Polícia Federal faz operação contra desvios de produtos nos Correios do RJ
A Polícia Federal realiza na manhã de hoje a operação Replicante, que visa a desarticulação de um esquema de fraudes e desvios de encomendas nos Correios, no Rio de Janeiro. Ao todo, nove mandados de busca e apreensão são cumpridos com auxílio de 50 policiais.
Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio e estão sendo cumpridos nos bairros de Bento Ribeiro, Campinho, Coelho Neto, Engenho da Rainha, Madureira, Piedade e Tomás Coelho, além do próprio Centro de Distribuições dos Correios, em Benfica — maior centro de distribuição de encomendas da empresa, localizado na zona norte da cidade.
De acordo com a PF, as investigações começaram em janeiro do ano passado e apontaram que funcionários dos Correios do CTE de Benfica selecionavam encomendas de alto valor, como celulares e outros eletrônicos, e as desviavam dos Correios através da troca de etiquetas. Ao todo, os desvios podem chegar a R$ 1 milhão.
"O esquema criminoso envolvia a substituição de etiquetas verdadeiras — que continham dados da entrega — por etiquetas falsas. O grupo utilizava número de postagens já utilizadas para elaborar as falsas etiquetas (...), fazendo com que as encomendas aparentemente desaparecessem do fluxo postal", explicou a PF em nota.
Dessa maneira, a quadrilha destinava as encomendas para membros de organizações criminosas que mantinham um grupo de troca de mensagens via aplicativo chamado de "empresas e negócios", onde eram discutidas as fraudes e as vendas dos artigos desviados.
Os investigados responderão pelos crimes de organização criminosa e peculato, além de outros crimes que possam surgir no decorrer das investigações.
O delegado da PF, Hylton Coelho, disse que foram identificadas 12 pessoas que participavam do esquema de desvios de mercadorias. Pelo menos, seis delas trabalhavam nos Correios e cada uma tinha uma função na organização criminosa.
"Tinha gente com cargo de chefia, de coordenação e de chão de fábrica que fazia o trabalho de colagem das etiquetas (...). Havia um grupo menor formado por funcionários e gente de fora que fazia as etiquetas e dividiam o dinheiro arrecadado. Tinha gente que selecionava as mercadorias mais interessantes", descreveu.
De acordo com o delegado, a colocação das notas fiscais do lado de fora da mercadoria facilitava a identificação do produto. As mercadorias mais visadas eram celulares e notebook, mas até uma bicicleta de fibra de carbono chegou a ser desviada.
"Nós só conseguimos rastrear com toda certeza aquele material que tinha endereço das pessoas conhecidas no esquema e fizemos as contas pelos extravios que havia neste momento", acrescentou Coelho.
Denúncias dos próprios funcionários
O grupo de WhatsApp montado pela quadrilha foi formado em 2018. Em 2019, duas pessoas foram presas suspeitas de integrarem o grupo que desviava os produtos. A partir dos celulares apreendidos dos dois detidos, a PF conseguiu obter mais detalhes do esquema.
Também segundo o delegado, os próprios funcionários dos Correios notaram as etiquetas sobrepostas e denunciaram as irregularidades. A PF informou que as investigações contaram com o apoio da estatal.
Não houve mandado de prisão, apenas de busca e apreensão. Um dos mandados precisou ser cancelado devido ao fato de o alvo residir próximo a uma comunidade do Rio.
"Ele [alvo do mandado de busca e apreensão] mora no acesso de uma favela perigosa, teríamos que fazer uma operação com a PM para tomada dessa favela, para depois poder fazer a busca e MP [Ministério Público] achou melhor suspender o cumprimento desse mandado, por conta da decisão do STF de não operar em favelas, a não ser com extrema necessidade."
O que dizem os Correios
Procurado, os Correios disseram que trata-se de ação conjunta, realizada entre os Correios e a PF, por meio de fornecimento de informações ao órgão de segurança".
"Os Correios continuam colaborando com as autoridades e consideram inaceitável a conduta de empregados que venham a agir contra os valores defendidos pela empresa. Por essa razão, a estatal adota, de imediato, todas as medidas disciplinares que os casos requerem", concluiu a empresa através de nota.
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