uma loja do Carrefour em Porto Alegre e morreu - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Alberto Silveira Freitas e a esposa, Milena Borges Alves (e); ele foi espancado em uma loja do Carrefour em Porto Alegre e morreu
Imagem: Arquivo pessoal
Brigada Militar deve expulsar o policial envolvido na morte

O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Rodrigo Mohr, afirmou que a expulsão de Silva da tropa é um fato praticamente irreversível.

"Como é temporário, pode ser demitido a qualquer momento, apesar de ter direito à ampla defesa. O crime em si já nos habilita para tomar as medidas de exclusão. Sobre o que houve, não se pode dizer que foi uma abordagem. O caso estava resolvido, o homem estava no estacionamento e os seguranças deveriam aguardar apenas a chegada da Brigada Militar. Não precisavam mais fazer a contenção, muito menos agredir e nem mesmo imobilizar", ressaltou.

Os PMs temporários ingressam na Brigada Militar por meio de uma seleção especial, voltada justamente para egressos das Forças Armadas. Eles atuam por um período de dois anos, renováveis por mais dois, e recebem o soldo inicial da corporação, que é de R$ 3,7 mil.

Os PMs são contratados para funções específicas, principalmente administrativas e internas. Também podem atuar na guarda externa de presídios. Como são selecionados apenas para funções administrativas, os temporários não podem usar uniforme militar ou arma.