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Costureira que montou varal solidário de máscaras morre de covid-19 em SP

Maria Ruiz Vertuan costurava máscaras a quem não tinha condição de comprá-las na cidade de Jaú (SP) - Acervo pessoal
Maria Ruiz Vertuan costurava máscaras a quem não tinha condição de comprá-las na cidade de Jaú (SP) Imagem: Acervo pessoal

Felipe de Souza

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

29/01/2021 20h16

A morte de Maria Ruiz Vertuan, 72, ainda repercute em Jaú (SP), a cerca de 300 km de São Paulo. A costureira, que começou a produzir máscaras e pendurá-las em um varal em frente à sua casa para ajudar quem não tinha condições de comprar os equipamentos de segurança contra o novo coronavírus, não resistiu à covid-19.

A idosa começou a produzir as máscaras logo depois das primeiras medidas de isolamento social, em março. Costureira desde os 12 anos, ela viu o número de pedidos cair.

Para o filho, o mais doído foi não ter a chance de ter um velório. O corpo foi enterrado na última terça-feira.

"Ela estava começando a ficar com depressão, não fazia nada. Se sentia inútil. Eu ficava muito preocupado com ela. Até que ela resolveu montar o varal para ajudar quem precisava", lembra o filho Carlos Roberto Vertuan, 46, em entrevista ao UOL.

O ato de solidariedade se espalhou na cidade que tem pouco mais de 150 mil habitantes. Maria começou a distribuir kits com três máscaras dentro de um saquinho plástico em um varal improvisado na frente da casa dela, no Jardim Santa Helena.

Como muita gente começou a retirar os equipamentos de proteção, ela reduziu para duas máscaras por kit, para dar conta da produção.

"Eram umas 30 ou 40 máscaras que ela produzia por dia. Não parava um minuto sequer", conta o filho.

Varal de máscaras Jaú - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Filho diz que Maria se incomodava com pessoas de mais condições pegando as máscaras que distribuía
Imagem: Acervo pessoal

Três meses depois, conta o filho, a mãe parou de fazer as máscaras. "Ela estava brava, dizia que vinha gente com carro de luxo aqui na porta da casa para pegar máscara de graça, sendo que era para quem não tinha condição. Ela deixou de fabricá-las, mas tinha uma sensação de dever cumprido", acrescenta.

Doença rápida e violenta

Vertuan contou que Maria reclamou de um mal-estar no dia 13. Os parentes aguardaram os cinco dias necessários para analisar se havia a possibilidade da contaminação por covid-19. No dia 17, foi levada a uma unidade de saúde para fazer o teste.

Porém, o resultado não chegava. No dia 24, Maria foi levada ao hospital novamente, com os sintomas piorados.

Na segunda-feira (25), a idosa foi transferida à UTI, intubada. Foi só nesse dia que os parentes receberam o diagnóstico positivo. No dia seguinte, a idosa morreu.

O corpo de Maria foi enterrado no mesmo dia, sem velório, no Cemitério Municipal de Pederneiras (SP), onde tinha parentes.

Carlos teve a doença em novembro, mas garante ter cumprido a quarentena de forma rigorosa em casa.

"Ela só ficava comigo, minha esposa e minha filha, que moramos na casa ao lado. Minha mãe saía só para ir à farmácia e ao médico. Não acreditamos que aconteceu com a gente", disse o filho.

O filho disse que Maria estava feliz com a possibilidade de ser vacinada. "Ela sempre falava da vacina, agora que começou a chegar ela estava esperançosa, sempre repetindo para minha filha frases como 'logo estou vacinada', 'vou poder voltar à rotina normal'. Infelizmente, isso não foi possível", lamenta.