RS: Multa ao Santander por fechamento do Queermuseu bancará Parada LGBTI+
Parte da multa pelo fechamento da exposição Queermuseu em Porto Alegre, em 2017, vai custear a Parada Livre LGBTI+ deste ano e das edições de 2022 e 2023 na capital gaúcha. O evento presencial foi cancelado no ano passado devido à pandemia do coronavírus, mas as entidades que o organizam já se preparam para a edição em 2021.
A mostra foi cancelada pelo Santander Cultural um mês depois da abertura, devido a protestos de grupos conservadores que consideraram o conteúdo imoral, ofensivo e incentivador da zoofilia e da pedofilia. A exposição acabou ocorrendo no Rio de Janeiro quase um ano depois.
A data da Parada não está definida. Segundo o vice-coordenador do grupo Nuances, Célio Golin, a ideia é realizar o evento entre o final de novembro e o começo de dezembro. A entidade, que é uma das organizadoras do evento, contudo, condiciona a realização da Parada à imunização contra o coronavírus. Caso a vacinação não esteja avançada, a Parada pode não acontecer neste ano.
"Se a gente avaliar que o coronavírus ainda é um problema ou a depender dos protocolos dos órgãos estaduais sobre aglomerações, a gente não vai fazer", afirma Golin. Em dezembro do ano passado, o grupo já havia cancelado um passeio ciclístico por conta do risco de reunir muitas pessoas.
A organização da Parada LGBTI+ pretende se reunir em fevereiro para começar a planejar o evento. Inicialmente os encontros serão virtuais.
Ainda não se sabe se a Prefeitura de Porto Alegre vai auxiliar financeiramente na realização da Parada Livre (leia mais abaixo). O UOL procurou a Secretaria de Esporte, órgão ao qual a Coordenação de Diversidade Sexual e de Gênero é ligada, porém a assessoria informou que a pasta passa por reestruturação e não se sabe se a divisão vai permanecer na secretaria.
Parada vai receber R$ 150 mil
Ao todo serão destinados R$ 50 mil por edição da Parada, o que totaliza R$ 150 mil. O valor é parte da indenização estabelecida em acordo entre o Santander e o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPF-RS) de R$ 400 mil, que já foi paga pelo banco. O restante dos recursos será destinado a projetos na área dos direitos humanos.
O MPF atuou no caso porque a mostra tratava de uma minoria e consumiu verbas federais por meio da Lei Rouanet. Para o MPF, o encerramento da exposição trouxe impacto negativo "tanto em relação à liberdade artística, quanto em relação à diversidade".
O uso dos R$ 150 mil para a Parada foi solicitado em outubro de 2019 por 18 entidades diferentes ao MPF. Em fevereiro do ano passado, o procurador da República Enrico Rodrigues de Freitas aceitou o pedido e observou que a utilização do dinheiro no evento "beneficia toda a coletividade LGBTI+, principal grupo afetado em razão do encerramento da exposição Queermuseu", escreveu o representante do MPF.
A destinação do recurso ao evento, ainda segundo o procurador, atende a uma das cláusulas do acordo que diz que o valor será empregado em "atividades artísticas, culturais, projetos e financiamento de ONGs e entidades da sociedade civil e ou de atividades por estas desenvolvidas, sempre de forma a desenvolver preferencial ou exclusivamente a temática da exposição cujo encerramento se deu de forma antecipada".
Indefinição na gestão atual
Desde 2017, a Parada Livre não recebe recursos públicos. Na época, o prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB) cortou a verba para eventos sob a justificativa de falta de caixa. Desde então, a organização precisou ir atrás de outras fontes para bancar os custos de palco, luz, trio elétrico, sistema de som, banheiro químico, entre outras estruturas.
Ainda teve de pagar à prefeitura taxas de limpeza, de uso do Parque da Redenção e de permanência da Guarda Municipal. Os valores ultrapassam R$ 7.000, conforme Golin.
Com a posse de Sebastião Melo (MDB), ainda não se sabe sobre o aporte financeiro. "A gente não sabe se a prefeitura vai dar infraestrutura", diz Golin.
Em 2019, foram gastos mais de R$ 60 mil na Parada Livre, que reuniu mais de 50 mil pessoas, segundo Golin.
Projetos de direitos humanos
Além do financiamento da Parada Livre, o MPF também abriu um edital para selecionar projetos, ações e atividades que incentivem o respeito aos direitos humanos. As inscrições das iniciativas ocorrem entre 14 de janeiro a 5 de março no link www.eusourespeito.com. Serão destinados mais de R$ 200 mil, com limite de R$ 40 mil por projeto.
As iniciativas devem atender a uma das quatro categorias: defesa de direitos e acesso à Justiça; educação em direitos humanos; memória e liberdade de expressão; e artes. O limite para a finalização da ação é em 15 de dezembro de 2021.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.