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Rio: Homem morre baleado na Cidade de Deus; moradores acusam PM

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

04/01/2021 12h26Atualizada em 04/01/2021 20h51

Um homem morreu baleado na manhã de hoje na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro. Moradores da comunidade dizem que Marcelo Guimarães, 38, foi atingido por uma bala de fuzil disparada pela PM (Polícia Militar) quando ele seguia para o trabalho e acusam os agentes de omissão de socorro. Em nota, a PM confirmou a morte, mas disse que o homem, que trabalhava em uma marmoraria, foi atingido durante uma troca de tiros entre policiais e bandidos, iniciada pelos criminosos (leia mais abaixo).

De acordo com a família, Marcelo tinha deixado o filho, de 5 anos, numa escolinha de futebol, na Gardênia Azul, na mesma região, e voltava para casa de moto para pegar o celular e seguir para o trabalho quando foi atingido.

Em um vídeo gravado por moradores, que começou a circular nas redes sociais, é possível ver um veículo blindado deixando o local.

Por volta das 11h20, o corpo de Marcelo Guimarães foi retirado por um veículo da Defesa Civil e levado para o Instituto Médico Legal. A Polícia Civil já realizou uma perícia no local e agora busca por testemunhas para tentar esclarecer o caso.

"Foi uma covardia", diz mãe de Marcelo

Além do menino de 5 anos, Marcelo deixa outra filha, de 19. A mãe da vítima, Angélica Francisca Guimarães, 59, falou com o UOL sobre a perda do filho.

Eu estou muito abalada, o que eu vou falar para o meu netinho? Eles mataram meu filho à queima-roupa. Ele trabalhava muito para construir a vida dele. Foi uma covardia o que eles fizeram. Nós moradores de comunidades vivemos no medo, eu perdi meu filho, mas sei que outras mães também vão passar por isso
Angélica Francisca Guimarães, mãe de Marcelo

"Meu filho tinha acabado de matricular o filho na escolinha de futebol, no sábado, eles estavam muito animados. Ele esqueceu o celular em casa e voltava para pegar e ir trabalhar. Eles nem pararam para ver quem ele era. As pessoas aqui da Cidade de Deus reclamam todos os dias do medo que tem de passar por aqui. Isso não pode ficar assim, eu quero justiça", completou.

A filha de Marcelo lamentou a morte do pai no Twitter. "Eu, minha mãe, meu irmão, famílias e amigos não estamos aguentando com tanta dor."

Uma comerciante, amiga da família que pediu para não ser identificada, conversou com o UOL e lamentou a morte de Marcelo. Ela ainda fez um desabafo sobre a violência nas comunidades do Rio.

"A gente abre o ano na comunidade dessa forma, infelizmente. A gente espera que não haja mais nada como isso em 2021, queríamos ter esperança, queríamos viver em paz. O Marcelo era uma pessoa do bem, trabalhador e aconteceu isso. Ele trabalhava em uma marmoraria aqui perto, nunca fez mal a ninguém", disse.

"A arma de fogo é um perigo nas mãos de quem não sabe usar. Já teve o caso da menina Alice de 5 anos na noite do Ano Novo e agora aconteceu aqui na Cidade de Deus. Os policiais nem ajudaram ele, não deixaram a gente socorrer ele, foram omissos, como sempre são em comunidades. Queremos justiça pela morte do Marcelo. Que a família seja muito forte agora", acrescentou a moradora.

Linha amarela liberada

Moradores fazem barricada como protesto pela morte de homem na Cidade de Deus - Reprodução/GloboNews - Reprodução/GloboNews
Moradores fazem barricada como protesto pela morte de homem na Cidade de Deus
Imagem: Reprodução/GloboNews

A morte de Marcelo causou revolta na comunidade. Após o ocorrido, o clima ficou tenso na região e algumas pessoas tentaram fechar as ruas.

Moradores colocaram barricadas feitas com móveis na Linha Amarela, uma das principais vias expressas da cidade, como protesto pela morte de Marcelo.

O Centro de Operações do Rio informou que a Linha Amarela permaneceu fechada no sentido Fundão por alguns minutos, deixando o trânsito caótico na região. Por volta das 12h50 a Linha já estava liberada. A PM acompanha a ação.

PM vai abrir procedimento interno

Segundo a PM, as equipes do 18º BPM (Jacarepaguá) realizavam policiamento na Av. Edgard Werneck quando criminosos atiraram contra os policiais de dentro da Comunidade Cidade de Deus, gerando confronto.

Ainda em nota, a corporação informou que "um mototaxista foi atingido no local e não resistiu". Apesar das informações inicialmente divulgadas pela PM, na verdade Marcelo trabalhava em uma marmoraria da Cidade de Deus. Depois, a corporação retificou a informação.

Além das investigações por parte da Polícia Civil, a Polícia Militar informou que um Inquérito Policial Militar foi aberto.

Leia abaixo a nota da PM na íntegra:

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na manhã desta segunda-feira (4/1), equipes do 18º BPM (Jacarepaguá), que reforçam o policiamento nas imediações da Comunidade Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, foram atacadas por disparos de arma de fogo realizados por criminosos de dentro da comunidade quando baseadas na Av. Edgard Werneck.

Os policiais reagiram à injusta agressão e cessaram o ataque. No momento da ação, um motociclista que passava pelo local foi atingido. Infelizmente, a vítima não resistiu aos ferimentos.

Ressaltamos que o policiamento já vem sendo reforçado na região, inclusive com emprego de um veículo blindado, desde a semana passada, visando estabilizar o perímetro por conta de um conflito entre grupos de criminosos rivais pelo controle territorial. Nestes dias, as equipes policiais já foram alvo de outros ataques armados por parte destes criminosos.

No momento, equipes do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA) reforçam o policiamento em toda a região em apoio ao 18º BPM. Um Inquérito Policial Militar (IPM) será aberto para apurar as circunstâncias do fato.

Paralelamente, a Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso.