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Tenente-coronel é chamado de macaco enquanto dá palestra sobre racismo

Oficial da PM sofreu ataques racistas durante palestra online em que falava justamente sobre racismo - Reprodução
Oficial da PM sofreu ataques racistas durante palestra online em que falava justamente sobre racismo Imagem: Reprodução

Ed Rodrigues

Colaboração para o UOL, em Recife

10/02/2021 11h31Atualizada em 10/02/2021 15h43

Um oficial da Polícia Militar de São Paulo sofreu um ataque racista durante conferência online internacional. O evento, promovido pelo Instituto de Relações Internacionais da USP, seguia seu cronograma quando um dos slides do tenente-coronel Evanilson de Souza foi alterado e mostrado com a palavra "macaco". Segundo a PM, o oficial registrará um Boletim de Ocorrência.

O oficial lidera um programa de combate ao racismo dentro da Polícia Militar. Sua participação na conferência tratava exatamente sobre esse tema.

O ataque ocorreu em um momento de compartilhamento de tela. Um dos participantes aproveitou a situação para desenhar figuras obscenas e escrever as ofensas.

O tenente-coronel Evanilson comanda o 11º Batalhão da PM de São Paulo e também é membro do grupo revisor do Manual de Direitos Humanos da corporação. Foi por causa de seu conhecimento sobre o tema que recebeu o convite para palestrar na conferência.

Procurado, o oficial detalhou a invasão virtual. "Primeiro, interromperam com áudios que deixaram minha fala inaudível. Depois, começaram a fazer uma pichação nos slides que eu tinha compartilhado. Interrompemos a transmissão e eu avisei aos alunos que aquilo era um ataque cibernético", contou o militar ao UOL.

O tenente-coronel aproveitou a agressão para mostrar aos alunos como certas intolerâncias raciais ocorrem. "Aquilo foi um exemplo de um ataque de ódio à comunidade negra. Um ataque de racismo", continuou o comandante.

"Como os técnicos não conseguiram evitar o entra e sai no ambiente virtual, nós tivemos que migrar para outra plataforma", disse Evanilson de Souza.

A USP (Universidade de São Paulo) afirmou em nota que o curso está sendo ministrado para um público de mais de dois mil alunos, entre agentes de Segurança Pública de todos os estados brasileiros e países vizinhos da América do Sul.

"O convidado iria fazer uma exposição sobre o programa e os desafios para o combate ao racismo no contexto da atividade policial. Às 17h26, um usuário começou a hostilizar o palestrante com termos racistas, chegando inclusive a tomar o controle da apresentação e rabiscar tais termos na tela compartilhada", disse o comunicado.

A USP revelou ainda que outro usuário apareceu no chat disparando injúrias racistas e foi retirado. A instituição destacou que repudia a prática e que considera as agressões como um crime inaceitável.

"Os coordenadores do curso enviaram denúncia ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa e o registro de ocorrência está sendo feito na delegacia da área", concluiu a nota.

Já a Polícia Militar de São Paulo disse que se solidariza com o comandante e que repudia os ataques sofridos por ele. A corporação ressaltou que é "contra toda forma de discriminação étnico-racial".

Confira a íntegra da nota da PM

A Polícia Militar do Estado de São Paulo vem a público repudiar veementemente os ataques com ofensas raciais e mensagens de ódio praticadas contra o Tenente-Coronel PMESP Evanilson de Souza durante sua conferência virtual no Curso de Segurança Multidimensional das Fronteiras, organizado pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), nesta terça-feira (9/2).

Como membro do grupo revisor do Manual de Direitos Humanos da Polícia Militar do Estado de São Paulo e profundo conhecedor da matéria, o Tenente Coronel Souza foi convidado pela organização do curso para, justamente, expor o programa da PMESP de combate ao racismo quando, logo no início da exposição, sofreu ataque cibernético que comprometeu desenvolvimento do trabalho.

Assim, a Polícia Militar se solidariza à vítima e reforça sua posição contra toda forma de discriminação étnico-racial e na missão perene de promover os Direitos Humanos no estado.

O Tenente Coronel Souza, irá elaborar o Boletim de Ocorrência na delegacia de polícia a cerca dos fatos.

Se você for vítima de racismo ou conhecer alguém que seja, não fique calado. Disque 190 e denuncie. Racismo é crime.