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SP: Menino mantido em barril viu Réveillon por 'buraco' na parede

Trecho de vídeo mostra momento em que menino é retirado de barril, em Campinas (SP). Ele estava amarrado pelos braços e pernas - Reprodução/Polícia Militar
Trecho de vídeo mostra momento em que menino é retirado de barril, em Campinas (SP). Ele estava amarrado pelos braços e pernas Imagem: Reprodução/Polícia Militar

Felipe de Souza

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

31/01/2021 11h57Atualizada em 01/02/2021 12h11

O menino de 11 anos que foi encontrado ontem preso em um barril em uma casa da periferia de Campinas, no interior de São Paulo, disse ter visto a virada do ano por um buraco na parede, criado para que ele pudesse respirar.

O relato foi feito à equipe de enfermagem do Hospital Ouro Verde, onde o garoto segue internado com quadro de desidratação severa. Uma jovem que estava no hospital no momento que o menino chegou contou ao UOL que ouviu ele conversando com as enfermeiras e disse que era mantido no barril vários dias, não seguidos.

Ele disse que viu os fogos de artifício da virada do ano pela fresta à qual ele tinha acesso, mas dentro do barril."

Segundo o 2º sargento Mike Jason, que acompanhou a ocorrência na tarde de ontem, a criança era mantida dentro de um "cubículo" de tijolos, fechado por cima por uma telha ondulada de fibrocimento e uma pedra de mármore, para evitar que ele escapasse do local.

"Quando chegamos, tivemos que usar ferramentas para cortar cabos que o mantinham amarrado. Era uma construção que ficava no topo do barraco, sujeito ao sol —e fazia muito calor quando chegamos, e também à chuva", disse ao UOL.

Conselho Tutelar assume falha no acompanhamento

Em entrevista coletiva na tarde de hoje, o conselheiro tutelar Moisés Sesion afirmou que houve uma falha no acompanhamento do menino.

Ele, que se disse chocado com o caso, explicou que, assim que o Conselho recebe uma informação de que uma família está em situação de vulnerabilidade, encaminha o caso para órgãos responsáveis.

No caso do menino, ele é acompanhado por profissionais ligados ao Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) e o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (Caps-IJ), para a avaliação de uma possível doença psiquiátrica.

Não há nenhum diagnóstico que confirme que o garoto esteja doente. Pode ser hiperatividade normal da idade. Mas, houve uma falha grande em deixar a situação chegar onde chegou."
Moisés Sesion, conselheiro tutelar

Situação ocorria há 7 anos

A polícia apurou que o garoto era mantido em situações similares há pelo menos sete anos, quando foi adotado pela família. A mãe biológica, supostamente uma usuária de drogas, afirmava que o homem era o pai biológico do garoto. Um teste foi feito na época, constatando que não era verdade.

Mesmo assim, a mãe abandonou o menino com este homem, e ele foi adotado, segundo apuração, pelas vias oficiais.

O pai adotivo, a mãe e a filha do casal foram levados à 2ª Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas. Os depoimentos duraram cerca de quatro horas.

O UOL apurou que eles contaram a mesma versão dada aos policiais militares no momento do resgate. O menino teria um problema psiquiátrico e tinha "surtos". Para controlá-los, a decisão foi colocá-lo em um barril para que se acalmasse.

O garoto disse à equipe de enfermagem que o pai jogava água sanitária e água fria para dar banho nele. Aquilo me fez chorar."
Membro da equipe de saúde que acompanha o caso

Até o fechamento desta reportagem, não havia um boletim oficial sobre o estado de saúde do garoto.

Mas fontes disseram que ele está "bem, na medida do possível". Ontem se alimentou com comida, e agora está no soro para sair do estado de desidratação extrema. A alta hospitalar só deve ser dada depois que ele estiver em um peso considerado "ideal".

Exames de urina e sangue foram colhidos, mas os resultados ainda são desconhecidos.

A família do garoto foi indiciada por tortura —mãe e filha por omissão. A pena pode variar de dois a oito anos de prisão. Os três estão à disposição da justiça. A Polícia Civil não informou para quais unidades prisionais eles foram levados.